Publicado em 26 de julho de 2021 às 06:30
Conteúdo verificado: Posts no Facebook e no TikTok utilizam uma foto da atriz Luana Piovani e atribuem a ela uma fala segundo a qual a fraude nas eleições presidenciais estaria comprovada caso Jair Bolsonaro não fosse eleito em primeiro turno. Na fala, a pessoa ainda diz que não gostaria de ter filhas homossexuais.
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É falso o áudio atribuído à atriz Luana Piovani em que ela teria dito acreditar na possibilidade de urnas burladas caso Jair Bolsonaro não ganhasse no primeiro turno. Os posts, que viralizaram no Facebook e no TikTok e já circulavam desde 2018, trazem a inscrição “Nossa, finalmente, uma atriz lúcida” e, na gravação, a voz ainda diz não querer que “filhas fossem sapatas”. >
Ao ouvir o áudio com atenção, é possível perceber que não é a atriz falando. De qualquer forma, o Comprova procurou a assessoria de imprensa de Piovani, que negou a autoria do conteúdo. Em seguida, ainda na sexta-feira (23), Luana, que está em viagem na Turquia, gravou stories no seu Instagram também desmentindo ser ela no áudio. “Gente, eu não sou a favor do Bolsonaro, sou anti-Bolsonaro, esse áudio não sou eu, não é a minha voz”, disse ela.>
O primeiro passo do Comprova foi verificar se o áudio vinculado à imagem de Luana Piovani havia sido gravado pela atriz. Entramos em contato com a assessoria da artista no Brasil, por e-mail e por telefone, para que pudesse informar se a voz registrada na postagem era da Luana.>
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Também buscamos contato diretamente com a atriz, com mensagem por e-mail e telefone para sua assessoria de imprensa e para seu perfil no Instagram, canal pelo qual Luana acabou se manifestando posteriormente, em stories.>
Por fim, acionamos dois internautas que compartilharam a montagem da foto da artista com o áudio, mas não obtivemos retorno até o fechamento desta checagem.>
No áudio que circulou pela primeira vez em 2018 e que já havia sido desmentido, mas voltou a viralizar agora, a mulher afirma que, se Jair Bolsonaro não fosse eleito naquele ano, se mudaria para o exterior porque seria um indício de que as urnas teriam sido burladas, ou seja, fraudadas.>
O áudio também sugere que, no pleito anterior, em 2014, a vitória já estava assegurada para o candidato Aécio Neves (PSDB) e, “do nada”, Dilma Rousseff (PT) se reelegeu para a presidência.>
Naquele ano, a disputa eleitoral foi bastante acirrada e a petista venceu com 51,64% dos votos válidos. As teorias sobre supostas fraudes começaram logo em seguida, questionando a confiabilidade das urnas eletrônicas, e o PSDB – partido derrotado nas eleições – ingressou com um pedido de auditoria junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Um ano depois, relatório do próprio partido confirmou que não houve fraude, embora tenha defendido que o sistema não permitia uma auditoria externa independente e efetiva. O TSE argumenta que há diversas formas de auditar e recontar os votos. Recentemente, o Comprova fez uma checagem sobre o tema, reafirmando que não há evidências de irregularidades nas eleições de 2014.>
Bolsonaro foi eleito em outubro de 2018. Pouco depois, em janeiro de 2019, Luana Piovani mudou-se para Portugal, numa atitude diferente daquela descrita pela pessoa do áudio de que, se o então candidato não chegasse ao Palácio do Planalto, ela deixaria o país.>
Em abril deste ano, a atriz afirmou que o motivo de ir morar no exterior era a vontade de criar os filhos fora da “bolha” de celebridade, além da possibilidade de oferecer mais liberdade e segurança para as crianças, sem mencionar razões políticas.>
A postura de Luana Piovani nas redes sociais, entretanto, tem se mostrado frequentemente contrária aos posicionamentos de Bolsonaro e sua gestão na pandemia, como demonstra neste vídeo.>
Além de ser possível identificar que a voz não é da atriz, a mulher no falso áudio diz que tem “duas filhas”, o que não é o caso da atriz. Luana, conforme publicações em revistas e sites de celebridades e em seus posts em redes sociais, é mãe de dois meninos (Dom e Bem) e apenas uma menina (Liz). A informação está, inclusive, em sua descrição no Instagram.>
Em viagem a Istambul, na Turquia, a atriz gravou stories em seu perfil no Instagram logo depois que o Comprova procurou sua assessoria de imprensa. Além de se dizer “anti-Bolsonaro” e negar a autoria do áudio viral, Luana pediu: “Pelo amor de deus, não cansem minha beleza”.>
Acrescentou que, se tivesse votado nas eleições presidenciais de 2018, teria escolhido Marina Silva, então candidata pela Rede Sustentabilidade. Antes de finalizar os stories, afirmou ser “anti-Lula também” e pediu novamente: “Pelo amor de deus, não diz que eu sou Bolsonaro, não, que me dói até a barriga”.>
Não foi a primeira vez que a atriz teve seu nome envolvido em desinformação. Áudios falsos atribuídos a ela e com apoio a Bolsonaro, como o verificado aqui, circulam desde 2018, e já foram checados por veículos como G1 e Veja SP. A atual postagem também foi verificada pela Agência Lupa.>
Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal, eleições e a pandemia que tenham atingido alto grau de viralização. O conteúdo verificado aqui atingiu 62,2 mil interações no Facebook até 23 de julho.>
No falso áudio – que, como afirmado anteriormente, já circulava em 2018 –, a voz feminina fala em fraude nas urnas nas últimas eleições presidenciais, mesmo discurso que o presidente Bolsonaro vem pregando desde antes de ser eleito. Conteúdos como esses geram desinformação e reforçam a impressão sem fundamento de que o processo eleitoral brasileiro não é seguro, colocando em xeque a própria democracia.>
Recentemente, o Comprova publicou verificações semelhantes, sobre conteúdos que questionavam o sistema eleitoral brasileiro, como postagens que afirmavam falsamente que urnas usadas aqui haviam sido hackeadas nos Estados Unidos e que um vídeo mostrava fraude nas eleições de 2014. No ano passado, o projeto mostrou que o sistema de votação eletrônica pode ser auditado e que a Smartmatic nunca vendeu urnas para o Brasil.>
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.>
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