Publicado em 11 de junho de 2021 às 14:18
Após anunciar que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, estava preparando um "parecer visando desobrigar" o uso de máscara por pessoas imunizadas contra a Covid ou que já haviam sido infectadas pelo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira (11) que caberá a seu auxiliar, a prefeitos e a governadores dar a palavra final sobre o assunto. >
"Ontem [quinta-feira (10)] pedi para o ministro da Saúde fazer um estudo sobre máscara. Quem já foi infectado e quem tomou a vacina não precisa usar máscara. Mas quem vai decidir é ele, vai dar um parecer. Se bem que quem decide na ponta da linha é governador e prefeito. Eu não apito nada, né? Segundo o Supremo, quem manda são eles. Mas nada como você estar em paz com a sua consciência", disse Bolsonaro a jornalistas na entrada do Palácio da Alvorada antes de embarcar para uma agenda no Espírito Santo. >
Ao discursar em uma cerimônia de anúncios de medidas para o setor do turismo na tarde de quinta-feira, Bolsonaro disse que havia solicitado a Queiroga um parecer para desobrigar o uso do equipamento de proteção. >
A declaração de Bolsonaro foi dada horas depois de a CPI da Covid no Senado aprovar a quebra de sigilo telefônico e telemático dos ex-ministros Eduardo Pazuello (Saúde) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e de integrantes do chamado "gabinete paralelo", estrutura de aconselhamento do presidente para temas ligados à pandemia e com defesa de teses negacionistas. >
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Em uma fala que não estava prevista no roteiro original do evento no Palácio do Planalto, ele anunciou que daria uma notícia aos jornalistas que acompanhavam o ato. >
"Olha a matéria para a imprensa amanhã, vou dar matéria para vocês aqui. Acabei de conversar com um tal de Queiroga, não sei se vocês sabem quem é. Nosso ministro da Saúde", iniciou Bolsonaro. >
"Ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscara por parte daqueles que estejam vacinados ou que já foram contaminados para tirar este símbolo que, obviamente, tem a sua utilidade para quem está infectado", afirmou o presidente mostrando a máscara que usava ao chegar à cerimônia, mas que tirou para discursar. >
Logo após esta declaração, especialistas começaram a criticar a intenção de abolir o uso de máscaras. >
O baixo número de pessoas completamente vacinadas contra a Covid-19 (cerca de 11% da população) e a alta taxa de transmissão do vírus, com a média móvel de novos casos da doença acima de 50 mil por dia, não permitem que a população deixe de usar as máscaras neste momento --incluindo os que já receberam algum imunizante ou já foram infectados pelo Sars-CoV-2. >
Queiroga também foi instado a se manifestar sobre o assunto. O ministro da Saúde disse no início da noite de quinta que o país precisava avançar na vacinação para a medida. >
"Queremos que [o não uso da máscara] seja o mais rápido possível, mas para isso precisamos vacinar a população brasileira e avançar", disse ele em entrevista na saída do ministério. >
Pouco depois, porém, o Ministério da Saúde divulgou um vídeo em que Queiroga confirma que fará um estudo sobre o tema e atribui o pedido do presidente a medidas adotadas em outros países. >
Segundo o ministro, Bolsonaro "está muito satisfeito com o ritmo da campanha de vacinação no Brasil". >
"O presidente acompanha o cenário internacional e vê que em outros países onde a campanha de vacinação já avançou as pessoas já estão flexibilizando o uso das máscaras, e me pediu que fizesse um estudo para avaliar a situação aqui no Brasil', disse. >
"Então vamos atender a essa demanda do presidente Bolsonaro, que está sempre preocupado em relação a pesquisas, tanto que estamos fazendo pesquisas na área de vacinas", afirmou. >
Na mesma noite, Bolsonaro voltou a abordar o assunto em sua live semanal. Naquele momento, já apresentou uma leve mudança no discurso de horas antes. >
Disse que Queiroga "vai fazer um estudo de modo que nós possamos ali sugerir, orientar a desobrigação de uso da máscara para quem já foi vacinado ou para quem já contraiu o vírus". >
"A gente não pode viver numa opressão a vida toda sobre isso daí", afirmou. >
Minutos depois, voltou a tocar no assunto e disse não ter coagido seu ministro da Saúde a abolir o uso de máscaras no país. >
"É o que eu falei para o Queiroga agora. Eu não impus nada para ele, né? Se bem que eu tenho que também dar minhas peruadas ali, no bom sentido. É possível a Saúde apresentar um estudo da desobrigatoridade da máscara para quem já foi vacinado ou para quem já foi contaminado e curado, poxa? Ele falou 'é possível'. É possível, vamos fazer isso. Vamos ficar refém de máscara até quando?", indagou. >
Nesta sexta-feira, em uma rápida interação com os jornalistas na porta do Alvorada, Bolsonaro voltou a insistir na tese de que houve supernotificação de casos de Covid no país, a defender o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus e a difundir desinformação ao afirmar, incorretamente, que as vacinas contra Covid estão em fase experimental. >
Bolsonaro pôs em dúvida sua presença no jogo de abertura da Copa América, domingo (13), em Brasília e atacou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que ameaçou multar o presidente, caso ele não use máscara no sábado (12), durante passeio de motocicleta que fará no estado. >
"Quem é o governador de São Paulo? Desconheço. Virou dono de São Paulo? Doninho? Virou doninho de São Paulo? 'Se vier aqui, eu multo'", disse Bolsonaro, afinando a voz ao simular declaração de Doria. >
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