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Cientistas propõem uso de tesoura genética para destruir novo coronavírus

Cientistas propõem uso de tesoura genética para destruir novo coronavírus

Um grupo de cientistas da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, está propondo o uso de uma técnica de edição genética  para picotar o novo coronavírus e impedir sua replicação dentro das células humanas

Publicado em 4 de maio de 2020 às 15:41

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Coronavírus: vírus causa grave infecção no corpo
Cientistas propõem uso de tesoura genética para destruir novo coronavírus. (Radoslav Zilinsky/Getty Images)

Um grupo de cientistas da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, está propondo o uso de uma técnica de edição genética, conhecida como Crispr, para picotar o novo coronavírus e impedir sua replicação dentro das células humanas.

A proposta dos cientistas, feita em um artigo científico publicado na revista Cell e testada em cultura de células, é usar o sistema como uma tesoura que reconhece o genoma do vírus instalado dentro da célula e faz um corte para impedir que o aparato de geração de cópias do agente infeccioso funcione.

A publicação está disponível no site do periódico científico em uma versão ainda não finalizada, mas já revisada por outros pesquisadores.

O novo coronavírus entra na célula e libera o RNA -onde está o material genético do invasor. Uma vez dentro, o vírus usa a própria célula para produzir cópias de si mesmo. Essas cópias partem dali para infectar outras células.

"O sistema Crispr é um arsenal que as bactérias usam para se proteger dos vírus", diz a bióloga Natália Pasternak, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. "Toda a ideia [do artigo] é baseada na técnica das bactérias, que usam enzimas para reconhecer determinadas sequências no RNA do vírus e as cortam, inviabilizando o vírus", explica.

As pesquisas em terapias que usam as técnicas de edição genética para combater doenças são recentes e se intensificaram a partir dos anos 2000.

Os pesquisadores treinaram enzimas para encontrar um alvo no RNA do novo coronavírus e cortá-lo. Para que a técnica funcione, é necessário mirar partes do vírus que são essenciais para ele. "É uma estratégia muito elegante", afirma a bióloga.

Os pesquisadores testaram a técnica para destruir partes artificiais do novo coronavírus e do vírus causador da H1N1 e verificar a viabilidade do mecanismo. O laboratório onde o experimento foi conduzido não tem permissão para o manuseio do novo coronavírus ativo, que exige um espaço com maior segurança. A saída foi fazer o teste com as partes artificiais do vírus.

Segundo os resultados publicados, o mecanismo reduziu significativamente a presença do vírus em células do epitélio respiratório --a camada que reveste boa parte de órgãos do sistema respiratório e onde o novo coronavírus se instala. Mas os autores do artigo lembram que os estudos ainda são preliminares e o desenvolvimento total do método pode levar algum tempo.

"É uma técnica interessante, mas [o artigo] é só uma amostra inicial. Está longe ainda de ser algo que possamos usar no dia a dia para proteger as pessoas das infecções", afirma Carlos Menck, biólogo e pesquisador do Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células-Tronco da USP.

Um dos maiores desafios da técnica, segundo os especialistas, é o desenvolvimento de um sistema capaz de entregar esse mecanismo para o corpo. Como a urgência agora é pela busca de um tratamento para um mal respiratório, como o causado pela Covid-19, o mais viável seria montar um esquema de inalação por boca e nariz.

"Fazer a técnica funcionar em cultura de células é mais fácil. Mas o vírus ativo e se replicando coloca uma outra situação. É mais complicado colocar esse sistema dentro do pulmão e fazer com que ele chegue até as células certas. Esse é o maior desafio", afirma Pasternak.

Mesmo que o mecanismo não esteja completamente viável durante a atual pandemia, os cientistas acrescentam que ele seria um bom escudo para ser usado contra vírus desconhecidos que possam aparecer no futuro.

"Com algumas adaptações, a técnica pode ser usada contra outros vírus. Considerando que antivirais são difíceis de produzir, com essa técnica estaríamos mais bem preparados para o futuro. Esse é o maior valor dessa pesquisa", conclui Pasternak.

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