Publicado em 1 de junho de 2022 às 18:16
A decisão do Comitê de Contingência da Covid-19 do governo paulista de recomendar o uso de máscaras em locais fechados foi uma medida correta, segundo infectologistas. Porém, para eles, as autoridades deveriam não apenas sugerir, mas obrigar o uso do item a fim de evitar a propagação do Sars-Cov-2.>
Nas últimas semanas, foi observada uma tendência de crescimento de casos. Dados da plataforma SP Covid-19 Info Tracker, criada por pesquisadores da USP e da Unesp com apoio da Fapesp para acompanhar a evolução da pandemia, mostram que a média móvel de novas internações (UTI e enfermaria) aumentou 74% no estado de São Paulo em três semanas. Foram comparados os dias 6 e 27 de maio, quando as médias alcançaram 176 e 306, respectivamente.>
O fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados foi anunciado pelo ex-governador João Doria (PSDB) em 17 de março. O item, no entanto, ainda é obrigatório no transporte público e em unidades de saúde.>
O anúncio da volta da recomendação ocorreu nesta terça-feira (31). Em nota, o governo disse que a decisão ocorre após ter se "verificado um crescimento no número de casos e hospitalizações, sem crescimento de óbitos proporcional graças à ampla cobertura vacinal do Estado de São Paulo referência e líder mundial em vacinação".>
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Nesta quarta (1º), a Prefeitura de São Paulo seguiu as orientações do governo e também anunciou apenas a recomendação do uso do equipamento.>
Diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Monica Levi diz que a nova recomendação confunde as pessoas. "Infelizmente, temos um país dividido em como entender e enfrentar uma pandemia. Porém, o interesse coletivo tem que prevalecer em relação a opiniões individuais", afirma.>
Para ela, é impossível realizar o controle de doenças infecto-contagiosas com base no bom senso. "É preciso que tenhamos diretrizes conforme os momentos da pandemia. É possível flexibilizar conforme as taxas baixas em lugares aberto, mas em fechados tem que ser obrigatório", disse Levi, que avalia que novas variantes têm elevado o número de casos e é preciso que "apertar medidas até que a Covid-19 se torne endêmica".>
A médica cita ainda que, além da Covid, nesta época do ano em que são registradas baixas temperaturas e tempo seco é comum que seja registrado o aumento de síndromes respiratórias. Assim, a máscara teria a capacidade de evitar não apenas a propagação da Covid, como de gripe e outras doenças sazonais.>
Médico e consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), Renato Grinbaum afirma que a decisão sobre a retirada de máscaras em locais fechadas foi prematura e "com embasamento científico precário". "Retornamos porque a pandemia não acabou", diz ele.>
Grinbaum apoia o uso obrigatório das máscaras em locais fechados. "As autoridades não querem mais ser incisivas na pandemia e estão transferindo para os indivíduos decisões referentes à saúde pública.">
Ele analisa que, apesar do aumento de número de casos, a situação epidemiológica não é tão grave quanto no ano passado. Porém, é necessário cuidado. "Falta também uma discussão do que fazer quando a pandemia acabar, como quais normas seguir e qual será o novo normal. Precisamos de uma transição não radical.">
André Ricardo Ribas Freitas, professor de epidemiologia da Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic, concorda que o uso do equipamento de proteção em ambientes internos nunca deveria ter deixado de ser obrigatório.>
"Ainda que essas medidas sejam tomadas agora, não me parece que serão impactantes porque não se trata de uma obrigatoriedade. As pessoas foram estimuladas a acreditar que a pandemia acabou, em decorrência da postura do estado, do governo federal e da falta da coordenação dessas ações", afirma ele.>
Para Freitas, deve acontecer um aumento de casos de influenza. "A gente vai enfrentar nas próximas semanas um aumento dos casos de influenza e vírus sincicial, o que pode causar um estrangulamento no sistema.">
"Por mais que não sejam casos muito graves, ainda temos uma quantidade de óbitos acima de média. Nós nos acostumamos a falar em centenas de mortes por Covid, mas isso não é normal", diz ele, que cita que há uma clara falta de coordenação unificada de estados.>
O professor também analisa que a atual situação não chega aos níveis já vistos, como em momentos em que faltaram leitos de UTI e oxigênio. "Porém, temos sim uma sobrecarga nos prontos-socorros para doenças respiratórias e não estou vendo uma construção de uma rede capilar que consiga aumentar leitos como aconteceu em outros momentos.">
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