Recentemente a Transparência Internacional divulgou relatório proveniente de pesquisa sobre o Índice de Percepção da Corrupção (IPC), o principal indicador de corrupção do mundo. Produzido desde 1995, o IPC avalia 180 países e territórios e atribui notas em uma escala entre 0 e 100. Quanto maior a nota, maior é a percepção de integridade do país. O Brasil caiu duas posições no ranking mundial de percepção da corrupção e passou a ocupar o 96º lugar, a terceira pior posição em sua série histórica.
Atrás de países como Burkina Faso, Namíbia e Cuba, o Brasil alcançou apenas 38 pontos, abaixo da média global, de 43 pontos, e da média regional da América Latina e Caribe, de 41 pontos. Apesar da Operação Lava Jato, cujo slogan sugeria passar o Brasil a limpo, e das promessas do atual governo de “acabar com a corrupção”, os dados do IPC mostram que o país está estagnado, sem ter feito avanços significativos.
Embora a pesquisa possa ser objeto de críticas, visto que a percepção é uma experiência incompleta, o atual processo de descrédito das instâncias democráticas faz parte de uma estratégia de despolitização da tomada de decisão e subtrai a dimensão da realidade. Nunca discutimos tanto sobre política e nunca fomos dela tão alienados.
Em termos de percepção do que acontece no Brasil, parafraseando o romance de Edwin Abbott, vivemos na Planolândia. Em nossa “realidade bidimensional”, a existência da corrupção é quase imperceptível. Ou porque desconsideramos o fato de que a corrupção é aprendida a partir da interação com outras pessoas (Edwin Sutherland), ou simplesmente porque o presidente declarou que ela magicamente deixou de existir no país.
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E aqui se encontra outro grave problema quando se trata de percepção: a ideia de que o desmonte dos direitos e a erosão da democracia serão capazes de acabar com a corrupção. A realidade revela exatamente o oposto, ou seja, o autoritarismo possibilita níveis maiores de corrupção. Essa talvez seja a lição mais importante para o Brasil das grandes operações de combate à corrupção e dos defensores da ditadura: os altos níveis de corrupção podem e devem ser reduzidos, com o fortalecimento das instituições democráticas.
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