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Terceira via não consegue emplacar o herói salvador da pátria

Mas o Brasil de 2022 não precisa de um herói mitológico e salvador. Necessita "apenas" de um candidato comprometido com o fortalecimento democrático

  • Nadine Alves É jornalista
Publicado em 26/05/2022 às 02h00
João Dória fez discurso para falar da sua desistência a concorrer ao Planalto do Plan
João Dória fez discurso para falar da sua desistência a concorrer ao Planalto . Crédito: João Dória/Twitter/Reprodução

A expressão “terceira via” ganhou popularidade no Brasil nos últimos meses. O método da teoria política, remodelado pelo sociólogo inglês Anthony Giddens no final dos anos 90, busca apresentar candidatos que darão respostas às preocupações sociais e as crises da economia capitalista não foram resolvidas pelos líderes políticos atuais.

Aqui no Brasil os partidos que buscam escapar da polarização Lula x Bolsonaro se lançam como terceira via, sejam eles como os candidatos Ciro Gomes (PDT), Eduardo Leite (PSDB), Simone Tebet (MDB) ou o mais recente desertor e ex-governador João Doria (PSDB), que anunciou nesta segunda-feira (23) que não concorrerá à presidência da República.

Uma terceira via possível no país, em um momento tão delicado para a democracia, deveria partir da união de todos os outros partidos que escapam da coligação dos Partidos dos Trabalhadores (PT) do ex-presidente Lula e do Partido Liberal (PL) do presidente Bolsonaro. Porém, caminham a passos lentos na corrida eleitoral, batem cabeça reivindicando para si a placa de terceira via, como se fosse um poder sobrenatural.

Paraleloamente a isso há aqueles eleitores que sentem a falta de representação e não se identificam nem com Lula e nem com Bolsonaro. Nesse vácuo a terceira via tinha grandes chances de nascer, desenvolver e crescer. Emplacando um discurso de diálogo, fortalecimento das instituições e a mais importante, a manutenção da democracia.

No entanto, falta a esses políticos a preocupação que teoriza a terceira via de Giddens. Em seu livro “A terceira via: reflexões sobre o impasse político atual e o futuro da social-democracia", ele explica que a ideia central é preservar a justiça social, aceitando ao mesmo tempo que o âmbito de questões que escapam à divisão esquerda e direita é maior do que antes.

João Doria não foi o primeiro a desistir, antes dele o ex-juiz e ex-ministro de Bolsonaro, Sergio Moro, que também se demonstrava como alternativa fora da polarização, abandonou a ideia. A saída deles do jogo eleitoral só demonstra uma terceira via que não sabe o que está fazendo. Talvez o maior erro desses candidatos seja querer se lançar no ego que o poder político promete. Se apresentam como salvadores da pátria. Mas o Brasil de 2022, por mais estranho que seja escrever isso, não precisa de um herói mitológico e salvador.

Necessita de um candidato comprometido com o fortalecimento democrático. Mais importante ainda, que possa levar para os brasileiros a esperança que há tanto tempo parou de brilhar nos olhos. Talvez no futuro ele possa ser o salvador, mas no momento atual os brasileiros precisam de um candidato sério e dedicado, que valorize questões básicas, como a saúde, educação, justiça social e a ciência. Nada muito extraordinário. O próximo presidente precisa apenas ser humano e garantir a continuidade da democracia.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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