Publicado em 5 de outubro de 2019 às 10:01
AGÊNCIA FOLHAPRESS - Ana Maria Arruda ainda tem medo de ir à região atingida pelo rompimento da barragem de dejetos que ocorreu na terça-feira (1) na área da mineradora VM, há cinco quilômetros de sua casa. Ela vive com o neto e o marido em uma pequena propriedade rural na comunidade de Capão Bonito, em Nossa Senhora do Livramento, em Mato Grosso.>
"Não quero ir lá olhar, vai que acontece como com as pessoas lá de Minas Gerais. Desaba tudo e ficamos todos presos na lama", diz a senhora de 49 anos que vive de agricultura de subsistência como grande parte dos moradores locais, que também atuam na fabricação caseira de queijos e doces. >
Na área vizinha a mineradora de ouro estão quatro comunidades tracionais do Pantanal: Tanque Belo, Capão Bonito, Cedral e Brejal, com cerca de 54 famílias.>
"Todos os moradores das comunidades ficaram sem luz por três dias e muitos perderam os alimentos que estocavam. A maioria ficou sem água depois do acidente por não ter acesso aos poços artesianos que abastecem as casas", afirma a vice-presidente da associação de moradores de Cedral de cima e região, Sonia Monteiro Maciel.>
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Parte do município de Poconé também foi atingido pela falta de luz causada pelo rompimento da rede elétrica durante o acidente. Na tarde de quinta-feira (3), a luz foi religada. A barragem que rompeu guardava restos de mineração, proveniente de lavra de ouro, com 15 metros de altura, tinha volume armazenado de 582.171,51 metros cúbicos.>
Dois funcionários da VM tiveram ferimentos leves. O operador de máquinas Fernando da Silva, 33, e o motorista Luciano Nascimento, 42, se feriram ao tentar escapar.>
A barragem da mineradora foi uma das primeiras entre as 190 de Mato Grosso a serem inseridas no SNISB (Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens). Entre as 22 barragens do município, o tanque da VM foi o único a ser considerada de baixo risco; outras cinco estão apontadas como de médio risco.>
O proprietário da empresa diz ainda não saber qual seria a causa do rompimento. "Antes mesmo do acidente de Brumadinho, recebemos uma fiscalização e fizemos varias medidas de contenção somatórias aos cuidados que já tomávamos.>
No momento minha preocupação era isolar a área. Agora é limpar todos os danos. Apenas o laudo da causa do acidente poderá revelar o que aconteceu", afirma Marcelo Takahashi, proprietário da VM que arrendava a área onde aconteceu o rompimento da barragem. >
O laudo deverá ser publicado em trinta dias. O prefeito de Nossa Senhora do Livramento, Silmar Souza, visitou a área do acidente na quinta (3) e diz ainda estar apreensivo com a situação de uma possível contaminação dos rios. >
"A nossa preocupação é que o Ribeirão Bento Gomes, que está próximo da região, seja atingido pelos dejetos. A secretaria municipal de saúde coletou amostras de contaminação das águas das comunidades. O resultado deve ser divulgado na próxima semana", diz o prefeito. Ribeirão Bento Gomes é a principal fonte de abastecimento de Poconé, com 32 mil habitantes.>
A contaminação da água é um dos possíveis danos ambientais do rompimento da barragem. Como grande parte da população local utiliza poços artesianos, caso exista contaminação poderá prejudicar a saúde dos moradores das comunidades locais.>
O proprietário da empresa VM afirma que os dejetos da barragem não continham nenhum matéria poluente. "Eram rejeitos de mineração inerte. Explicando de forma leiga, minério extraído da mina, britado e com adição de água".>
Em janeiro, o ribeirão apresentou mudança de coloração em suas águas, e a VM foi uma das empresas fiscalizadas como possível causadora do dano.>
Um laudo de fiscalização da Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso atestou não haver conexão com a mineradora, uma barragem de Poconé foi autuada como a causadora da poluição.>
"Desde essa época fazemos a medição dos corpos de água próximo a nossa região de atuação e dos poços artesianos de nosso vizinhos. Nunca apareceu nenhum traço de contaminação da água", diz o responsável pela VM.>
Segundo a mineradora, nesta sexta (4) toda a área atingida pelos dejetos da barragem foi isolada. Mesmo com chuva, não há mais riscos de que o dano se espalhe. >
Os cálculos sobre os prejuízos das propriedades atingidas ainda não foram estimados e não há previsão da liberação da estrada que era usada como acesso às quatro comunidades. >
"Faremos uma reunião com a associação local para conversamos com os moradores locais que tiveram danos e vamos ressarcir todos", diz Takahashi.>
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