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É escritor, gestor cultural e diretor no IHGES

Viaduto Caramuru, a importância desse gigante restaurado para Vitória

O viaduto foi construído para passagem dos bondes, chegando a receber os trilhos, mas devido a uma curva e também ao receio do sobrepeso na estrutura, nunca foi possível essa utilização

  • Manoel Goes É escritor, gestor cultural e diretor no IHGES
Publicado em 28/09/2023 às 14h41
Viaduto Caramuru é reinaugurado no Centro de Vitória
Viaduto Caramuru é reinaugurado no Centro de Vitória. Crédito: Prefeitura de Vitória/Divulgação

O icônico Viaduto Caramuru, no centro histórico de  Vitória, está sendo entregue após receber uma total restauração realizada pela gestão do prefeito Lorenzo Pazolini. Esse viaduto, único remanescente do século 20, foi construído sobre a rua de mesmo nome ligando a hoje Dom Fernando à rua Francisco Araújo, conectando a cidade baixa à Cidade Alta. Foi batizado Viaduto de São Francisco e construído entre 1924 e 1927, no governo Florentino Avidos.

A rua Caramuru é uma rua histórica e emblemática, que inicialmente foi denominada de Rua do Fogo e palco de uma épica batalha entre os locais, na sua maioria indígenas, contra os holandeses invasores que, derrotados, foram expulsos. A partir de 1872 a Rua do Fogo foi nomeada rua Caramuru, e na década de 1930 foi alargada em mais de 15 metros. Como curiosidade, o viaduto foi construído para passagem dos bondes, chegando a receber os trilhos, mas, devido a uma curva e também ao receio do sobrepeso na estrutura, nunca foi possível essa utilização.

O viaduto Caramuru é um local muito forte na minha memória afetiva e da nossa família. Por ali passamos muitas vezes para visitarmos os pais de papai, meus avós Adelina Araújo, vó Moça e vovô Goes, meu xará Manoel, que residiram toda a vida no final do Morro de São Francisco.

Nos meus cinco primeiros anos de vida, nasci e morei no Morro do Moscoso, passei ainda bebê por essas ruas e alamedas, e também no Caramuru. Vovó Moça era uma lavadeira, líder comunitária, membro da Confraria das Mulheres Pretas da Boa Morte, que fazia parte do grupo dos “peroás”, parte pobre dos devotos de São Benedito.

Havia também os “caramurus” representantes da elite: esses dois grupos, creio que até hoje, participam de uma histórica disputa religiosa e politica entre a Igreja do Convento de São Francisco e a Igreja do Rosário dos Pretos do Centro, e tudo começou na luta pela guarda de imagem de São Benedito iniciada em 1833 até por volta de 1903.

Já o vovô Goes era bombeiro Militar, da primeira Cia. Independente da Policia Militar, tendo nos anos 1930 trabalhado como escafandrista do Corpo de Bombeiros em alguns serviços na fundação da em construção Ponte Florentino Avidos, a nossa “Cinco Pontes”, primeira ligação entre o continente à capital Vitória.

Apesar de aos 5 anos de idade ter ido morar no Bairro da Glória, em Vila Velha, foi mantida a tradição de duas vezes ao mês virmos todos visitar nossos avós, passando o dia no Morro São Francisco, saboreando delícias feitas no fogão a carvão e nas panelas de barro, culinária autêntica capixaba. Depois, mamãe Luzia introduziu a culinária mineira, como mineira que era. A história do papai Antônio Goes e mamãe Luzia Mariano eu estou contando no meu próximo livro “Parque Moscoso 1955”, aguardem! Era um passeio inesquecível. No início, ida e volta de bonde da Glória até Paul, atravessar de bote (catraia), subir a pé até o Morro São Francisco. Assim foi toda a minha infância (anos 1970).

É de importância primordial a preservação e a conservação do rico e belo patrimônio histórico e cultural capixaba. Sabemos das dificuldades e desafios para que o poder publico realize essas ações de cidadania e pertencimento, e todas realizadas são dignas da nossa admiração e respeito.

O Viaduto Caramuru está com 98 anos de muita história e, preservado, manterá aquecido o sentimento de pertencimento e o orgulho de sermos capixabas. Importante que a nossa geração conheça mais as nossas origens e ancestralidades, afinal em 2035 o nosso Espírito Santo comemorará o seu V Centenário, um dos estados mais antigos da federação.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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