Publicado em 23 de setembro de 2020 às 08:06
Em seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira (22), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez um apelo à comunidade internacional "pela liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia", sem especificar onde esses problemas seriam fonte de preocupação. Caso se referisse ao Brasil, o presidente seria contrariado por dados do próprio governo. >
O balanço mais recente divulgado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos apontou que pelo menos 30% das denúncias de intolerância religiosa no país foram dirigidas a adeptos de religiões de matrizes africanas. É bastante provável que o número real seja maior, uma vez que 51,5% das denúncias recebidas não identificam a crença da vítima.>
Um relatório do Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos apontava uma proporção bem maior: de 1.014 casos registrados entre abril de 2012 e agosto de 2015, os adeptos dessas religiões seriam 71% das vítimas de intolerância.>
Outro documento, elaborado pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, registrou 200 casos de intolerância contra religiões de matrizes africanas nos primeiros nove meses de 2019. O número mais que dobrou: no ano anterior, foram 95.>
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De acordo com o censo de 2010, apenas 558 mil pessoas -ou 0,3% da população- se identificavam como praticante de umbanda ou candomblé.>
As denúncias que tiveram cristãos como alvo foram 13,6% em 2018. Segundo o IBGE, 87% dos brasileiros se identificavam como cristãos em 2010. Numa pesquisa do Datafolha realizada em 2016, essa porcentagem caía para 79%. Ainda que cristãos sejam maioria, a declaração do presidente no discurso -de que "o Brasil é um país cristão e conservador"- fere o princípio constitucional do Estado laico.>
Em outros países, a perseguição sistemática a cristãos é um problema real. Segundo a ONG americana Open Doors, 260 milhões de cristãos no mundo residem em países nos quais são minoria perseguida.>
Em 2019, diz a entidade, 2.983 cristãos foram mortos por razões relacionadas à fé, e 9.488 igrejas ou construções relacionadas de alguma forma ao cristianismo sofreram algum tipo de ataque.>
Os países mais cristofóbicos, segundo a ONG, são a Coreia do Norte -onde o Estado é oficialmente ateu e reprime práticas religiosas não autorizadas-, o Afeganistão -onde é ilegal deixar o islamismo- e a Somália. A maior parte dos 50 países nos quais a perseguição a cristãos é considerada preocupante está no norte da África, no Oriente Médio e no sudeste asiático.>
Na América Latina, o único país citado no relatório é a Colômbia. Ainda que lá a proporção de cristãos seja ainda maior do que no Brasil (95%), há registros de violência vinda de facções criminosas contra grupos missionários envolvidos em missões de paz.>
Os Emirados Árabes Unidos, que receberam um aceno de Bolsonaro no discurso na ONU, são considerados cristofóbicos pela ONG, ocupando a 47ª posição de 50. Lá, o proselitismo e a conversão são proibidos. Os cidadãos não podem mostrar publicamente cruzes e outros símbolos cristãos, e as mulheres muçulmanas não podem se casar com homens de outras religiões.>
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