Publicado em 7 de junho de 2024 às 19:41
BRASÍLIA E RIO DE JANEIRO - O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou nesta sexta-feira (7) a transferência do ex-policial militar Ronnie Lessa para o Complexo Penitenciário de Tremembé, em São Paulo. Preso desde março de 2019, atualmente ele está detido na Penitenciária Federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.>
Na mesma decisão, Moraes retirou o sigilo de arquivos da delação premiada do ex-policial militar, réu confesso pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018.>
O envio de Lessa para Tremembé contraria posicionamento anterior da Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo. Em ofício enviado em 12 de abril a Moraes, o secretário Marcello Streifinger afirma que a unidade não tinha capacidade de receber o ex-PM "em razão de seu perfil, antecedentes e ligações, bem como não há estrutura no sentido de manter o monitoramento indicado".>
O ofício indicava uma unidade em Presidente Venceslau como local mais apropriado para recebê-lo.>
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O acordo de Lessa com a PF, e homologado por Moraes, porém, mencionava expressamente a transferência para Tremembé. A demora no cumprimento do item fez com a defesa do ex-PM chegasse a pedir a anulação do contrato de colaboração. O pedido não foi aceito pelo ministro.>
Moraes autorizou a transferência "observadas as regras de segurança do estabelecimento prisional e mediante monitoramento das comunicações verbais ou escritas do preso com qualquer pessoa estranha à unidade penitenciária".>
Também deverá ser feito o monitoramento de visitas, enquanto não encerrada a instrução processual.>
O ministro destacou que os benefícios previstos na colaboração premiada dependem da eficácia das informações prestadas, "uma vez que trata-se de meio de obtenção de prova, a serem analisadas durante a instrução processual penal".>
"Isso, entretanto, não impede que, no presente momento, seja realizada, provisoriamente, a transferência pleiteada, enquanto ainda em curso a instrução processual penal", escreveu Moraes.>
O ministro também disse que tornou as peças públicas por causa de publicações jornalísticas com informações e trechos incompletos dos vídeos relativos às declarações prestadas pelo réu.>
A medida, segundo Moraes, teve concordância da Polícia Federal, que apontou não existir mais necessidade do sigilo para as investigações.>
A reportagem teve acesso à delação de Lessa e mostrou que o depoimento do ex-PM se concentrou apenas em casos nos quais ele já responde na Justiça. Ele negou ter sido contratado pelo ex-vereador Cristiano Girão para matar um miliciano, bem como negou ter atuado como segurança do bicheiro Rogério Andrade.>
Ele também disse ter participado do planejamento para a morte da então presidente da escola de samba Salgueiro Regina Céli. O ex-PM afirmou que o serviço faria parte de sua contratação junto à equipe de policiais ligados ao bicheiro Bernardo Bello.>
Em outro momento, Lessa afirmou que não trabalhava como assassino de aluguel. A frase foi dita aos investigadores durante o segundo depoimento que prestou para detalhar como foi convidado, segundo seu relato, pelos irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão para matar Marielle. Os irmãos negam.>
Na ocasião, Lessa disse que aceitou cometer o crime para se tornar sócio da família Brazão em uma milícia.>
"Então eu quero deixar claro, doutor, que, ali, eu não fui contratado para matar. Eu não sou um matador de aluguel. Eu fui contratado para ser sócio e para ocupar a área", afirmou.>
Lessa também disse em sua delação que o silenciador instalado na submetralhadora usada para matar Marielle e Anderson deve ter sido jogado no mar. Ele afirmou que esta era a única peça própria utilizada no crime.>
O ex-PM disse que o silenciador provavelmente estava entre as peças de armas que mantinha num apartamento no Pechincha, na zona oeste do Rio. As investigações apontam que pessoas ligadas a Lessa foram ao local um dia após a prisão dele, em março de 2019, para descartar possíveis evidências de crimes.>
"Eu acredito até que [o silenciador] poderia estar junto dessas peças minhas, porque ele sempre esteve no meio dessas peças. [...] Eu não posso garantir, mas existe muito a probabilidade de ter acontecido", disse aos investigadores.>
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