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É sociólogo, mestre em Ciências Sociais (Ufes) e subsecretário de Estado de Políticas sobre Drogas

Por que o álcool não é tratado como uma droga?

Um levantamento recente do Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) mostrou que 55% da população brasileira tem o hábito de ingerir álcool, e uma em cada três pessoas no país consome bebidas pelo menos uma vez por semana

  • Carlos Augusto Lopes É sociólogo, mestre em Ciências Sociais (Ufes) e subsecretário de Estado de Políticas sobre Drogas
Publicado em 23/02/2022 às 14h00

É muito comum vermos a temática das drogas ser tratada por um viés conservador e com inúmeros preconceitos nos noticiários, em comentários nas redes sociais e até mesmo em conversas informais entre amigos e familiares. O que não é levado em conta, no entanto, é que, ao mesmo tempo que condenamos o uso de drogas como maconha, cocaína e crack, incentivamos o consumo de bebidas alcoólicas em festas e comemorações ou apenas para relaxar ao fim de um dia de trabalho.

Um levantamento recente do Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) mostrou que 55% da população brasileira tem o hábito de ingerir álcool, e uma em cada três pessoas no país consome bebidas pelo menos uma vez por semana. Esse alto consumo, inclusive, pode explicar porque uma das principais multinacionais brasileiras é voltada para a produção de bebida alcoólica e conta com mais de 30 mil funcionários no país.

O que muitos esquecem (ou até mesmo não sabem) é que o álcool também é um tipo de droga, porém lícita. Isso significa que ele pode ser comercializado para maiores de 18 anos, consumido em locais permitidos e está sujeito ao controle e à regulamentação do Estado. O fato de ser uma substância legalizada, no entanto, não a exime de efeitos colaterais.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), droga é qualquer substância não produzida pelo organismo que atua sobre um ou mais dos sistemas do corpo humano, causando alterações em seu funcionamento. O álcool é considerado uma droga depressora, porque causa diminuição nas atividades do Sistema Nervoso Central (SNC). A substância provoca uma certa euforia no início da ingestão, mas logo depois uma sonolência.

É muito comum que as pessoas tenham que aumentar a quantidade ingerida para ter os mesmos efeitos. É o que chamamos de aumento de tolerância. Já a falta de ingestão pode acarretar sintomas indesejáveis e até a síndrome de abstinência, que inclui a manifestação de sintomas como tremores, ansiedade, agitação, irritabilidade e até mesmo depressão.

Os efeitos não param por aí. Segundo dados do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), a ingestão de álcool é o sexto principal fator de risco para a maioria das mortes e incapacidades no Brasil. Além disso, de acordo com um levantamento do Laboratório de Toxicologia Forense, da Polícia Civil do Espírito Santo, das 635 vítimas fatais de acidente de trânsito em 2020, 199 estavam sob efeito do álcool. Há de se ressaltar também os impactos sociais e profissionais provocados pelo álcool. Muitas vezes, a relação com a família, amigos e colegas de trabalho é estremecida.

Diante disso, o Governo do Estado do Espírito Santo desenvolveu o Programa Estadual de Ações Integradas sobre Drogas - Rede Abraço. No Centro de Acolhimento e Ação Integral sobre Drogas (CAAD), cidadãos e seus familiares são atendidos por uma equipe multidisciplinar e encaminhados para a melhor modalidade de tratamento adequada à sua realidade.

A Rede Abraço é uma política pública que visa ao bem-estar e ao cuidado às pessoas com problemas decorrentes do uso de álcool e outras drogas e aos seus familiares, mas também deseja promover um debate sério, sem preconceitos e moralismos, sobre a temática das drogas.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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