Publicado em 24 de julho de 2021 às 15:35
O consumidor poderá ter uma conta extra de mais R$ 3,6 bilhões na conta de luz para evitar que o país sofra um apagão de energia. >
Na quinta (22), o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) acendeu novo alerta com uma nota técnica sobre os desafios diante do cenário de grave crise nos reservatórios de hidrelétricas, sinalizando que a capacidade de geração de energia no país poderá ser levada ao seu limite.>
Se a crise continuar tão grave quanto agora, o ONS prevê que praticamente todos os recursos das hidrelétricas se esgotem até novembro.>
Apesar de não ver ainda riscos de desabastecimento, o operador indica que as "sobras" de potência -necessárias para atender eventuais picos de demanda ou garantir a estabilidade do sistema mesmo em casos de falhas eventuais na oferta- poderão se esgotar no penúltimo mês do ano.>
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Para manter os reservatórios e o fornecimento de energia, foram gastos de janeiro a maio R$ 3,632 bilhões, ou cerca de R$ 726,4 milhões mensais, com o acionamento de usinas térmicas mais caras (fora da chamada ordem de mérito de custo) e poluentes. Esse valor é repassado ao consumidor nas bandeiras tarifárias, acionadas quando a produção de energia encarece.>
Segundo a Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia), custo semelhante, na casa dos bilhões, deve ocorrer até novembro, quando termina o período seco, para manter essas térmicas ligadas e evitar o colapso das hidrelétricas até que o período chuvoso se inicie. E, novamente, a conta deverá ser repassada para o consumidor.>
Segundo Reginaldo Medeiros, presidente-executivo da Abraceel, a possibilidade de usar as usinas mais caras existe exatamente para momentos de crise, como o atual.>
"É a crise mais grave em um século e não há muito mais a ser feito, além de usar todos os recursos disponíveis para evitar um racionamento. Vai sair mais caro, mas ninguém quer ficar sem luz", diz.>
Novembro é justamente quando, em tese, tem início o chamado período molhado, que vai até março ou abril, e é quando historicamente há maior volume de chuvas nas regiões das hidrelétricas com grandes reservatórios.>
Medeiros acrescenta que, apesar do medo de um novo racionamento, o momento atual é diferente daquele vivido no apagão de 2001. "O sistema elétrico é outro. Antes, era fundamentalmente hidráulico; agora, há mais fontes disponíveis e um sistema mais eficiente de transmissão.">
O sinal vermelho foi ligado após o ONS elevar a previsão de carga e considerar uma menor e mais "realista" disponibilidade térmica para atender a demanda de energia, conforme a nota técnica.>
O cenário, de acordo com o ONS, "resulta em uma degradação dos níveis de armazenamento ao fim do período seco quando comparado com os resultados do estudo prospectivo anterior, em especial dos subsistemas Sul e Nordeste".>
"Com relação ao atendimento aos requisitos de potência, observam-se sobras bastante reduzidas no mês de outubro, com o esgotamento de praticamente todos os recursos no mês de novembro", afirmou o ONS, em sua nota técnica.>
O aumento da previsão de carga se deu, segundo o órgão, após um crescimento das atividades do comércio e serviços, além da manutenção do ritmo alto da produção industrial.>
A atualização do estudo incorpora as flexibilizações de restrições hidráulicas já autorizadas e considera o aumento do PIB para 4,5% ao ano, em vez dos 3% ao ano que até então era usados como parâmetro. Já o governo trabalha com uma previsão de 5,3%.>
Em contrapartida, o ONS frisou em comunicado que, nos dois cenários considerados na nota técnica, "não há risco de desabastecimento elétrico, mesmo diante das piores sequências hidrológicas de todo o histórico de vazões dos últimos 91 anos". A fonte hídrica é a principal geradora de energia do país.>
O professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Maurício Tolmasquim afirma que o cenário de oferta apertada apresentado pelo ONS traz alerta para eventuais riscos de apagões de energia pontuais em momentos de picos de demanda ou caso haja qualquer problema na oferta.>
"A situação mais complicada, que demanda mais atenção, continua sendo a do atendimento no horário de ponta. Como estará apertado em termos de sobras, qualquer aumento inesperado da demanda ou falha na oferta. pode trazer um problema", diz.>
Tolmasquim, que também foi presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), diz que como o sistema brasileiro é interligado, blecautes pontuais podem ser restritos ou alcançar grandes regiões.>
Em meio à crise, a agenda do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, ficará mais de 20 dias em viagem internacional e férias entre o fim de julho e agosto. A agenda de Albuquerque prevê compromissos na Itália e nos Estados Unidos.>
A pasta diz que, mesmo em viagem a serviço ou em férias, o ministro continuará atento e acompanhando todos os desdobramentos da atual conjuntura "e, a qualquer momento em que se faça necessária a sua presença, interromperá a viagem/férias, aliás, como já ocorreu em ocasiões anteriores".>
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