Publicado em 18 de outubro de 2021 às 17:22
Apesar da trégua do presidente Jair Bolsonaro nos ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal), a ausência de integrantes do governo com trânsito na corte tem dificultado a retomada da relação entre os Poderes. >
O Executivo perdeu os três principais interlocutores que tinham relação próxima com as diferentes alas do Supremo.>
No início do governo, os responsáveis pelas pastas com atribuição de dialogar com o tribunal eram Sergio Moro, no Ministério da Justiça, e André Mendonça, na AGU (Advocacia-Geral da União).>
Apesar de não serem bem vistos por parte do STF, eles eram respeitados e tinham proximidade com magistrados. Além disso, havia o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, que já foi assessor da presidência do tribunal e é próximo de diferentes ministros.>
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Os três deixaram a Esplanada e foram substituídos por nomes sem trânsito no Judiciário. O chefe da Justiça, Anderson Torres, e da AGU, Bruno Bianco, têm se esforçado para criar canais de diálogo na corte, mas não têm histórico de relação com ministros e são vistos com receio no tribunal.>
Antes de Bianco, estava no cargo Mendonça, que, apesar de enfrentar resistências no Senado, tem contado com a ajuda de parte dos ministro para ter o nome aprovado a uma vaga no STF, o que expõe seu nível de interlocução dentro da corte.>
O apoio tem partido principalmente da ala a favor da Lava Jato, liderada pelos ministros Luiz Fux e Luís Roberto Barroso, mas não só. Ele também conta com a ajuda do ministro Dias Toffoli, de quem foi assessor na AGU e que pertence à outra ala do tribunal, contrária às operações iniciadas na Justiça Federal em Curitiba.>
Além disso, em abril de 2020, quando Mendonça foi deslocado para o Ministério da Justiça logo após o pedido de demissão de Moro, o então procurador da Fazenda Nacional, José Levi, assumiu a AGU.>
Levi tinha sido secretário-executivo de Alexandre de Moraes no Ministério da Justiça em 2016 e 2017 e tem uma carreira acadêmica reconhecida pelos ministros do STF. Bianco, portanto, é o primeiro advogado-geral da União do governo Bolsonaro sem trânsito na corte.>
Outra mudança muito sentida no STF foi a saída de Azevedo e Silva e a nomeação de Braga Netto no Ministério da Defesa.>
O atual chefe da pasta é visto com reticência por magistrados, que o veem como um auxiliar de Bolsonaro que não faz ponderações ou não tenta colocar freios às ofensivas do chefe do Executivo contra as instituições.>
Esse é o oposto do papel que exercia seu antecessor. Azevedo e Silva trabalhava para manter as Forças Armadas longe da política, com um viés mais institucional e imparcial, o que foi justamente considerado como um dos motivos para sua troca no posto.>
O general mantinha contato frequente com ministros do STF, diferentemente de Braga Netto, e sempre procurava botar panos quentes na relação entre os Poderes quando Bolsonaro insinuava o uso do Exército para impor suas vontades sobre as demais instituições.>
Atualmente, a pessoa mais próxima do STF nomeada por Bolsonaro é o chefe da Polícia Federal, Paulo Maiurino, que já comandou o setor de segurança da corte.>
Ele foi secretário de Segurança do Supremo na gestão de Toffoli à frente do tribunal, quando estabeleceu boa relação com os ministros. Recentemente, obteve uma vitória no tribunal que deixou clara a boa interlocução que mantém na corte.>
Enquanto se consolidava como o ministro que mais acumula enfrentamentos com Bolsonaro, Moraes fez um gesto público de confiança em Maiurino.>
No final de agosto, às vésperas do 7 de Setembro e no auge da tensão entre STF e governo, o ministro afastou o delegado Felipe Leal da condução do inquérito que apura a veracidade das acusações do ex-ministro Moro contra Bolsonaro sob o argumento de que ele extrapolou suas funções ao investigar atos assinados pelo atual diretor-geral da PF.>
As tentativas de aproximação do STF com o governo, porém, ainda existem. Na última semana, o presidente da corte, Luiz Fux, teve um almoço fechado com o comandante do Exército, general Paulo Nogueira.>
As conversas do encontro foram mantidas sob sigilo e o ministro se limitou a dizer a interlocutores que o diálogo foi leve e serviu para aproximar as instituições.>
Além disso, Bolsonaro também mudou de postura depois do 7 de Setembro, data em que ameaçou descumprir decisões do Supremo, e passou a fazer mais sinalizações em direção ao STF.>
Primeiro, escreveu um texto, articulado pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), em que justificou ter feito ataques a Moraes devido ao "calor do momento" e fez elogios ao magistrado.>
"Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do ministro Alexandre de Moraes", disse, em tom muito mais ameno do que vinha adotando.>
Bolsonaro também levantou bandeira branca em relação a Barroso, que é presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e chegou a ser acusado pelo presidente de querer fraudar as eleições para impedir sua reeleição.>
Depois de ter xingado o ministro, o presidente elogiou a iniciativa dele de nomear um comitê para acompanhar o processo eleitoral e a lisura das urnas eletrônicas, principalmente pelo fato de o Exército ter um assento nesse colegiado.>
Em entrevista à revista Veja no final de setembro, ele recuou das ameaças e disse que não tem chance de tentar "melas as eleições".>
"Com as Forças Armadas participando, você não tem por que duvidar do voto eletrônico. As Forças Armadas vão empenhar seu nome, não tem por que duvidar. Eu até elogio o Barroso, no tocante a essa ideia -desde que as instituições participem de todas as fases do processo", disse.>
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