Publicado em 22 de novembro de 2019 às 19:40
FOLHAPRESS - Com a perspectiva de repetição do antagonismo visto na eleição de 2018 entre Jair Bolsonaro e Lula, agora solto, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou nesta sexta-feira (22) haver uma demonização da polarização política no país. >
O objetivo, segundo ela, é viabilizar o centro como única opção, uma vez que o centro político é a favor de uma economia liberal --responsável pela desigualdade do país, na visão dela. >
Dilma falou em palestra que antecedeu o 7º Congresso Nacional do PT, em São Paulo. O ato de abertura terá a presença de Lula na Casa de Portugal, que abriga o evento petista até domingo (24). No congresso, Gleisi Hoffmann deve ser reeleita presidente da sigla para um novo mandato de quatro anos. >
A fala de Dilma girou em torno do ataque ao neoliberalismo. "A política que defende que há só o consenso de centro e não há posições diferentes no cenário político é eminentemente uma política liberal. Porque o centro defende que um país com desigualdade brutal não pode ter politicas de contraposição", afirmou.>
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"A polarização nós não inventamos como país. O próprio IBGE diz que tem uma concentração de renda em que pobre ganha só 0,8% da renda nacional, enquanto os 10% mais ricos ganham 43%. Como que não tem polarização? Aonde que não tem polarização? Se você está excluído da riqueza do seu país", completou, arrancando aplausos da plateia. >
"Como não polarizar diante do fato de que querem cobrar imposto dos desempregados?", questionou, antes de mencionar que também há polarização na questão da Petrobras e da proteção da Amazônia. >
Dilma afirmou ainda que o país não é "polarizado porque alguém quer", em referência aos embates entre Lula e Bolsonaro. "É polarizado porque, infelizmente, é a herança de uma elite cega, oligárquica, que sempre defendeu só seus interesses.">
Lula, em suas falas desde que deixou a prisão, no último dia 8, tem dito que o PT deve polarizar. "O PT tem que polarizar mesmo, tem que disputar para valer", afirmou em entrevista na quarta (20). >
Dilma também afirmou que, para que houvesse uma hegemonia neoliberal, foi preciso enfraquecer os partidos, o que permitiu o surgimento da extrema-direita. "Nós somos diferentes do resto do mundo numa coisa, aqui o neofascismo tomou o governo, aqui ele teve uma vitória", afirmou. >
"O que mostra o verdadeiro caráter do neoliberalismo, que é excludente, concentrador de renda, antissocial, antipopular, mas sobretudo no caso do Brasil. [...] Nossa luta democrática pela eleição não é só uma luta contra o neofascismo, é uma luta contra o neoliberalismo e a desigualdade.">
Dilma falou em palestra que tinha como foco a América Latina e da qual participaram Gleisi, Fernando Haddad, Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores, e José Luis Rodrigues Zapatero, ex-primeiro-ministro da Espanha, entre outros.>
A ex-presidente afirmou que vivemos a volta dos golpes de Estado tradicionais ao comentar a situação da Bolívia com a renúncia de Evo Morales. Para a petista, há interferência dos EUA e uma tentativa de reenquadrar a América Latina como seu quintal. >
Após a palestra de Dilma, os cerca de 800 delegados do congresso, além de militantes e convidados, aguardavam pelo discurso de Lula na Casa de Portugal. >
Após decisão do Supremo Tribunal Federal contra a prisão de condenados antes do trânsito em julgado (fim dos recursos) e que permitiu a soltura de Lula, a presença do ex-presidente fez com que o congresso do partido tivesse que ser repensado. A direção do PT tentou mover às pressas a abertura para a praça da República, mas problemas de logística e chuva impediram.>
Petistas da cúpula do partido esperam que o discurso de Lula seja mais elaborado e pensado do que os anteriores, considerados um desabafo de quem esteve 580 dias preso. A ideia, dizem, é olhar mais para frente do que para trás e oferecer uma alternativa ao país, com foco em economia, soberania e democracia.>
Há ainda uma preocupação de que Lula não faça ataques diretos a Bolsonaro, o que faria o presidente crescer em sua base.>
O congresso do PT discutirá, entre outros assuntos, as alianças para a eleição de 2020 e a oposição a Bolsonaro.>
Lula já enfatizou a necessidade de que o partido tenha candidaturas próprias no maior número de cidades e lance seus melhores quadros. A estratégia é usar as campanhas petistas e o tempo de TV em 2020 para fazer uma defesa do partido, do seu legado e dele próprio em meio aos processos da Lava Jato.>
A forma de organizar a oposição ao governo federal também será tema do congresso. Ao final, o PT apresenta uma resolução que guia os rumos do partido. O documento terá como base a tese defendida pela corrente majoritária do PT, a CNB (Construindo um Novo Brasil).>
Líderes da corrente dizem que pedir impeachment será palavra vazia, pois não há crime de responsabilidade nem mobilização social ou maioria parlamentar para dar sustentação a isso. >
A tese da CNB, que será debatida pelos petistas e pode receber alterações, fala em buscar o centro numa ampla frente contra Bolsonaro. >
Gleisi afirmou que as prioridades do partido serão "fazer a mais firme oposição ao governo Bolsonaro, que está destruindo o país; apresentar propostas para superar a grave crise que faz o povo sofrer e fortalecer o partido nas eleições municipais".>
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