Publicado em 7 de maio de 2025 às 06:02
Uma travessia promovida pelo movimento Legendários entre os dias 10 a 13 de abril acessou sem autorização o parque estadual da Serra do Ouro Branco, na região central de Minas Gerais, a cerca de 110 km de Belo Horizonte.>
De acordo com o IEF (Instituto Estadual de Florestas), órgão do governo estadual que faz a gestão dessa unidade de conservação, integrantes do movimento também acamparam no local de forma ilegal, já que a atividade é proibida pelo plano de manejo do parque.>
Em nota, o IEF também afirmou que o grupo comunicou a intenção de realizar atividades na área protegida com apenas dois dias de antecedência, sem atender ao prazo exigido pelo órgão, e encaminhou documentação incompleta.>
Procurado via redes sociais e pelo contato da página oficial do evento, o Legendários La Conquista, responsável pela organização da travessia, não respondeu até a publicação da reportagem. Para fazer parte da edição, cada membro teve de pagar R$ 1.400.>
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Moradores e profissionais que atuam na região também questionam métodos de integrantes do grupo.>
Ian Belo, que trabalha com turismo de aventura na região de Ouro Branco, cidade vizinha de Ouro Preto, diz que o grupo chegou de madrugada com veículos que fizeram barulho e afetaram uma comunidade de cerca de 150 pessoas que moram no local.>
Ele também questiona o impacto da presença de centenas de participantes em uma unidade de conservação.>
"Quando você coloca, por dinheiro ou não, 400, 300 pessoas em uma montanha, você deve ser questionado. Não importa se é um evento de corrida de montanha, ou de escalada. O reflexo disso é você ter uma dificuldade na gestão do impacto dessas pessoas", afirma Belo.>
Voltado exclusivamente para homens, o Legendários promove imersões intensas na natureza, com a proposta de oferecer uma transformação profunda.>
Cada um que passa pelo programa ganha um número. O legendário número um, dizem os organizadores, foi Jesus Cristo.>
O grupo, presente em 18 países, foi criado na Guatemala em 2015 e chegou ao Brasil dois anos depois. Ao longo de 2025, estão previstos pelo menos 325 eventos, mais da metade em território brasileiro.>
O professor Bernardo Machado Gontijo, do Departamento de Geografia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), explica que o uso público em unidade de conservação de proteção integral, como na Serra do Ouro Branco, é restrito a algumas atividades.>
[É permitido apenas] pesquisa, ecoturismo e educação ambiental. Nenhum deles se encaixa na atividade dos Legendários, que podem ser considerados terroristas ambientais", diz o professor.>
Um frequentador do local chamado Fernando, praticante de corrida de montanha, registrou em fotos montes de lixos deixados da última expedição e que só foram recolhidos pelos participantes no dia seguinte.>
Ele afirmou que os dejetos foram tapados com cal e acrescentou que o plano de manejo do parque limita a passagem de pessoas em alguns locais.>
"Existem estudos com uma prospecção de quantas pessoas poderiam passar em cada trilha, de acordo com a relevância dela, com as características e preservação. Tem trilhas que podem passar 60 pessoas por dia", diz.>
No dia 11, uma equipe do IEF alertou os organizadores do Legendários sobre a irregularidade da ação e de que ela deveria ser interrompida. Como isso não aconteceu, uma vistoria foi realizada para apuração de possíveis infrações ambientais.>
"O relatório está em fase de finalização e será encaminhado à administração para a adoção das medidas cabíveis, que podem incluir advertências e autuações", diz o órgão.>
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