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Bolsonaro minimiza impopularidade na crise, apontada por Datafolha

Bolsonaro minimiza impopularidade na crise, apontada por Datafolha

As declarações foram dadas em entrevista na porta do Palácio da Alvorada. O presidente ainda criticou e chamou de "impatriótica" a pergunta sobre o levantamento, publicado pelo jornal Folha de S.Paulo nesta segunda-feira

Publicado em 23 de março de 2020 às 18:41

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Jair Bolsonaro e ministros de Estado participam de videoconferência com representantes da iniciativa privada
Bolsonaro minimiza popularidade na crise e chama de impatriótica pergunta sobre Datafolha. (Isac Nobrega/PR | Arquivo)

O presidente Jair Bolsonaro minimizou nesta segunda-feira (23) o resultado da pesquisa Datafollha segundo a qual governadores e o Ministério da Saúde têm avaliação bem melhor que a dele em relação à condução da crise do coronavírus.

As declarações foram dadas em entrevista na porta do Palácio da Alvorada. O presidente ainda criticou e chamou de "impatriótica" a pergunta sobre o levantamento, publicado pelo jornal Folha de S.Paulo nesta segunda-feira.

Em meio aos dados da pesquisa e de embates públicos com governadores, Bolsonaro disse que fará reuniões por videoconferência com gestores do Norte e do Nordeste nesta segunda-feira.

A pesquisa do Datafolha mostra que Bolsonaro tem sua gestão da pandemia aprovada por 35%, enquanto governadores são vistos como ótimos ou bons em seu trabalho por 54%. Mesmo o Ministério da Saúde é mais bem avaliado que o presidente: 55% aprovam o trabalho da pasta de Luiz Henrique Mandetta.

O instituto ouviu 1.558 pessoas de 18 a 20 de março. Feita por telefone para evitar contato com o público, ela tem margem de erro de três pontos para mais ou para menos.

"Você está preocupada com popularidade minha e do Mandetta? Se você acredita no Datafolha. O presidente da República e seus ministros estão trabalhando há semanas para minimizar os efeitos do coronavírus. As vidas das pessoas estão em primeiro lugar", disse, após ser questionado sobre os resultados do levantamento.

Bolsonaro ainda chamou de infame a pergunta sobre os dados da pesquisa.

"A imprensa é importantíssima para divulgar a verdade, mas não é com pergunta como essa, feita por essa senhora [repórter] aqui do meu lado. É uma pergunta impatriótica, que vai na contramão do interesse do Brasil, que leva ao descrédito da imprensa brasileira. É uma pergunta, me desculpe, infame até."

"Vão dizer que estou agredindo a imprensa, se estou agredindo, saiam da frente do Alvorada", completou, em referência aos jornalistas que fazem plantão em frente à residência oficial da Presidência.

Em referência a atitudes que já classificou como exageradas por parte de governadores, Bolsonaro disse que a "dose do remédio não pode ser excessiva de modo que o efeito colateral seja mais danoso".

O presidente voltou a dizer que não pode haver pânico na população e que o governo busca evitar alongar a curva de contaminação já que não há como evitar o vírus.

"Aí vem uma pergunta de que a popularidade do Mandetta está melhor do que a minha. Vá às favas. Será que não tem mais inteligência na imprensa brasileira para fazer uma pergunta à altura do Brasil?"

Ainda em entrevista na frente do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que, apesar do avanço do coronavírus, não é hora de se discutir o adiamento das eleições municipais, como defendeu o ministro da Saúde neste domingo (22).

"Não entro nessa seara. [...] Mas está muito longe eu acredito que nas próximas semanas o Brasil terá um novo horizonte para a questão do vírus", disse o presidente.

As eleições estão marcadas para outubro.

Bolsonaro tem protagonizado episódios polêmicos desde que o novo coronavírus tornou-se o tema central de governos de todo o mundo, nas últimas semanas.

Primeiro, o presidente minimizou o perigo, dizendo que se tratava de "histeria" propalada pela mídia.

Depois, insuflou manifestações públicas em seu favor e contra outros Poderes.

No dia 15, participou de ato e abraçou pessoas mesmo estando sob recomendação de isolamento devido aos casos de contaminação na comitiva de sua viagem aos EUA.

A esses episódios se colocaram em oposição governadores como João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ), que têm enfrentado com graus draconianos diferentes a crise, mas adotando atitudes proativas enquanto criticam o Planalto.

O paulista, particularmente, tem buscado apresentar-se como um líder mais responsável e com apelo nacional -no sábado (21), sugeriu que moradores do estado colocassem bandeiras do Brasil em suas janelas como forma de união na crise.

Mesmo Mandetta acabou na linha de tiro de Bolsonaro, já que desobedeceu o chefe e apoiou pessoalmente os esforços de Doria, que governa o estado mais afetado do país.

A situação aparentemente se acalmou quando o ministro participou de entrevista coletiva com Bolsonaro na quarta (18), na qual teceu vários elogios ao presidente.

Como a Folha de S.Paulo mostrou no domingo (22), a população brasileira está assustada com a emergência sanitária causada pela pandemia. Para 88%, trata-se de uma questão séria.

Além dos 36% que se dizem com muito medo, há outros 38% que relatam ter um pouco de temor. A chance de ser infectado pelo patógeno é estimada como possível por 83% (20% alta, 33% média e 30%, baixa).

Hábitos diversos foram mudados e, para 73%, medidas mais duras como a quarentena que foi anunciada por São Paulo no sábado (21) são necessárias e desejáveis.

O comportamento do presidente continua sendo um fator de divisão. Para 20%, ele se comporta de maneira adequada ao cargo sempre, e 27% acham que ele o faz na maioria das vezes.

Na outra metade, 26% creem que Bolsonaro não se porta como um presidente, e 20%, que ele é assim na maior parte das vezes.

O grupo que rejeita totalmente a forma com que Bolsonaro se comporta salta para 34% entre aqueles com nível superior, grupo que usualmente dá mais apoio a ele.

A pesquisa apresenta um quadro desafiador e nuançado para o presidente, que vinha perdendo apoio político de forma acelerada devido à crise com o Congresso acerca do manejo de R$ 30 bilhões do Orçamento.

A questão esteve no cerne dos atos contra o Legislativo e o Supremo Tribunal Federal no dia 15, que não foram maciços, mas reverberaram pela presença de Bolsonaro.

A crise agora ganhou o componente imprevisível do coronavírus, que exigirá respostas políticas responsáveis, mas que serão consideradas ativos eleitorais em 2022.

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