Publicado em 14 de fevereiro de 2019 às 20:43
O Ministério da Saúde confirmou o segundo caso registrado no país de doença neurológica pelo vírus da febre do Nilo Ocidental, tipo de arbovirose ainda pouco conhecida no Brasil.>
Assim como a dengue e a zika, o vírus da febre do Nilo Ocidental é transmitido por meio da picada de mosquitos infectados, principalmente do gênero Culex (pernilongo).>
O caso é de uma jovem que mora na zona rural de Picos, no interior do Piauí, e que sofreu um quadro de paralisia muscular flácida aguda em junho de 2017.>
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, os exames foram coletados na época, mas o ministério liberou os resultados apenas no início deste ano.>
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Os exames apontaram a presença de anticorpos contra o vírus no sangue da paciente. Em nota, a pasta atribui a demora à necessidade de laudos conclusivos.>
Esse é o segundo caso confirmado da doença no país. Até então, o Brasil só havia registrado um caso de febre do Nilo, ocorrido em agosto de 2014.>
O paciente, um vaqueiro de 52 anos de Aroeiras do Itaim, no interior do Piauí, foi internado na UTI à época após apresentar sintomas como febre, dor de cabeça, paralisia nos braços e pernas, confusão mental e rigidez na nuca.>
De acordo com Marcelo Adriano Vieira, neurologista do Instituto de Doenças Tropicais Natan Portela que acompanhou o caso, o paciente teve alta, mas ficou com sequelas, como dificuldades para andar.>
Já a jovem atendida em 2017 se recuperou completamente após o tratamento.>
Em nota, o Ministério da Saúde diz que a confirmação do segundo caso no Piauí "revela a recorrência da circulação do vírus do Nilo Ocidental na região e ressalta a importância das ações de vigilância e investigação para melhor compreensão da epidemiologia do vírus no país".>
Para Vieira, que também faz parte da equipe de vigilância da secretaria estadual de saúde do Piauí, a probabilidade é de que haja outros casos da doença.>
Dados da secretaria estadual de saúde apontam que, até o momento, exames de 32 outros casos suspeitos da doença tiveram resultado tido como "indeterminado".>
Segundo Vieira, o problema ocorre devido à dificuldade do diagnóstico, com possibilidade de reações cruzadas para vírus semelhantes.>
Outro fator, diz, é a tendência de que apenas casos graves sejam encaminhados às redes de saúde. Em geral, cerca de 80% das pessoas infectadas com o vírus do Nilo não apresentam sintomas, e menos de 1% apresentam sintomas graves.>
Nestes casos, o paciente apresenta febre alta, rigidez na nuca, desorientação, tremores, fraqueza muscular e paralisia. Também pode desenvolver encefalite ou meningite (inflamação das membranas do cérebro ou da medula espinhal).>
"Como a forma branda da doença é semelhante a várias outras arboviroses, dificilmente se pede um exame. Além disso, a forma grave, neurológica, é semelhante a outras causadas por vírus mais frequentes", afirma Vieira. "Isso faz com que alguns casos não sejam visualizados", informa.>
Atualmente, não existe tratamento específico para a febre do Nilo. Nos casos leves, é indicado repouso. Já nas formas graves, o paciente deve ser atendido em UTI em observação para suporte e controle de infecções secundárias.>
Transmitida pela picada de mosquitos infectados com o vírus a partir de aves migratórias infectadas, a febre do Nilo não "passa" pelo contato com outras pessoas ou animais.>
O vírus é transmitido por mosquitos comuns, principalmente do gênero Culex. Para isso, no entanto, é preciso o contato dele com uma ave infectada -diferente do Aedes aegypti, por exemplo, que pode picar um doente e passar a carregar o vírus. "No elo da transmissão, tem que ter uma ave selvagem", diz.>
Para Vieira, essa característica torna mais difícil que haja uma epidemia. Ele ressalta, no entanto, que um aumento na transmissão não pode ser desconsiderado -daí a necessidade de manter a vigilância.>
"Muitas vezes, o vírus não alcança nicho ecológico favorável à disseminação em larga escala como ocorreu nos Estados Unidos. Mas temos que ficar atentos, porque temos abundância de vetor, população suscetível e o Brasil é um país que recebe aves de migração", afirma.>
Outra expectativa é que, por ser um flavivírus, espécie de "parente" dos vírus da dengue, zika e chikungunya, parte da população brasileira esteja menos suscetível a formas graves da doença.>
Descrita inicialmente na África, a febre do Nilo manteve-se durante décadas restrita aos continentes europeu, africano e asiático, sendo registrada pela primeira vez nas Américas em 1999, de acordo com boletins do Ministério da Saúde.>
Dos Estados Unidos, o vírus se disseminou e atingiu o Canadá e o México. A suspeita é que esse avanço tenha ocorrido por aves silvestres.>
A situação fez o Brasil criar em 2003 um sistema de vigilância da doença, com monitoramento de possíveis sinais da circulação do vírus em cavalos e aves e vigilância de casos em humanos.>
O primeiro caso humano, porém, só foi confirmado em 2014. Na mesma época, exames realizados em aves e cavalos da região indicaram que estes animais também tiveram contato com o vírus.>
No ano passado, o vírus também foi detectado no cérebro de cinco cavalos que morreram após apresentar sintomas neurológicos no Espírito Santo. O estado, porém, não teve confirmação de casos humanos.>
O QUE É A FEBRE DO NILO OCIDENTAL?>
O vírus da Febre do Nilo Ocidental é transmitido por meio da picada de mosquitos infectados, principalmente do gênero Culex (pernilongo), mas também pelo Aedes aegypti.>
Estima-se que 20% dos indivíduos infectados pelo vírus da Febre do Nilo Ocidental desenvolvam sintomas, na maioria das vezes leves. A forma leve da doença caracteriza-se pelos seguintes sinais:>
- Febre aguda de início abrupto, frequentemente com mal-estar>
- Anorexia>
- Náusea>
- Vômito>
- Dor nos olhos>
- Dor de cabeça>
- Dor muscular>
- Exantema máculo-papular e linfoadenopatia>
Um em cada 150 indivíduos infectados desenvolve doença neurológica severa, como meningite. as formas mais graves atingem especialmente pessoas acima de 150 anos. A encefalite é o quadro mais comum entre as manifestações cerebrais. Em menos de 1% das pessoas infectadas o vírus causa uma infecção neurológica grave, incluindo inflamação do cérebro. A síndrome de Guillain Barré também pode se apresentar, assim como em outros tipos de infecção.>
Não existe vacina ou tratamento antiviral específico para a Febre do Nilo Ocidental. O tratamento é sintomático para redução da febre e outros sintomas. Para casos leves, analgésicos podem ajudar a aliviar dores de cabeça leves e dores musculares.>
Fonte: Ministério da Saúde>
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