Publicado em 22 de maio de 2020 às 13:40
Um estudo realizado com mais de 96 mil pacientes internados concluiu que o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina em pacientes com o novo coronavírus, mesmo quando associados a outros antibióticos, aumenta o risco de morte por arritmia cardíaca em até 45% nos infectados pela covid-19. Esta é a maior pesquisa realizada até o momento sobre os efeitos que essas substâncias têm no tratamento do vírus. >
"Nós fomos incapazes de confirmar qualquer benefício da cloroquina ou da hidroxicloroquina em resultados de internação pela covid-19. Ambas as drogas foram associadas à diminuição de sobrevivência dos pacientes internados e a um aumento da frequência de arritmia ventricular quando usadas no tratamento da covid-19", conclui o estudo liderado pelo professor Mandeep Mehra, da Escola de Medicina de Harvard, e publicado nesta sexta-feira, 22, na revista Lancet.>
A pesquisa foi realizada com pacientes de 671 hospitais em todo o mundo, internados entre 20 de dezembro de 2019 e 14 de abril deste ano.>
Das 96 mil pessoas analisadas, cerca de 15 mil foram tratadas com alguma variação ou combinação da cloroquina.>
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Entre os pacientes que tomaram a hidroxicloroquina, houve aumento de 34% no risco de mortalidade e de 137% no risco de arritmias cardíacas graves. Quando combinada com antibióticos, a droga aumentou em até 45% o risco de morte nos pacientes e em 411% a chance de arritmia cardíaca grave.>
Na quarta-feira, 20, o Ministério da Saúde liberou a cloroquina para todos os pacientes de covid-19. Em documento, o ministério recomendou a prescrição do medicamento desde os primeiros sinais da doença causada pelo coronavírus.>
Embora não haja comprovação científica da eficácia do medicamento contra a doença, o Ministério da Saúde alegou, no documento, que o Conselho Federal de Medicina autorizou recentemente que médicos receitem a seus pacientes a cloroquina e a hidroxicloroquina, uma variação da droga.>
O próprio presidente Jair Bolsonaro, que defende o uso do medicamento, disse que ele não tem comprovação científica de combate à doença, mas comparou a indicação do remédio à luta em uma guerra para justificar a defesa de liberá-lo para todos os pacientes.>
"Ainda não existe comprovação científica. Mas sendo monitorada e usada no Brasil e no mundo. Contudo, estamos em Guerra: 'Pior do que ser derrotado é a vergonha de não ter lutado'.Deus abençoe o nosso Brasil!", escreveu o presidente em redes sociais ao comentar o novo protocolo, divulgado pelo Ministério da Saúde, para a prescrição do remédio.>
A defesa de Bolsonaro do uso da cloroquina levou à queda dos ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.>
Diversos estudos já comprovaram que não há eficácia comprovada da droga no combate ao novo coronavírus. Somente neste mês de maio, alguma das mais importantes revistas médicas do mundo - New England Journal of Medicine (NEJM), o Journal of the American Medical Association (Jama) e o British Medical Journal (BMJ) - publicaram estudos com resultados nada promissores.>
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também já havia alertado para os efeitos do uso cloroquina. A entidade já afirmou que não há eficácia comprovada do medicamento e aconselhou uso apenas em estudos clínicos. A recomendação foi feita na quarta-feira.>
"Uma nação soberana tem o direito de aconselhar seus cidadãos sobre qualquer medicamento. Mas gostaria de destacar que, até agora, a cloroquina e a hidroxicloroquina não foram identificadas como eficazes para tratar a covid-19. Diversas autoridades já emitiram alertas sobre efeitos colaterais. A OMS aconselha que esse medicamento seja utilizado apenas em estudos clínicos supervisionados por médicos em ambiente hospitalar, como já ocorre em diversos países", disse o diretor do programa de emergências do órgão, Michael Ryan.>
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