Publicado em 2 de junho de 2020 às 17:06
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou à coluna que não são sentimentos pessoais que têm levado Lula a descartar debates com Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer.>
Na segunda (1º), Lula afirmou que não assinaria manifestos contra Jair Bolsonaro em que estivessem "determinadas pessoas". Ele tem dito que os dois ex-presidentes não são democratas.>
"Não é mágoa que levou Lula a não assinar o manifesto com FHC, Temer e outras pessoas que assinaram. Foi a trajetória deles, o protagonismo e a ação deliberadamente consciente que tiveram para construir o caminho que nos trouxe até aqui", afirma ela.>
A decisão de Lula teve ampla repercussão. Para a presidente do PT, a posição dele precisa ser compreendida.>
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Ela cita o fato de o escritor Marcelo Rubens Paiva ter se recusado a participar de uma entrevista no Roda Viva com Lobão para traçar um paralelo com a decisão de Lula.>
O cantor já minimizou a tortura no Brasil, afirmando que agentes da ditadura "arrancavam umas unhazinhas" das vítimas. Rubens Paiva, pai de Marcelo Rubens Paiva, foi assassinado pelo regime militar e seu corpo nunca foi encontrado.>
"Eu entendo a posição do Marcelo Rubens Paiva de não querer ir na entrevista com o Lobão, de estar com o Lobão, pelo que ele significa. As pessoas podiam entender um pouco também o que o Lula coloca", diz Gleisi.>
Além de conversar com a coluna, ela enviou mensagens por Whasapp para explicar a posição de Lula.>
"FHC maquinou com Aécio o golpe contra Dilma. Defendeu, repetiu, deu vida ao argumento das pedaladas fiscais como crime de responsabilidade, mesmo sabendo que não era. Não vacilou em jogar o país na instabilidade. Defendeu, divulgou entusiasticamente a Lava Jato, que tinha por objetivo destruir o PT e suas lideranças, em especial Lula. Foram inúmeras vezes em que FCH disse que Lula não era um preso político, e sim um político preso.>
Depois [FHC] apoiou entusiasticamente a ponte para o futuro [programa de governo] de Temer, cujo objetivo era a destruição de um estado de bem-estar social que começava a ser construído. A emenda constitucional 95 [que estabelece um teto para os gastos públicos] é a desestruturação de políticas públicas protetivas como SUS, educação, assistência social, além de impedir o Estado como indutor de desenvolvimento ao impor redução dos investimentos. Ambos [FHC e Temer] atentaram contra os trabalhadores ao proporem e apoiarem a reforma trabalhista, uma das ações legislativas mais perversas contra a classe trabalhadora, cujos efeitos estamos sentindo agora.>
FHC nada disse sobre as Fake News contra PT, Lula e Haddad. Sabia quem era Bolsonaro e se calou diante de sua eleição, poque apoiava a pauta econômica neoliberal que vinha com o candidato e não foi discutida na campanha.>
FHC e Temer não são vítimas das divulgações das Fake News e das maquinações da perseguição judicial. Muito pelo contrário, articularam e operaram situações para que elas prosperassem. FHC, principalmente, foi condutor ativo do processo que desembocou no que estamos vivendo.>
Não vi nem ouvi em nenhum momento FHC reconhecer isso. Pousa de príncipe a ser conquistado, requerido, apoiado na defesa de uma causa nobre, a democracia, que ele ajudou a desidratar.>
Resumir tudo isso a mágoa é reduzir Lula, simplificar, mais do que isso, desconhecer, desconsiderar o papel ativo que tiveram Temer e, principalmente, FHC, para as coisas chegarem onde estão.>
Não atuaram desavisadamente, não foram levados pela conjuntura, operaram para que ela acontecesse. Isso faz muuuuita diferença>
Sem problema assinar um manifesto em conjunto mesmo com tudo isso. Mas onde está o povo e seus direitos na democracia que está sendo defendida ali? Nenhuma palavra.>
Se for para limpar currículo dos golpistas conscientes, pelo menos que os direitos do povo, a democracia concreta, seja defendida e desembarquemos todos dessa pauta neoliberal nefasta.>
Quem te reduziu à magoa do Lula não tem dimensão política para fazer uma leitura crítica do processo, ou é Poliana ou tem má fé.">
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