Publicado em 12 de outubro de 2024 às 18:28
Todos os efeitos das mudanças climáticas são ainda piores para as crianças, segundo diversos estudos e análises feitas por órgãos como OMS (Organização Mundial da Saúde), Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima) e a AAP (Academia Americana de Pediatras).>
Entre as doenças agravadas pela crise, por exemplo, 88% vão recair sobre crianças com menos de 5 anos, conforme a OMS. Durante as ondas de calor, o mesmo grupo tem maior dificuldade para regular a própria temperatura corporal. As fortes chuvas que causam enchentes fazem com que elas dependam de adultos para se proteger e, muitas vezes, são deixadas à mercê de programas sociais.>
"Quando olhamos para a mudança climática, estamos vendo também uma crise para o direito das crianças", diz Danilo Moura, especialista em crise climática do Unicef no Brasil.>
Como a fisiologia das crianças é diferente, explica Moura, o impacto direto de eventos extremos como ondas de calor e inundações é maior sobre elas.>
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Além disso, porque seus direitos são pouco garantidos em geral, há menor proteção e prevenção para sua saúde, o que agrava o quadro, afirma o advogado do Instituto Alana, Guilherme Pecoral, especializado em justiça climática.>
Segundo alerta feito pela AAP em fevereiro deste ano, o aumento da temperatura tem sido associado a uma disparada nas hospitalizações de crianças, por doenças como dengue e chikungunya.>
A poluição do ar também afeta mais as crianças que os adultos, destaca o advogado do Instituto Alana, que protocolou no STF (Supremo Tribunal Federal), em parceria com outras organizações, uma manifestação pedindo adoção urgente de medidas de prevenção e combate aos incêndios que atingem o país.>
As crianças inalam mais ar por quilo de peso corporal e absorvem mais poluentes em relação aos adultos enquanto seus pulmões estão em formação, afirma a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).>
Além disso, explica Pecoral, as escolas, equipamentos públicos que estão em todo o território nacional e concentram crianças, muitas vezes não têm uma infraestrutura adequada para prevenir episódios críticos de poluição do ar.>
As instituições tampouco são preparadas para lidar com calor excessivo ou chuvas fortes, diz Moura, e, durante eventos extremos como inundações, são uma das opções de abrigo para os deslocados, o que também afeta a educação das crianças.>
A instabilidade causada pelos eventos climáticos prejudica a saúde mental de todos, mas especialmente das crianças, uma vez que estão com corpo e cérebro em desenvolvimento, afirma o presidente da SBP, Clóvis Francisco Constantino.>
"Os primeiros cinco anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento cerebral da criança. Ela precisa estar muito bem nutrida, em um meio social que facilite sua interação com as pessoas e o próprio meio ambiente, e necessita ter uma qualidade do ar que possibilite oxigenar bem seus pulmões sem parcelas grandes de poluentes", diz Constantino.>
"A velocidade de desenvolvimento nos primeiros anos de vida é muito grande, qualquer interferência desequilibra isso", completa.>
DIREITOS DAS CRIANÇAS SÃO AFETADOS>
Com a mudança do padrão de calor e chuvas, a agricultura familiar sofre mais que grandes produtores para cultivar alimentos, diz Danilo Moura. Estudos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), porém, mostram que a maior parte das crianças brasileiras mais pobres recebem alimentos da agricultura familiar.>
"O sistema que garante a segurança alimentar das crianças brasileiras é extremamente vulnerável à mudança climática, especialmente no Nordeste, onde o aumento da aridez coloca uma pressão sobre um sistema de produção já pressionado", afirma o especialista.>
Pesquisa do Unicef publicada nesta semana mostra que 2,1 milhões de crianças e jovens não têm acesso a água no Brasil. "Embora a água seja um direito humano essencial para todo mundo, as crianças sofrem mais imediatamente o efeito da sua falta do que adultos, porque precisam de mais água para se manterem saudáveis", diz Moura.>
O sistema de proteção contra a pobreza e de assistência social também fica pressionado pelos eventos climáticos extremos, complementa, o que dificulta ainda mais a assistência voltada às crianças.>
"O que a gente está fazendo [ao negligenciar o meio ambiente] é estreitar as possibilidades de quem as crianças podem ser que tipo de vida elas podem levar, onde podem morar, com o que podem trabalhar e que natureza vão conhecer", diz Moura.>
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