Publicado em 20 de novembro de 2019 às 19:46
FOLHAPRESS- A novela do sambódromo do Rio de Janeiro vive mais uma reviravolta. Nesta semana, o prefeito Marcelo Crivella (PRB) anunciou que desistiu de ceder a gestão da Marquês de Sapucaí ao governador Wilson Witzel (PSC), o que havia sido dado como certo no dia 1º de novembro.>
Ele tomou essa decisão após orientação da Procuradoria-Geral do Município e a pedido de alguns vereadores, segundo os quais a transferência da administração só poderia ser feita após aval da Câmara Municipal.>
"Nós temos R$ 8 milhões para fazer de obras que foram exigência dos bombeiros. Para que o governo do estado passasse esse recurso para nós, como está em regime de recuperação fiscal, o sambódromo teria que ser do estado. Mas para isso eu teria que conversar com os vereadores do Rio de Janeiro, e eles não concordaram. Então ficou difícil para o governador nos ajudar com esses recursos", afirmou na segunda (18) o prefeito.>
O governador fluminense ironizou a decisão publicamente na mesma manhã: "Que bom que o prefeito passou a gostar de Carnaval agora. Agora só falta ele ir lá ao sambódromo e sambar com as escolas e continuar apoiando o Carnaval", afirmou, acrescentando que vai ajudar nos ensaios técnicos através da lei de incentivo.>
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Para ele, Crivella "inventou" essa autorização. "Passei quase 20 anos no Judiciário, conheço direito administrativo. Não existe nenhuma obrigatoriedade de passar por uma aprovação dos vereadores para ceder o sambódromo ao estado", disse há uma semana, quando a prefeitura anunciou que adiaria a transferência.>
O pano de fundo dos debates é, de um lado, um prefeito com fama de inimigo do Carnaval por ser evangélico, já que nunca foi a um desfile e extinguiu as verbas das escolas de samba -reputação que Crivella nega. Do outro, um governador que vem se aproximando do mundo do samba já de olho no Palácio do Planalto.>
Esse vaivém já dura meses. Witzel havia manifestado o interesse em administrar a Sapucaí em julho, mas no início de outubro o município disse ter descartado a possibilidade. No início de novembro, eles entraram em um acordo, que agora caiu.>
Esse acordo, como Crivella citou em sua fala, seria feito da seguinte forma: a cidade cederia o sambódromo por ao menos três anos para o estado que, em troca, iria ressarcir os cerca de R$ 8 milhões que a prefeitura está gastando em obras de segurança exigidas pelo Corpo de Bombeiros.>
A folia por pouco não foi cancelada no último Carnaval por um pedido de interdição do Ministério Público do Rio, que alegou que a avenida não possuía a autorização do órgão para funcionar.>
As alterações estão previstas para o fim de janeiro e incluem melhorias nas arquibancadas, sistemas elétrico e pluvial, gradeamento e combate a incêndio e pânico. Elas não incluem obras maiores que vão ficar para novembro do ano que vem, como o alargamento de saídas de emergência da avenida.>
Agora que o sambódromo permanecerá nas mãos do município pelo menos até 2020 -assim como a gestão da festa em si, que é exclusiva e intransferível, segundo uma lei municipal-, quem deve pagar essas reformas é o Ministério do Turismo, disse Crivella nesta segunda.>
Procurado nesta quarta (20), o governo federal afirmou que o acordo ainda não foi fechado. Informou que aguarda o envio dos projetos da prefeitura do Rio e que "a pendência deve ser sanada para que o contrato seja firmado".>
Segundo a prefeitura, esse contrato incluirá tanto as intervenções na avenida quanto um plano de segurança para o feriado do Carnaval, com a instalação de câmeras de rua e de reconhecimento facial e o treinamento de guardas municipais.>
Um outro convênio na área da saúde entre estado e prefeitura que havia sido acertado junto com a transferência do sambódromo, porém, segue valendo, segundo as duas gestões. >
O governador continua com a promessa de repassar R$ 57 milhões para investimentos e, durante um ano, mais R$ 6 milhões mensais para custeio aos hospitais Albert Schweitzer e Rocha Faria, na zona oeste da capital fluminense, que foram municipalizados em 2016. Mas até agora o convênio não foi assinado e o dinheiro não veio.>
O Carnaval da Sapucaí tem passado por incertezas desde o início da gestão Crivella, em 2017. Ele reduziu as verbas das escolas de samba a um quarto do que foi destinado pelo seu antecessor, Eduardo Paes (DEM), e neste ano resolveu retirá-las por completo.>
O prefeito tem dito que a festa "é um bebê parrudo que precisa ser desmamado e andar com as próprias pernas", ou seja, deve ser custeado apenas com recursos privados, já que cobra ingressos da plateia.>
Com isso, ainda é incerto quem vai ser responsável pelos gastos com serviços como limpeza, segurança, iluminação e atendimento médico, antes pagos pelo município. A ideia é que fossem os próprios organizadores, mas as ligas de agremiações estão com dificuldades para conseguir patrocínio.>
Também não está certa ainda a situação do Grupo de Acesso, aquele que desfila sempre na sexta-feira e no sábado do feriado. A Lierj, liga que reúne essas escolas, chegou a propor à prefeitura deixar de cobrar a entrada para continuar recebendo o subsídio municipal, equivalente a metade das suas receitas.>
Já a terceira divisão, cujos desfiles acontecem todo ano gratuitamente na avenida Intendente Magalhães (zona norte), se deu bem. Crivella decidiu triplicar as verbas do grupo neste ano: "São o verdadeiro Carnaval do povo", disse o prefeito.>
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