Publicado em 20 de novembro de 2019 às 16:40
O ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Eros Grau apresentou uma petição à 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo em que acusa o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci de mentir em uma delação premiada e de tentar fraudar a Justiça.>
Eros Grau foi contratado pela família do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos (morto em 2014), a quem Palocci acusa de tê-lo subornado.>
No ano passado, o ex-ministro da Fazenda afirmou à Polícia Federal na colaboração premiada que, em 2010, Thomaz Bastos lhe pagou propina de R$ 1,5 milhão para que ajudasse a enterrar a Operação Castelo de Areia, que investigava a empreiteira Camargo Corrêa por supostos crimes financeiros e de lavagem de dinheiro.>
Thomaz Bastos era advogado da construtora e teria acionado Palocci para atuar junto à cúpula do PT, que então estava no governo federal, e ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) para que as investigações contra a empresa fossem suspensas.>
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Em 2011, a corte acatou o pedido e o caso foi arquivado.>
Palocci apresentou como prova do suposto suborno um contrato de consultoria financeira assinado com o escritório do advogado em 1º de dezembro de 2009. Segundo ele, a papelada era fictícia e servia apenas para acobertar o pagamento da propina.>
O documento, no entanto, já tinha sido usado pelo próprio ex-petista para se defender em uma outra investigação, aberta em 2011, que investigava as consultorias que prestava para empresários.>
Na época, Palocci era ministro da Casa Civil do governo da então presidente Dilma Rousseff e teve que explicar por que recebeu R$ 20 milhões de companhias por meio de sua empresa, a Projeto.>
Palocci apresentou então ao Ministério Público Federal o mesmo contrato firmado com Márcio Thomaz Bastos para justificar um dos pagamentos que recebeu.>
Segundo sua defesa afirmou às autoridades, o documento correspondia a uma consultoria prestada para a fusão do Pão de Açúcar com as Casas Bahia. Márcio Thomaz Bastos advogava para as empresas e teria contratado Palocci para auxiliá-las.>
Ou seja, o ex-ministro da Fazenda teria usado o mesmo documento para contar uma história ao Ministério Público Federal, em 2011, e outra à Justiça sete anos depois.>
O escritório de Eros Grau sustenta que a primeira justificativa, de 2011, é a verdadeira. E diz ter apresentado planilhas do computador de Thomaz Bastos, além do livro-caixa de seu escritório, como prova. Neles aparecem pagamentos feitos pelo Pão de Açúcar ao advogado e que teriam sido repassados a Palocci.>
Em 2011, o próprio Grupo Pão de Açúcar apresentou ao Ministério Público Federal uma declaração oficial afirmando que o escritório de Thomaz Bastos de fato prestava serviços para viabilizar a fusão com as Casas Bahia e que ele havia contratado a consultoria de Palocci para ajudar no negócio.>
"As afirmações de Antonio Palocci em sua delação são inverídicas e consubstanciam fraude processual afrontosa à honra de Márcio Thomaz Bastos", diz Eros Grau na petição apresentada à 6ª Vara Federal Criminal.>
A defesa de Antonio Palocci não nega que o contrato apresentado em 2011 ao Ministério Público Federal seja o mesmo que agora reapareceu na delação premiada de 2018.>
Afirma, no entanto, que, oito anos atrás, o ex-ministro da Fazenda não revelou às autoridades qual era "o verdadeiro escopo" do contrato porque não estava colaborando com a Justiça nem tinha o compromisso de dizer a verdade.>
O contexto seria outro em 2018, quando ele depôs como delator. "Nesta condição, confrontado com documentos e provas apresentados pelas autoridades, ele detalhou o que era lícito e o que era ilícito nessas tratativas", afirma o advogado Tracy Reinaldet.>
Segundo a nova versão de Palocci, o contrato de R$ 1,5 milhão foi feito de fato para justificar o pagamento da propina pela atuação no caso da Camargo Corrêa.>
Outros valores que recebeu de Thomaz Bastos, que segundo ele chegam a cerca de R$ 4 milhões, corresponderiam à consultoria prestada ao Grupo Pão de Açúcar.>
A família de Thomaz Bastos pede a revogação imediata da quebra do sigilo bancário e fiscal do advogado, que foi determinada pela Justiça na semana passada. E solicita que o Ministério Público Federal analise os novos documentos apresentados à Justiça.>
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