Publicado em 28 de junho de 2022 às 11:16
O Brasil registrou um aumento de 21% nos casos de maus-tratos a crianças e adolescentes em 2021. O crescimento foi verificado após a reabertura das escolas, o que pode estar relacionado ao maior número de denúncias feitas pelos educadores. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados na manhã desta terça-feira (28), mostram que os registros criminais de maus-tratos passaram de 15.846, em 2020, para 19.136 no ano passado.>
Pelo Código Penal, os crimes de maus-tratos abarcam tanto casos de violência física, como os de violência psicológica.>
A maior alta de casos ocorreu na faixa etária de crianças de 5 a 9 anos, com aumento de 26%. Em seguida, a faixa com mais vítimas foi a de 0 a 4 anos, com crescimento de 19% nas ocorrências.>
Segundo análise do Fórum de Segurança Pública, os casos em que as vítimas de maus-tratos são crianças de até 9 anos estão atrelados à violência doméstica, em que não é incomum haver também agressões contra mulheres. "A avaliação é de que esse aumento tão alto tenha ocorrido pela enorme subnotificação em 2020, quando a pandemia teve início e as escolas ficaram totalmente fechadas. O aumento das denúncias voltou a ocorrer quando as crianças voltaram a ter aulas e ter contato com adultos fora do ambiente doméstico, que poderiam identificar os abusos", diz Sofia Reinach, pesquisadora associada do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.>
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Os dados mostram ainda aumento de 11% dos casos de abandono de incapaz, que passaram de 7.145 para 7.908 no período analisado. Crianças de 5 a 9 anos correspondem a mais de um terço das vítimas desse tipo de crime. O abandono de incapaz se caracteriza não apenas pela criança deixada sozinha, mas também pela negligência em cuidados básicos, como saúde e educação.>
A piora nas condições socioeconômicas do país é apontada como um fator para o aumento de casos de abandono, já que o aumento da pobreza pode ter resultado em uma maior quantidade de pais e mães que não conseguiram garantir condições mínimas de proteção e cuidados aos seus filhos.>
Reinach ressalta, no entanto, que o total de registros está longe de representar a quantidade de casos. "São crimes pouco denunciados e poucos mecanismos de combate. Com tanto material de pornografia infantojuvenil na internet, esse número parece muito distante da realidade.">
Apesar do aumento de casos de maus-tratos e crimes sexuais contra crianças e adolescentes, os dados mostram que houve queda no registro de mortes violentas intencionais de menores de idade. Foram registradas 2.555 mortes em 2021, contra 3.001 no ano anterior, uma redução de 15%. Entre as crianças de 0 a 11 anos, foram 248 mortes, com a maioria das vítimas sendo do sexo masculino (58,9%). Nesse grupo, a maior parte das ocorrências (43,9%) foi dentro do domicílio.>
Na faixa etária de 12 a 17 anos, 87,8% das vítimas são do sexo masculino, a maioria deles negros. Em relação aos locais em que ocorreram, 43,4% das mortes foram nas ruas e 40,2% em locais que não sejam a residência da vítima. "Os dados mostram que a violência letal entre crianças ocorre por um agravamento da violência doméstica, com agressores que são conhecidos, que são da família. Já entre os adolescentes, a morte intencional é mais comumente decorrência da violência urbana", diz Reinach.>
Sobre os tipos de instrumentos utilizados nos assassinatos, os dois grupos são mais atingidos por armas de fogo, mas em diferentes proporções. Entre as crianças, o armamento é responsável por 50% das mortes, enquanto entre os adolescentes esse número chega a 88,4%.>
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