Publicado em 4 de julho de 2020 às 13:53
"Deixa ele jogar comigo. Logo depois você o verá morto. Cuide do seu filho ou eu vou fazê-lo se matar", foi a mensagem que a cirurgiã-dentista Camille Vanini, 36, recebeu do perfil que estava conversando com seu filho de 10 anos. Era o "Homem Pateta".>
Desde meados de junho, a Polícia Civil começou a emitir alertas sobre perfis em redes sociais identificados como Jonatan Galindo, mas com fotos que remetem ao personagem da Disney. As contas seriam usadas para enviar jogos e brincadeiras a crianças, com incentivos à mutilação e ao suicídio.>
A família brasiliense pode ser uma das primeiras vítimas do crime virtual no Brasil. A troca de mensagens foi na madrugada de segunda-feira, 29 de junho. O garoto, que não tem rede social, viu pelo celular de Camille notícias sobre o tal "Homem Pateta". Então, foi atrás de perfis do tipo e acabou sendo respondido por um, em inglês. Por já ter vivido no exterior, ele fala o idioma.>
No diálogo, a pessoa por trás da conta falsa dava 10 minutos para que as respostas fossem enviadas e exigia que o menino seguisse na conversa. Ele, no entanto, acabou dormindo e, no dia seguinte pela manhã, a dentista viu a conversa.>
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"Confesso que não fazia ideia do que era o 'homem pateta'. Minha primeira reação foi pedir desculpas. Afirmei que o meu filho estava com o celular e que ele não deveria incomodar as pessoas. O problema foi quando ele disse que eu ia ver meu filho morto", diz Camille sobre a ameaça.>
"Eu me tremia de uma ponta a outra. Trabalho em causas sociais para crianças e nunca imaginei que isso estaria acontecendo dentro da minha casa", conta.>
O menino explicou que sua intenção era prender a tal figura, para que ele não pudesse ferir outras crianças. Agora, não dorme à noite e a mãe precisou buscar ajuda psicológica para ele.>
Camille Vanini
Mãe de criança de 10 anos vítima da farsaCamille denunciou a conta no Instagram, mas recebeu como resposta que o perfil não violava as regras de conduta da rede social.>
"Tive expectativa de que fosse tirado do ar, mas não aconteceu. Empresas como o Instagram precisam tomar atitutes em relação a esses psicopatas. Assim como ele falou com o meu filho, e dei sorte de perceber rápido, ele pode estar falando com outras crianças", afirma.>
Uma pesquisa rápida no Facebook e no Instagram revela dezenas de perfis com o nome Jonatan Galindo e a imagem macabra em referência ao personagem da Disney -algumas têm conteúdo em português.>
Camille registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Ela também fez uma queixa-crime no Ministério Público.>
No Brasil, induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação é crime e pode gerar uma pena de 6 meses a 6 anos de prisão.>
Há dúvidas ainda sobre os primeiros relatos de uma conta do tipo. Até agora, se sabe que as postagens teriam começado em 2017, na Europa ou no México, em espanhol.>
"Este perfil faz o desafio para que o interessado envie uma mensagem privada e, em resposta, passa a enviar vídeos, textos, áudios e até a fazer ligação por vídeo ao vivo. Essas mensagens causam desconforto, medo, terror e podem até induzir ao suicídio", explica a delegada de Polícia Civil Fernanda Lima.>
Não é a primeira vez que ameaças do tipo ligam o alerta dos pais. Elas têm padrão semelhante: são espécies de "correntes" sem fonte conhecida, focadas em crianças e adolescentes, e que se multiplicam em vários fakes, que imitariam as ações do suposto agressor.>
Em 2017, foi o desafio da "Baleia Azul", surgido em uma rede social russa, que viralizou entre jovens e foi associado a uma onda de suicídios de crianças e adolescentes.>
Por aqui, o jogo era no WhatsApp. Os chamados "administradores" propunham uma série de desafios que envolviam automutilação e atos de violência, com o suicídio sendo a fase final - ameaças à família e entes queridos eram feitas para forçar a realização das tarefas no tempo determinado.>
Já no ano passado, a Boneca Momo voltou a assombrar famílias. Supostamente, a imagem perturbadora aparecia em vídeos do Youtube Kids ensinando crianças a se matar. A Folha buscou a tal figura por dois dias na rede, mas não encontrou. Pelo mundo, houve relatos de conteúdos que incitavam à automutilação até armadilhas para roubar dados pessoais e financeiros.>
Procurados, o Instagram e o Facebook não responderam sobre por que não tiram as páginas do ar.>
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