Publicado em 22 de maio de 2020 às 14:59
Um mês após cidades do interior e do litoral de São Paulo flexibilizarem a quarentena decretada pela pandemia do novo coronavírus, os casos de Covid-19 cresceram mais nelas do que na média do estado. >
Entre os dias 22 e 23 de abril, 19 cidades paulistas abriram parcialmente seu comércio, cada uma a seu modo. Enquanto houve locais em que apenas óticas e estacionamentos perto de unidades de saúde tiveram o funcionamento permitidos, em outras o afrouxamento de medidas incluiu o funcionamento do comércio com portas entreabertas ou serviços como salões de beleza.>
Somadas, elas passaram de 574 casos confirmados da doença para 3.424 em um mês, alta de 496,51%, enquanto no estado o crescimento foi de 338,97% -de 15.914 casos para 69.859.>
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As mortes também avançaram mais nessas localidades, passando de 41, em 22 de abril, para 196, ou 378,04% a mais. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, São Paulo tinha 1.134 óbitos naquela data, enquanto nesta quinta-feira (21) chegou a 5.363, 372,92% a mais.>
Prefeituras ouvidas pela reportagem negam que a abertura de atividades tenha contribuído para o crescimento de casos acima da média.>
O cenário de avanço das confirmações fez o governador João Doria (PSDB) voltar a falar em possível adoção de "lockdown" no estado. Os casos da doença têm aumentado mais em todas as regiões do que na região metropolitana, epicentro da Covid-19 no país. "Vamos fazer um esforço nesses seis dias, de hoje até segunda-feira, na capital, na região metropolitana, no interior e no litoral, para evitar medidas mais duras e mais restritivas", disse.>
Na quarta-feira (20), o índice de isolamento social no estado foi de 49%, mas em alguns locais do interior, como Presidente Prudente e Araçatuba, ficou em apenas 40%.>
Em Jundiaí, onde os casos da doença passaram, no período, de 101 para 557 (451,48% de alta), enquanto as mortes subiram de 9 para 41 (355,55% mais), a prefeitura alega que, ao contrário do que ocorre em outros municípios, foi colocado em prática um protocolo de ampla testagem da população.>
Segundo Tiago Texera, gestor da UGPS (Unidade de Gestão de Promoção da Saúde), o inquérito epidemiológico para avaliação do cenário do novo coronavírus deve alcançar 5% do total de habitantes durante a pesquisa.>
Em abril, eram 25 os testes diários, enquanto agora estão sendo testadas 450 pessoas todos os dias.>
"A alteração dos números oficiais está diretamente associada à capacidade de testes, que tira os casos positivos da subnotificação." A cidade comprou 10 mil testes rápidos e recebeu a mesma quantidade do Ministério da Saúde, além de 2.000 exames PCR.>
Embora essas 19 cidades tenham afrouxado a quarentena e permitido o retorno de algumas atividades econômicas, em algumas a Justiça determinou a suspensão das medidas de flexibilidade ou as prefeituras recuaram. Jundiaí foi uma delas, assim como Sorocaba, Ilhabela, Sertãozinho, Cravinhos e Jaboticabal, entre outras.>
Em Brodowski, a prefeitura recuou por conta própria. Após o prefeito José Luiz Peres (PSDB) ter recebido diagnóstico de infecção pelo coronavírus e ficar internado, o decreto de revogação foi assinado pela vice, Elenice Sanches Rodrigues Tonello. Peres já se recuperou da Covid-19.>
Em Sorocaba, onde a Justiça determinou o fechamento do comércio no dia 28 de abril, menos de uma semana após a abertura, os casos da doença subiram de 71 para 577 (712,67% de alta), enquanto as mortes avançaram de 13 para 33 (153,84% mais). A cidade tinha permitido o funcionamento de salões de beleza, lava-rápidos e escritórios, por exemplo.>
Já em Barretos, os casos passaram de 57 para 180, alta de 215,78%. Hoje há 8 mortes, 6 a mais do que há um mês.>
Para o secretário da saúde, Alexander Stafy Franco, a liberação das atividades econômicas não contribuiu para o aumento de casos. "Não houve uma liberação do comércio. O que houve foi a regulamentação dentro de critérios rígidos para evitar a contaminação, alinhada com medidas mais duras, como a exigência de máscaras em locais fechados e maior intensificação na fiscalização e punição", disse.>
Cabeleireiros, profissionais liberais, ambulantes, oficinas e clínicas tiveram permissão para operar, seguindo medidas como o uso de máscaras, distanciamento entre as pessoas e disponibilização de álcool em gel.>
De acordo com ele, os números, assim como em Jundiaí, estão mais vinculados ao aumento de testagem. "No início, apenas casos graves e profissionais da saúde eram testados, mas, com a chegada de novos kits, o universo ampliou-se e novos casos foram comprovados. A prefeitura tem buscado também, ao contrário de outros lugares, reduzir a taxa de subnotificações, para traçar um panorama mais próximo ao cenário real e tomar decisões mais assertivas.">
Em Jaguariúna, que liberou o funcionamento de hotéis e bancas de jornais, o prefeito Gustavo Reis (MDB) disse que tinha feito um decreto mais restritivo que o do governador Doria e que, ao permitir a operação desses estabelecimentos, adequou-se às normas estaduais.>
"Jaguariúna é uma cidade internacional, recebe executivos da China, dos EUA, do Japão, já que temos muitas empresas multinacionais aqui. Por isso, determinei o fechamento [de hotéis] em função da possibilidade de migração ou de fluxo de pessoas de outros países", disse.>
A cidade, que permitiu também a operação de uma feira livre a partir deste sábado (23), passou de 6 para 42 casos (600% mais) no intervalo de um mês. Barreiras sanitárias na entrada do município têm sido adotadas desde o início da pandemia.>
"É um desafio diário na questão de comerciantes querendo abrir, outra parte pautando pela saúde, pela vida, pedindo o fechamento. Temos de ter um equilíbrio grande.">
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