Publicado em 17 de dezembro de 2019 às 19:36
A ala bolsonarista da bancada do PSL entrou nesta terça-feira (17) com pedido de desfiliação sem perda de mandato no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). >
Os 26 deputados alegam que há justa causa para a saída da sigla, onde afirmam ser perseguidos pela ala ligada ao presidente da legenda, Luciano Bivar (PE). >
Entre eles estão os 14 que foram suspensos pelo diretório nacional do PSL e que ainda se encontram em suas funções partidárias por causa de decisão da Justiça do Distrito Federal da semana passada. >
"O episódio mais recente da perseguição contra os deputados foi a curiosa notificação de vários deputados no intervalo de dois dias. Representações que, ao invés de demonstrar a atuação individual e independente de filiados, foram produzidas com os mesmos termos, acompanhadas de notificações idênticas", afirmam na ação. >
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"Uma ação clara de arranjo para tentar desviar o foco, constranger e intimidar os requerentes, além de camuflar a verdade por traz de tais pedidos de representações ao Conselho de Ética, qual seja, perseguir politicamente os requerentes que, junto com o presidente Jair Bolsonaro, somente solicitaram informações e apresentação de documentos acerca da prestação de contas partidárias, bem como expuseram aos eleitores as mazelas nas contas do partido.">
Além de afirmar que os deputados sofrem perseguição, a peça também critica Bivar, que virou antagonista de Bolsonaro depois da deflagração de uma briga entre os dois em outubro. >
À época, o presidente disse a um apoiador que o deputado e presidente da legenda estava "queimado para caramba", em referência ao escândalo de candidaturas laranjas revelado pela Folha que atingiu a eleição de Pernambuco. >
"Os termos ?auditoria? e ?compliance? simplesmente o apavoram. Não só a ele [Bivar], mas a todos os demais que o seguem e o protegem nessa empreitada absolutista de poder na direção nacional da legenda", afirma o texto. >
Os deputados pretendem deixar o PSL para entrar na Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tenta fundar. >
Como o mandato de deputado federal é considerado do partido, caso apenas pedissem desfiliação, como fez o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), poderiam ficar sem o cargo. Por isso, apostam na tese judicial da justa causa. >
Entre eles estão o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (SP), atual líder do partido na Câmara, e o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (GO).>
Mesmo com um pé na Aliança, Eduardo se propôs nesta terça a apaziguar o PSL.>
As promessas de pacificação ocorreram um dia após o deputado reassumir a liderança da legenda na Câmara, desbancando Joice Hasselmann (SP). Na entrevista, o parlamentar negou que deseje ser líder do partido no próximo ano.>
?Eu não gostaria, está em aberto, eu não gostaria, mas alguns deputados já estão pedindo?, disse Eduardo, que afirmou negociar com congressistas do grupo ligado a Bivar a escolha de um nome de consenso que não seja o seu.>
Eduardo criticou a curta liderança de Joice. Ele acusou a ex-líder de ter tratado mal funcionários do partido alinhados a Bolsonaro.>
?Então vamos mostrar a realidade, quanto ela indicou de emendas parlamentares e quanto os demais deputados indicaram de emendas parlamentares, quanto ela tinha de cargo e quanto os deputados tinham de cargo. O que ela fez aqui no único dia de liderança dela?, disse.>
?Se colocar isso na ponta do papel, vocês vão ver que a pessoa certa para apaziguar isso aqui sou eu. Mas ano que vem não quero ser mais líder não", afirmou Eduardo.>
O deputado declarou ainda que gostaria de migrar para a Aliança, mas que, enquanto o novo partido não for criado, tem que continuar no PSL.>
Também descartou retaliar os deputados ligados a Bivar que permanecem na sigla. ?Falei para o governo para que executasse igualmente as emendas de todo mundo, e todos eles estão nas suas comissões.">
Nos últimos dias, Eduardo e Joice, que representa o grupo de Bivar, voltaram a protagonizar uma disputa pela liderança do PSL na Câmara.>
Na semana passada, deputados da ala bolsonarista tiveram a suspensão homologada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Eduardo, então líder, foi retirado do posto e substituído por Joice.>
Horas depois, a 4ª Vara de Brasília determinou que as punições fossem suspensas até o final da deliberação sobre um processo que pede a nulidade da reunião do diretório. O PSL está recorrendo.>
Segundo a decisão do juiz Giordano Resende Costa, faltou divulgação das informações sobre editais de convocação da reunião.>
Com isso, os 14 deputados bolsonaristas puderam voltar às suas funções partidárias, inclusive a de assinar lista para pedir a mudança de líderes.>
Haviam sido suspensos, além de Eduardo, Bibo Nunes (RS), Alê Silva (MG), Daniel Silveira (RJ) Bia Kicis (DF), Luiz Philippe de Orleans e Bragança (SP), Carlos Jordy (RJ), Vitor Hugo (GO), Filipe Barros (PR), General Girão (RN), Sanderson (RS), Cabo Junio Amaral (MG), Carla Zambelli (SP) e Marcio Labre (RJ).>
Os deputados punidos e advertidos já sinalizaram que pretendem migrar para a Aliança. Esse processo, porém, ainda pode demorar -tanto devido ao trâmite para a criação da nova legenda como devido ao embate jurídico que trata dos riscos de perda do mandato por infidelidade partidária.>
Eduardo Bolsonaro enfrenta ainda processos abertos no conselho de ética da Câmara. Em um deles, Joice o acusa de incitar um linchamento virtual contra ela.>
Outro se deve a uma declaração sobre o AI-5, ato que intensificou a repressão a opositores e à imprensa durante a ditadura militar. Eduardo afirmou em entrevista que, se a esquerda radicalizasse no Brasil, uma resposta pode ser "via um novo AI-5".>
O PSL tem a segunda maior bancada da Câmara, com 53 deputados. O partido está no centro de um escândalo, revelado pela Folha, que envolve o uso de verbas públicas por meio de candidaturas de laranjas em Minas Gerais e Pernambuco.>
O esquema foi revelado em série de reportagens publicadas desde fevereiro. Bivar foi indiciado pela Polícia Federal e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que presidiu o PSL em Minas, foi denunciado pelo Ministério Público mineiro sob acusação de envolvimento nos casos. Ele nega irregularidades.>
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