Autor(a) Convidado(a)
É advogada, mestra em direitos e garantias fundamentais e consultora de políticas e direitos para mulheres

Quem tem medo de uma secretaria de políticas para as mulheres?

Homens que tentam ridicularizar a criação de uma pasta de políticas públicas para mulheres não querem que as mulheres estejam ocupando espaços de gestão e decisão e deliberadamente não se importam com a garantia da equidade

  • Renata Bravo É advogada, mestra em direitos e garantias fundamentais e consultora de políticas e direitos para mulheres
Publicado em 29/03/2023 às 14h57

“Por que ter uma secretaria exclusiva para as mulheres?”, questionou um deputado estadual na tarde desta terça-feira (28) na Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo durante a votação do projeto de lei para criar a Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres.

A pergunta do deputado não foi no intuito de realmente entender, mas apenas de justificar seu voto contrário e seu entendimento de que a criação da secretaria seria um “cabide de empregos”, seguindo os argumentos utilizados por outro deputado que disse ainda que a criação da secretaria seria apenas um gasto público, uma bobagem, afinal não resultaria em melhorias para as mulheres.

Houve ainda a sugestão no microfone da criação de uma secretaria para homens, em meio a risos cínicos, tudo isso no Plenário do Poder Legislativo estadual.

Homens que tentam ridicularizar a criação de uma pasta de políticas públicas para mulheres não querem que as mulheres estejam ocupando espaços de gestão e decisão e deliberadamente não se importam com a garantia da equidade entre homens e mulheres.

Será receio de que mulheres sejam reconhecidas publicamente por sua competência e alguns acabem sendo expostos diante da sua incompetência de exercer a mesma função? Será receio de não poder mais fazer “piadinhas” que alimentam a cultura misógina e patriarcal que agride meninas e mulheres em todos os espaços da sociedade? Qual o medo de uma secretaria de políticas para mulheres?

Garantir políticas públicas para mulheres de forma específica não é bobagem ou cabide de emprego; é uma necessidade urgente. A criação da secretaria estadual de políticas para mulheres é um marco e chega até tarde. Precisaremos de secretarias específicas de políticas para mulheres enquanto nós ganharmos em média 20% a menos que os homens, enquanto as moradias precárias no Brasil foram ocupadas em 60% por mulheres, enquanto não alcançarmos a paridade de gênero no Legislativo e Judiciário, enquanto mais de 50 mil mulheres sofrerem algum tipo de violência por dia.

Se a política sempre foi feita por homens e para homens, o olhar específico para as demandas das mulheres não é bobagem, sem relevância ou gasto público; é medida de reparo histórico e de avanço social.

Eu me somo à fala de outro deputado que justificou o seu voto favorável à criação da pasta para que a gente alcance a isonomia, a equidade e possa, no futuro, não mais precisar de uma secretaria específica. Enquanto isso não acontece, precisamos dar nomes, pensar em políticas específicas e garantir a dignidade, a cidadania e os direitos das mulheres capixabas.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais
mulher Todas Elas Mulheres

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.