Publicado em 9 de dezembro de 2019 às 16:34
Considerada uma parlamentar promissora da bancada evangélica no início do mandato, a deputada Flordelis (PSD-RJ) voltou a atuar na Câmara de maneira discreta depois de submergir em meio às investigações da morte do marido, em junho.>
O pastor Anderson do Carmo foi assassinado a tiros na garagem de casa em Pendotiba, Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro.>
Deputada de primeiro mandato, Flordelis era um dos novos nomes fortes da Frente Parlamentar Evangélica na 56ª Legislatura, afirmaram os pares à reportagem.>
Ela chegou a colocar a candidatura para concorrer à presidência da bancada, uma das principais aliadas ideológicas de Jair Bolsonaro no Congresso, com 203 parlamentares. >
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Não subiu ao comando dos evangélicos - desistiu da candidatura em prol de Silas Câmara (Republicanos-AM) -, mas emplacou uma das vice-presidências.>
Mãe de 55 filhos, sendo 51 adotivos e quatro biológicos, foi aclamada por colegas no plenário após discurso sobre adoção, em maio. O clima mudou depois do dia 16 de junho, quando o marido, Anderson - que os colegas de bancada ouvidos afirmam em uníssono ter sido, até então, o comandante do mandato da mulher nos bastidores- foi morto.>
Nos meses seguintes, a deputada submergiu. Voltou ao plenário da Casa em julho, quase um mês depois do crime, quando o desenrolar do caso já havia resvalado a história de conto de fadas. >
Dois dos filhos, um biológico e outro adotivo, confessaram envolvimento no assassinato e foram presos. Membros da família apontaram o dedo para a deputada.>
Em agosto, a polícia afirmou não descartar a possibilidade do envolvimento dela no crime. Por meses, Flordelis passou a ser presença rara no plenário, dizem os pares tanto da bancada evangélica como do Rio de Janeiro.>
A reportagem presenciou sessões em que a congressista marcou presença e deixou o plenário apressada. Quando passava, deixava um burburinho entre os colegas, que especulavam sobre o caso e as implicações da deputada. >
A agenda de adoção também perdeu espaço nas redes sociais da parlamentar, que passou a publicar com menos frequência.>
"Como a nossa Flor está recebendo muitas mensagens negativas, nós, os filhos dela decidimos filtrar as mensagens e repassar apenas as positivas pois o que nossa mãe precisa nesse momento é de apoio e carinho. Obrigada pela mensagem e peço que continue orando por nós e por ela!", dizia uma publicação de julho.>
A bancada evangélica chegou a discutir o afastamento da deputada da posição de vice-presidente, mas desistiu. Em novembro, Flordelis decidiu retomar o ritmo de atividade parlamentar, mas tem evitado holofotes.>
Na sessão solene em homenagem ao Dia do Evangélico, cantou um louvor no plenário - durante a manhã, as sessões têm baixo quorum. As redes sociais também retomaram o ritmo de publicações.>
Cantora gospel, a deputada chegou a Brasília com mais votos do que qualquer outra mulher no estado do Rio de Janeiro. Cerca de 196 mil eleitores foram às urnas em 2018 apoiar a também pastora, fundadora de uma igreja com o nome dela.>
O motivo apontado por colegas para a retomada é o arrefecimento do noticiário sobre as investigações do crime, e a aproximação de 2020, ano eleitoral. Procurada, a deputada afirmou por meio da assessoria que não descarta se candidatar a um posto no Executivo.>
"Essa decisão caberá ao PSD, partido da deputada. Se ela for convocada, avaliará a questão no tempo apropriado", diz a nota.>
A deputada aproximou no início do ano da ala ideológica do governo Bolsonaro. Ela apareceu ao lado da ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) em vídeo sobre a "Cruzada da Adoção", seminário capitaneado por ela na Câmara dos Deputados. >
Até junho, a conta de Flordelis no Instagram era preenchida com poses ao lado de membros do primeiro escalão: além de Damares (na agenda de quem consta duas vezes no primeiro semestre), figuraram o próprio Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sergio Moro, por exemplo. >
Na sessão de 23 de maio, Flordelis subiu à tribuna da Câmara para fazer um discurso inflamado em defesa da adoção. >
"Foi andando pelos becos da favela que eu me deparei com a dura realidade de crianças e adolescentes sendo apadrinhados pelo tráfico de drogas. Decidi descruzar os braços e fazer algo por essas crianças e adolescentes", afirmou ela, recebendo palmas dos colegas de plenário.>
"Eu queria me dirigir à deputada e dizer estou rendendo homenagens a Vossa Excelência", afirmou Édio Lopes (PL-RR) ao microfone, quando Flordelis desceu ao plenário para receber cumprimentos de outros deputados.>
A congressista afirmou ainda que aguarda a conclusão do caso e que não comenta as investigações em curso.>
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