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É economista e auditor fiscal da Secretaria Estadual da Fazenda do ES

O futuro do Brasil e as promessas não cumpridas pelo neoliberalismo

É importante observar o que está acontecendo nos EUA, em que pacote anunciado por Joe Biden busca reorientar, com a mão visível do Estado (e não a invisível do mercado), a economia americana

  • Adson Thiago Oliveira Silva É economista e auditor fiscal da Secretaria Estadual da Fazenda do ES
Publicado em 08/05/2021 às 02h00
Indústria, metalúrgica, siderúrgica, fábrica
Desindustrialização tornou estruturas produtivas do Brasil menos dinâmicas . Crédito: Miguel Ângelo/CNI

As ideias neoliberais compiladas no chamado Consenso de Washington, fundamentadas a partir de um texto do economista britânico John Williamson, que nos deixou no último dia 11 de abril de 2021, apontavam para uma agenda de medidas econômicas, recomendadas por instituições multilaterais, para os países que ambicionavam lograr o desenvolvimento alcançado pelas nações mais ricas do mundo.

Essas ideias consistiam, em síntese, no seguinte receituário: disciplina fiscal, taxa de câmbio flutuante, promoção de abertura comercial, liberalização do investimento estrangeiro direto, privatização de empresas estatais e desregulamentação de mercados. Para fazer justiça à memória e obra de Williamson, é preciso registrar que ele chegou a discordar de algumas dessas medidas, como a da abertura da conta externa de capital.

O receituário neoliberal foi comprado, com entusiasmo, por diversos países em desenvolvimento, a partir da década de 1990, sobretudo por aqueles localizados na América Latina, destacando-se, nesse contexto, o Brasil. Digo comprado, pois o preço social que pagamos por isso tem sido altíssimo!

Não sei se por ingenuidade ou embriaguez diante dessas ideias, o certo é que economistas e políticos brasileiros parecem não ter revisitado a história para saber que não foi trilhando o caminho do neoliberalismo que os países ricos alcançaram os seus níveis de desenvolvimento, como bem explica o economista sul coreano Ha-Joon Chang em seu livro "Chutando a Escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica".

Já nos advertia Norberto Bobbio, é bem verdade, que a dificuldade de se conhecer o futuro advém do fato de que projetamos nele as nossas próprias aspirações e inquietações, enquanto a história prossegue o seu curso sendo indiferente aos nossos sentimentos. Isso faz com que, muitas vezes, o resultado realizado seja muito diferente do projetado. Foi justamente isso o que ocorreu! A agenda neoliberal não entregou aos países em desenvolvimento aquilo que havia prometido: o catching up (a convergência para os padrões de renda dos países ricos).

O Brasil, segundo a série histórica do IBGE (1945-1989), crescia a uma taxa média de 6,4% ao ano. De 1990 a 2020, esse crescimento médio foi reduzido para algo em torno de 2,5% ao ano. Essa queda no padrão estrutural de crescimento não foi por falta da adoção de medidas de política econômica neoliberais preconizadas no Consenso de Washington. Pelo contrário, desde a década de 1990 o Brasil tem sido, segundo o economista Paulo Gala, um dos seus maiores adeptos.

Nesse sentido, é muito importante observar o que está acontecendo nos Estados Unidos da América do Norte, de onde vieram essas mesmas ideias neoliberais. O pacote de medidas econômicas anunciado pelo presidente Joe Biden (Bidenomics) busca reorientar, com a mão visível do Estado (e não a invisível do mercado), a economia americana para a obtenção de um padrão de crescimento de baixo para cima, dando forte ênfase às políticas sociais, de valorização do trabalho e de investimento público em infraestrutura.

O balanço do neoliberalismo no Brasil revela resultados muito preocupantes, considerando a forte desindustrialização nesse período, tornando as nossas estruturas produtivas menos dinâmicas e sofisticadas, o que, ao invés de nos aproximar dos padrões socioeconômicos das nações desenvolvidas, afastou-nos ainda mais. Talvez seja o momento de alterar o rumo das coisas, aprendendo, sobretudo, com a história, a fim de não continuar cometendo os mesmos erros.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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