Publicado em 8 de dezembro de 2019 às 16:43
FOLHAPRESS - Após Marcelo Crivella (Republicanos) tentar por três anos manter, por razões religiosas, distância pública do Carnaval, é da festa que emerge o pivô de uma investigação contra o prefeito do Rio de Janeiro aberta pelo Ministério Público.>
O empresário Rafael Alves, ex-dirigente do Salgueiro e da Viradouro, foi apontado em delação premiada de Sérgio Mizrahy como o responsável por criar um "QG da propina" na Riotur. A empresa municipal de turismo é presidida por seu irmão, Marcelo Alves.>
Mizrahy, apontado como agiota da zona sul carioca, não entregou evidências do envolvimento direto do prefeito em seus anexos oferecidos aos procuradores e homologado pela Justiça. Mas a proximidade de Rafael Alves com Crivella colocou o bispo licenciado da Igreja Universal como um dos alvos da apuração. A apuração tem fotos dos dois caminhando e conversando na Barra, onde moram.>
A investigação foi revelada pelo jornal O Globo na semana passada. Alves foi doador de campanha do PRB, antigo nome do Republicanos, desde 2012. Tanto a sigla como Crivella receberam do empresário R$ 745 mil nas eleições de 2012 e 2014.>
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Na eleição de 2016, quando Crivella foi eleito, ele não aparece como doador na prestação de contas do prefeito. Mas segundo relatos feitos à Folha de S.Paulo, atuou como arrecadador para a campanha.>
Após a vitória, ganhou um afago: foi convidado por Crivella para uma viagem em Israel.>
Na administração atual, a Riotur é sua área principal de influência. O órgão é responsável por organizar o desfile no Sambódromo, espaço no qual Rafael, ligado a escolas de samba, transita com facilidade. A empresa também organiza as festas de Réveillon.>
Segundo relatos, Rafael se comporta como se fosse o verdadeiro presidente da Riotur. Ele tem uma sala na sede de empresa municipal, fica rodeado por seguranças na pista da Sapucaí e distribui para amigos coletes destinados para os que trabalham na supervisão do desfile.>
A relação do empresário com o prefeito não é sempre harmônica. Ele tentou, sem sucesso, convencer Crivella a não retirar o apoio financeiro de R$ 2 milhões que o município dava a cada escola de samba. Ao mesmo tempo, conseguiu manter sob seu domínio a Riotur mesmo após a criação da Secretaria de Turismo entregue ao PP.>
Mizrahy disse em sua delação que Alves também cobra propina de empresas contratadas pelo município ou que têm dívidas a receber do município de gestões anteriores. O agiota disse que recebia cheques do empresário recebidos como vantagem indevida para trocar por dinheiro vivo.>
Influente nos bastidores, o empresário tentou costurar uma pré-candidatura à prefeitura de Angra dos Reis (RJ) em 2016. O ex-senador Eduardo Lopes (PRB), que foi suplente de Crivella, chegou a ser fiador das intenções de Alves. Ele articulou apoio com outros políticos, mas não obteve sucesso. O empresário era desconhecido.>
Embora nos últimos anos seu principal contato com o mundo político tenha sido Crivella, ele circula há décadas no meio.>
Rafael vem de uma família com intensa atuação em rádios no estado. O pai, Aldano Alves, patrocinava programas com debates políticos na década de 1990. Na ocasião, conheceu o ex-governador Anthony Garotinho, de quem tentou se aproximar.>
No ano passado, ele se apresentou a empresários como responsável por arrecadar recursos para a campanha do ex-governador. Garotinho teve a candidatura cassada pela Justiça Eleitoral.>
No segundo turno, se encontrou com o advogado Lucas Tristão, que coordenou a arrecadação da candidatura vitoriosa de Wilson Witzel (PSC) ao governo estadual.>
O empresário também manteve intensa vida social pública. Figurou em colunas sociais principalmente graças ao namoro de sete meses com a atriz Carol Castro, foi empresário do cantor Belo e promovia churrascos para celebridades.>
Ele também é dono de uma gama de empresas, que vão desde construtora até um bar em Foz do Iguaçu (PR). Neste negócio teve como sócio um homem condenado por tráfico de drogas.>
O empresário Rafael Alves não foi localizado para comentar a reportagem. Crivella negou ter envolvimento com cobrança de propina na prefeitura.>
"O doleiro não diz que eu teria conhecimento ou participado de qualquer tipo de suposta negociação. Não há qualquer prova dessa negociação", disse o prefeito, em vídeo publicado na segunda-feira (2).>
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