Publicado em 8 de janeiro de 2024 às 16:49
BRASÍLIA - O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes afirmou nesta segunda-feira (8), data que marca um ano da invasão às sedes dos três Poderes, que a democracia não permite a confusão entre paz e união com impunidade, nem entre apaziguamento com esquecimento.>
Moraes disse que a democracia venceu a "frustrada tentativa de golpe de Estado", homenageou a presidente do tribunal à época dos ataques, a ministra aposentada Rosa Weber, e fez um duro discurso defendendo a regulamentação das redes sociais.>
"O fortalecimento da democracia não permite confundirmos paz e união com impunidade, apaziguamento ou esquecimento. Impunidade não representa paz nem união. Todos, absolutamente todos aqueles que pactuaram covardemente com a quebra da democracia e a tentativa de instalação de um estado de exceção, serão devidamente investigados, processados e responsabilizados na medida de suas culpabilidades. Apaziguamento também não representa paz nem união.">
"Hoje também é o momento de olharmos para o futuro e reafirmarmos a urgente necessidade de neutralização de um dos grandes perigos modernos à democracia: a instrumentalização das redes sociais pelo novo populismo digital extremista. A necessidade de uma moderna regulamentação, como vem sendo discutido no mundo todo democrático", completou.>
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A declaração do ministro foi dada durante o ato proposto por Lula (PT) para marcar um ano da invasão ao Palácio do Planalto, Congresso e Supremo. O evento foi batizado de "Democracia Inabalada", mote da campanha lançada pelo STF após o ataque golpista.>
Autoridades fizeram a reapresentação simbólica da tapeçaria de 1973 de Burle Marx que fica exposta no Salão Negro do Congresso. Em 8 de janeiro, a obra foi rasgada e suja de urina por vândalos. A peça foi recuperada por um ateliê de São Paulo em outubro ao custo de R$ 250 mil.>
Em seguida, Lula, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, seguraram o exemplar da Constituição que havia sido roubado por bolsonaristas. A réplica, recuperada pelas autoridades dias após os ataques, foi exibida por um dos golpistas na Praça dos Três Poderes.>
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, cantou o hino nacional, e um vídeo institucional com imagens da invasão e da reação das autoridades foi exibido. A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), foi escolhida para discursar em nome de todos.>
Mais cedo, em evento no plenário do STF para marcar a data, Barroso citou "falsos patriotas" e "aprendizes de terroristas" ao criticar os responsáveis pelos atos golpistas, mas discursou em defesa de pacificação.>
"Numa espécie de alucinação coletiva, milhares de pessoas, aparentemente comuns, insufladas por falsidades, teorias conspiratórias, sentimentos antidemocráticos e rancor, foram transformadas em criminosos, aprendizes de terroristas", disse.>
Já a ministra aposentada Rosa Weber, que estava na presidência do STF na época dos ataques, afirmou durante a cerimônia que sentiu tristeza profunda, desconsolo e indignação ao entrar no tribunal. A magistrada disse que a revolta, no entanto, se transformou em energia, diante da reação dos Poderes.>
"8 de janeiro de 2023 há de se constituir, para mim, como dia da infâmia", disse Weber, visivelmente emocionada. "A autoridade das instituições democráticas não está nos prédios, apesar da simbologia, e sim no espírito que as anima.">
Barroso marcou para o mês que vem o julgamento da cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal, que está presa. Sete pessoas, incluindo dois ex-comandantes-gerais, são acusadas de omissão.>
Moraes foi um dos principais articuladores da reação aos ataques de 8 de janeiro. Na ocasião, o ministro determinou o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), a prisão do então secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, e o fim dos acampamentos golpistas.>
Neste domingo (7), Moraes divulgou um balanço em que afirma que proferiu 6.204 decisões no âmbito das investigações sobre o episódio. Do total, 255 autorizaram medidas de busca e apreensão pela Polícia Federal e 350, quebras de sigilo.>
Embora criticado por parlamentares aliados a Jair Bolsonaro (PL) e simpáticos à extrema-direita, o ministro tem tido apoio da cúpula do Legislativo em relação aos golpistas. O presidente do Senado, por exemplo, tem defendido punição exemplar aos envolvidos.>
"Como presidente do Senado – que foi invadido, depredado, aviltado, no contorno de uma ameaça democrática muito forte –, não me cabia outra alternativa senão representar a Procuradoria-Geral da República", disse Pacheco à Folha de S.Paulo sobre a prisão de 39 pessoas em flagrante no Senado.>
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