Publicado em 27 de agosto de 2020 às 10:53
Tristeza, indignação, vergonha e medo. Esses são os sentimentos dos brasileiros ao ouvir sobre Amazônia, aponta o Observatório Febraban. >
A pesquisa da Federação Brasileira de Bancos ( Febraban) - Ipespe questionou, por telefone, 1.200 pessoas em todo o Brasil sobre a importância da Amazônia para o país e para o mundo. A margem de erro é de 2,9 pontos percentuais para mais ou para menos.>
Ao se falar em Amazônia, a tristeza é o sentimento principal para 24% das pessoas entrevistadas; 17% sentem indignação e 13%, vergonha. O medo foi relatado como sentimento principal relacionado ao tema por 11%.>
Os sentimentos nada amigáveis são refletidos no descontentamento quanto aos cuidados com a Amazônia. Oitenta e três por cento dos entrevistados dizem estar pouco ou não estar satisfeitos com preservação do bioma, considerado o mais ameaçado do Brasil pelas pessoas ouvidas. A insatisfação se espalha por todas as faixas etárias e todos os níveis de ensino.>
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Talvez por esse motivo, a grande maioria dos brasileiros (88%) se diz preocupada ou muito preocupada com a preservação da Amazônia, que, para pouco mais da metade dos entrevistados, piorou ou piorou muito nos últimos cinco anos.>
Desde 2012, a tendência observada no bioma é de aumento do desmatamento. O movimento de crescimento teve uma aceleração acentuada com o governo Jair Bolsonaro (sem partido). No primeiro ano da Amazônia sob Bolsonaro, houve uma explosão de 34% no desmatamento em relação ao ano anterior (considera-se o período de agosto a julho de um ano comparado ao mesmo espaço de tempo do ano que passou).>
Mesmo com os mais de 10 mil km² de floresta destruída registrados em 2019, não foram anunciadas ações concretas para impedir o desmate, além de operações do Exército na floresta, que não demonstram efeito sobre os índices de desmate ou queimadas. Junto a isso, declarações relacionadas ao meio ambiente vindas de autoridades governamentais não pareciam apontar para a proteção ambiental.>
Um exemplo veio do próprio celular do presidente da República, que mostrou à imprensa uma troca de mensagens entre ele e Sergio Moro, ex-ministro da Justiça.>
Em uma das mensagens era possível ver que o ex-ministro dava explicações ao presidente sobre a destruição de maquinário pelo Ibama. "Coronel Aginaldo [de Oliveira] da FN [Força Nacional de Segurança] também nega envolvimento da FN nas destruições. FN só acompanha Ibama nas operações para segurança dos agentes, mas não participa da destruição de máquinas", diz a mensagem de Moro.>
Na mesma semana em que a mensagem veio a público um agente do Ibama foi agredido com uma garrafada no rosto durante uma operação contra desmate.>
Bolsonaro é um crítico da destruição de equipamentos pelo Ibama -chegando até a desautorizar operação em andamento-, órgão que ele também costuma acusar por uma suposta indústria de multas ambientais - acusação nunca embasada em quaisquer dados apresentados.>
Os dados, porém, continuam a apontar uma situação de desmatamento preocupante. Se em 2019 a destruição da Amazônia já trazia números gritantes, a situação para 2020 será ainda pior.>
Dados do Deter, programa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que aponta desmate em praticamente tempo real para orientar ações de fiscalização, mostram um crescimento de 34% do desmatamento de agosto de 2019 a julho de 2020, em relação ao período anterior. No fim do ano, o Prodes (que serve como o dado final de desmate no ano), portanto, deve registrar um novo aumento considerável da destruição no bioma.>
Enquanto os dados globais apontavam o aumento do desmate na Amazônia, o vice-presidente e chefe do Conselho da Amazônia, Hamilton Mourão, comemorava a redução de desmate em julho, mês que teve registro de 1.658 km² de destruição --para efeito de comparação, o valor equivale a pouco mais de um quarto de todo o desmate registrado em 2015. Em parte a diminuição observada pode ser associada ao fato de que julho de 2019 alcançou uma taxa de desmatamento jamais registrada em qualquer mês da série história recente do Deter.>
Bolsonaro costuma afirmar, mais uma vez sem provas, que maus brasileiros distorcem informações sobre a Amazônia e prejudicam a imagem do Brasil no exterior. O presidente e outros membros do governo também questionam o interesse de estrangeiros em assuntos relacionados à Amazônia.>
A pressão internacional para que o desmate cesse encontra respaldo na opinião de 54% dos entrevistados na pesquisa. Por outro lado, 41% consideram que se trata de um assunto de soberania nacional e que a comunidade internacional não tem o direito de intervir na política ambiental brasileira.>
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