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Bolsonaro defendeu troca na PF para proteger a família, dizem investigadores

Bolsonaro defendeu troca na PF para proteger a família, dizem investigadores

Após quase três horas de exibição do vídeo da reunião ministerial ocorrida em 22 de abril no Palácio do Planalto, investigadores avaliam que a gravação pode complicar 'gravemente' o presidente

Publicado em 12 de maio de 2020 às 16:09

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Reunião ministerial em que Bolsonaro teria pressionado Moro para interferir na PF no Rio foi filmada
Reunião ministerial em que Bolsonaro teria pressionado Moro para interferir na PF no Rio foi filmada. (Marcos Correa/PR)

Investigadores que acompanharam nesta terça-feira (12) a exibição do vídeo da reunião ministerial ocorrida em 22 de abril no Palácio do Planalto avaliam que o conteúdo da gravação é ‘devastador’ para o presidente Jair Bolsonaro. Um deles destacou que a gravação ‘escancara a preocupação do presidente com um eventual cerco da PF a seus filhos’.

“O vídeo é ruim para Bolsonaro, muito ruim”, anotou. Segundo tal investigador, o vídeo da reunião ministerial ‘confirma que o presidente Jair Bolsonaro justificou a necessidade de trocar o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro à defesa de seus próprios filhos’, confirmando cabalmente as acusações do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro que atribui ao presidente tentativa de interferência na corporação.

O registro da reunião foi exibido nesta terça, a um restrito grupo de pessoas autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello, relator do inquérito sobre suposta tentativa de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na PF. A exibição foi realizada no Instituto Nacional de Criminalística da corporação em Brasília, ‘em ato único’ – conforme determinado por Celso de Mello – com participação de Moro, integrantes da Advocacia-Geral da União e procuradores e investigadores que acompanham o caso.

Após a exibição o advogado de Moro, Rodrigo Sánchez Rios, afirmou que o material ‘confirma integralmente’ as declarações dadas pelo ex-juiz tanto no anúncio de sua demissão quanto no depoimento prestado à Polícia Federal no último dia 2. Em nota, o advogado afirmou ainda que o vídeo ‘não possui menção a nenhum tema sensível à segurança nacional’ e defendeu que a íntegra da gravação seja tornada pública.

"ZERO PREOCUPAÇÃO"

Nesta segunda, 11, às vésperas da exibição do vídeo, Bolsonaro afirmou que tem ‘zero’ preocupação com a gravação e que decidiu entregar o vídeo pela ‘verdade acima de tudo’. No entanto, o presidente disse esperar que apenas trechos que envolvam o inquérito sejam divulgados. Ele afirmou que oda reunião foi ‘bruto’, pois era reservado e se fosse em público teria usado uma forma mais ‘polida’.

Antes de entregar a mídia ao Supremo, a Advocacia-Geral da União alegou que a gravação tratava de ‘assuntos potencialmente sensíveis de Estados’ e pediu para remeter apenas trechos. Depois pediu que a divulgação se restringisse aos trechos do inquérito e ainda pediu que fosse definida a cadeia de custódia da gravação.

ACUSAÇÕES GRAVES

Em depoimento à PF, Moro afirmou que, na reunião, da qual participaram ministros, Bolsonaro cobrou a substituição do superintendente do Rio e do então diretor-geral da polícia, Maurício Valeixo, além de relatórios de inteligência e informação da corporação. A troca da Superintendência do Rio é ponto central das investigações envolvendo uma possível interferência do presidente na corporação. Segundo o ex-ministro Sergio Moro, Bolsonaro tentava interferir na PF.

Após a saída de Moro, Bolsonaro conseguiu trocar o comando da PF no Rio.O novo diretor-geral da PF, Rolando Souza, decidiu trocar a chefia da Superintendência da PF no Rio de Janeiro, foco de interesse da família de Jair Bolsonaro, como revelou o Painel.

Segundo pessoas que assistiram o vídeo contaram à Folha, Bolsonaro chamou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seu desafeto, de “bosta”. A autoridades governo do Rio de Janeiro, reservou o termo “estrume”. O filme tem outros ?momentos que suscitariam constrangimento político para o governo.

Um dos presentes à exibição relatou que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) tinham de ir para a cadeia. O vídeo tem aproximadamente duas horas. O início da sessão para mostrá-lo atrasou porque foi necessário realizar o espelhamento da mídia, procedimento técnico de perícia, para assegurar a integridade dos arquivos originais. O procedimento durou quase três horas. Moro e os demais presentes tiveram que permanecer sem celular.

*Com informações da Folhapress

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