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É arquiteto e urbanista, gerente técnico da Repsold Arquitetos, conselheiro suplente do IAB/ES e conselheiro estadual do CAU/ES

Os galpões do IBC e o futuro de Jardim da Penha

Há quem acredite que o melhor para aquele terreno é o que gerar mais renda. Contudo, esse pensamento menospreza a capacidade da arquitetura de transformar os espaços

  • Greg Repsold É arquiteto e urbanista, gerente técnico da Repsold Arquitetos, conselheiro suplente do IAB/ES e conselheiro estadual do CAU/ES
Publicado em 17/08/2022 às 16h49
Galpões do Instituto Brasileiro do Café, o IBC, em Jardim da Penha.
Galpões do Instituto Brasileiro do Café, o IBC, em Jardim da Penha. Crédito: Vitor Jubini

A notícia da venda dos galpões do IBC foi recebida com surpresa pela sociedade capixaba em 2020 e diversas entidades logo se mobilizaram para evitar que o espaço, no coração de Jardim da Penha, em Vitória, fosse demolido. Com isso, o imóvel foi provisoriamente tombado pelo Conselho Estadual de Cultura do Espírito Santo e parte dele foi vendida para um grupo de investidores, 6.500 metros quadrados por R$ 16 milhões. Toda essa confusão e você talvez se pergunte: por que preservar os galpões do IBC?

Há quem defenda abertamente que o imóvel não tem qualquer relevância e deve ser demolido para dar lugar a algo novo, quem sabe um condomínio de luxo ou um shopping center.

De fato, existe um déficit habitacional expressivo no país e a construção de habitações é parte integrante do desenvolvimento nacional, no entanto, é difícil imaginar que um terreno como aquele em Jardim da Penha daria lugar a um empreendimento de habitação social, onde está concentrada a maior parte do nosso déficit.

Há quem defenda que o aumento da densidade demográfica no bairro seria benéfico, afinal muitos estudos indicam que o aumento da quantidade de habitantes por m² evita gastos com a expansão da infraestrutura urbana e longas viagens. No entanto, a maioria desses estudos são feitos em países desenvolvidos que gozam de elevada mobilidade e parcelamento de solo completamente diverso do de Jardim da Penha.

Há também quem acredite que o melhor para aquele terreno é o que gerar mais renda. Contudo, esse pensamento menospreza a capacidade da arquitetura de transformar os espaços e, com as parcerias público-privadas, é possível ocupar espaços com equipamentos públicos úteis à sociedade em conjunto com entes privados que com parte do lucro podem auxiliar na manutenção do espaço.

Um exemplo disso é o Sesc Pompeia, em São Paulo. O imóvel também era formado por galpões de uma antiga fábrica de tambores que foram transformados, graças ao icônico projeto da arquiteta Lina Bo Bardi, em um dos espaços culturais mais valorizados da capital paulista, atraindo investimentos para a região e gerando valor para toda a sociedade.

Devemos mirar o exemplo da antiga fábrica de tambores e nos questionar: o que é melhor para Jardim da Penha? Os galpões do IBC fizeram parte da nossa história e cabe a nós, capixabas, debater um novo uso para esse imóvel.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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