"Companheiro, vamos prosseguir para o endereço (...) a fim de atender uma ocorrência de vias de fato em família." No local, os policiais militares se deparam com uma cena chocante, além dos empurrões e xingamentos, o casal morava num cômodo de 13m², crianças de idades entre seis meses a três anos, cheiro forte de cachaça e comida em decomposição, um casal de idosos e a casa em total desordem.
Cenas como essas ou piores se repetem plantões a plantões variavelmente. As ações policiais militares não estão simplificadas a atendimentos meramente focados a prisões de bandidos. Transcendem em muito essa visão midiática do senso comum.
As impressões deixadas no subterrâneo desses profissionais é o que mais importa: a quantas andam suas saúdes mentais?
Em meio a esse contexto, percebe-se muito há fazer. Não somente o tratamento psiquiátrico e psicológico após impactos decorridos, mas, principalmente, a prevenção e o acompanhamento desses pilares ocultos.
Esses rótulos se justificam em função de estarem presentes nas situações mais inóspitas que se pode imaginar. Sombras imersas da sociedade adoecida cujos efeitos chegam ao “190” e são exatamente esses “pilares ocultos” que no exato local estarão, fazendo sol ou chuva nos 365 dias do ano.
A Drª Jacqueline Muniz, em seu estudo “ser policial é sobretudo, uma razão de ser” aponta que os “mundos que os PMs visitam e que constituem o seu próprio mundo policial são difíceis de descrever, são duros de explicar e, em boa medida, são desagradáveis de assistir e de frequentar por muito tempo. É preciso 'ter estômago' para socorrer um homem anônimo caído na calçada sufocando-se em seu próprio vômito. É preciso segurar a sensação de náusea diante de cenas nas quais se encontram indivíduos mutilados, corpos baleados feito peneiras e cadáveres em decomposição”.
Segundo o site da Organização Pan-americana da Saúde, “nenhuma das metas de liderança e governança eficazes para a saúde mental, prestação de serviços de saúde mental em ambientes comunitários, promoção e prevenção da saúde mental e fortalecimento dos sistemas de informação esteve perto de ser alcançada. Em 2020, apenas 51% dos 194 Estados Membros da OMS relataram que sua política ou plano de saúde mental estava em consonância com os instrumentos internacionais e regionais de direitos humanos, muito aquém da meta de 80%”.
No Espírito Santo, percebem-se relevantes iniciativas como a Comissão Permanente de Atenção à Saúde dos Profissionais de Segurança Pública, Defesa Social e Justiça do Espirito Santo e o PL 852/2021 que tramita na ALES referente à política de saúde mental dos agentes de segurança pública.
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Cuidar das mentes dos profissionais de segurança pública significa cuidar dos guetos adoecidos da sociedade. Se esses pilares não estão bem, por efeito, como levar equilíbrio para ambientes inexoravelmente efervescentes? É efeito em cascata: humanos cuidando de humanos. Afinal este é o nosso fim.
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