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É arquiteto Urbanista e Conselheiro do IAB-ES

Tudo é projeto: como resolver o caos urbano no Brasil

O enfrentamento desse problema perpassa pelo trabalho em áreas carentes. Segundo dados do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAUBR), cerca de 90% da população brasileira carece de projetos de arquitetura e de engenharia

  • Eduardo Pasquinelli Rocio É arquiteto Urbanista e Conselheiro do IAB-ES
Publicado em 29/08/2023 às 15h49
Med Senior
Crédito: Carlos Alberto Silva

O título do artigo remete ao filme “Tudo é Projeto”, produzido a partir do pensamento do arquiteto capixaba Paulo Mendes da Rocha. Sob sua ótica, o desejo de evoluir estabelece a maior das aspirações do homem. Isso nos coloca todos como arquitetos, com discurso e lógica próprios, mas sempre criadores.

A condução e o aparecimento cenográfico do pensamento estabelecem um resultado, a materialização da criação. No campo do Urbanismo, a democratização dos espaços é fundamental para que sejam criados os vínculos emocionais e a sensação de pertencimento ao lugar.

Em paralelo, a teatralidade, a sofisticação e leveza da construção trazem consigo a impressão digital do autor, desse ou daquele arquiteto. A partir dessa constatação nos parece mais compreensível o valor da lógica e da sensibilidade, da sua representação, da sua grafia, do projeto como tradução das linhas do pensamento.

Nas linhas de pensar em sintonia, podemos procurar os semelhantes, estabelecer vínculos e linguagens afins. É como literatura, no pensamento do mestre Paulo Mendes da Rocha. Na contramão do bom senso, vivenciamos a cada dia a perda do valor do projeto. Digo isso como profissional que trabalha há mais de trinta anos com Arquitetura.

O que se tem apresentado é a necessidade do projeto como forma de obter de dados para a elaboração da planilha orçamentária. No pensamento equivocado, projeto é “tudo igual”, tipo desenho técnico. A mesmice toma conta do padrão de exigência, ou no menos ruim dos casos, a repetição na cara de pau é o sinônimo da padronização, de um “pseudo” estilo vigente.

Esse debate vai longe, são muitas variantes, desde a limitação dos recursos até o entendimento de que o projeto é descartável e ponto final. A realidade na produção constante da informalidade nos faz crer que o “jeitinho brasileiro”, que virou senso comum, está mais presente nas nossas decisões do que nunca. Mas como reverter esse processo? Difícil responder.

A formalidade é quase sinônimo de burocracia, de impedimentos e exigências que listam do estritamente necessário ao atendimento de regras dispensáveis. Essa dificuldade, padrão em países desenvolvidos do Mercado Comum Europeu, em muitos casos não se aplica por aqui. Complexo, como estabelecer o mínimo de regramento? Como limitar o que pode ser construído em um ambiente tão descaracterizado e sem padrões urbanísticos?

O enfrentamento desse problema perpassa pelo trabalho em áreas carentes. Segundo dados do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAUBR), cerca de 90% da população brasileira carece de projetos de arquitetura e de engenharia. Um índice assustador e que traduz o caos urbano do país.

Faz-se necessária uma maior inserção dos profissionais de projeto no mercado da construção, faltam melhores soluções, falta acessibilidade, ventilação natural, falta salubridade e segurança.

Como afirmava o arquiteto carioca Maurício Roberto, o futuro da Arquitetura brasileira passa necessariamente pela melhoria dos espaços nas favelas, públicos ou privados. Esse desafio por certo trará consigo a valorização do projeto ao implementarmos a Athis – Lei da Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social– Lei 11888, de forma ampla e irrestrita.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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