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É diretor do Laboratório Central de Saúde Pública do Espirito Santo (Lacen-ES)

Modernização do Lacen: o legado da pandemia de Covid-19 no ES

O comprometimento do governo do Estado com o Lacen foi estratégico para a modernização e expansão do parque tecnológico, aquisição dos melhores reagentes e a contratação de um quadro técnico altamente especializado em análises moleculares

  • Rodrigo Ribeiro Rodrigues É diretor do Laboratório Central de Saúde Pública do Espirito Santo (Lacen-ES)
Publicado em 04/01/2023 às 13h05

Em dezembro de 2019, foram identificados na China os primeiros casos de Covid-19, e em menos de três meses se tornaram o maior desafio em saúde pública dos últimos cem anos. Em meio a um cenário caótico, que combinava a falta de dados científicos com a escassez de reagentes, insumos, equipamentos e EPIs, foi traçada no Palácio Anchieta uma das mais exitosas estratégias de enfrentamento da pandemia no Brasil.

Naquele momento, nosso maior desafio era garantir o diagnóstico com rapidez para o maior número de pessoas possível. Para enfrentarmos esse desafio, reestruturamos a dinâmica de trabalho do Laboratório Central de Saúde Pública do Estado do Espírito Santo (Lacen-ES), que passou a funcionar ininterruptamente 24h/dia, inclusive aos feriados.

Para prevenir a ocorrência de gargalos operacionais, adaptamos modelos da indústria automobilística ao processo de diagnóstico. Porém, esses esforços seriam insuficientes se o Lacen não tivesse recebido investimentos inéditos em equipamentos, reagentes, insumos e RH especializado.

Lacen já realizou mais de 120 mil testes da Covid-19
Lacen já realizou mais de 120 mil testes da Covid-19. Crédito: Governo do Estado/Divulgação

Enquanto em 2019, o laboratório de vírus respiratórios realizava, em média, 3 reações de RT-PCR/dia, a implementação de uma vigilância laboratorial rápida, precisa e de última geração, permitiu, no auge da pandemia, realizar 4.200 reações em um único dia, 1.400 vezes mais que nossa capacidade original.

Na verdade, estávamos prontos para um cenário muito pior, testar até 10 mil amostras/dia. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), durante a pandemia, a média brasileira de testes para Covid-19 foi de 296.146 por milhão de habitantes. Neste mesmo período, o Espírito Santo realizou 3,8 vezes mais que a média nacional (1.117.875 testes/milhão de habitantes) e 66% dos testes moleculares realizados no ES foram feitos pelo Lacen.

O comprometimento do Governo do Estado com o Lacen foi estratégico para a modernização e expansão do parque tecnológico, aquisição dos melhores reagentes disponíveis no mercado mundial e para a contratação de um quadro técnico altamente especializado em análises moleculares: o verdadeiro legado de nossa gestão.

Assim, em 2021, ainda durante a pandemia, nossa meta passou a ser: incorporar no Lacen-ES todos os exames que historicamente eram enviados para outros estados e cujos resultados demoravam até 60 dias para serem liberados. Com isso, além dos testes de RT-PCR para Covid-19 e para outros 21 vírus respiratórios, o Lacen-ES passou a realizar diagnóstico molecular para tuberculose, meningites bacterianas, monkeypox, varicela, dengue, zika, chikungunya, febre amarela, e doenças transmitidas por carrapatos (doença de Lyme e a febre maculosa).

Implementamos, também, a identificação de bactérias, leveduras e fungos pela técnica de espectrometria de massa (MALDI-TOF). Mas não paramos por aí, com a chegada do verão e o aumento de surtos de gastroenterites virais, iniciamos o ano de 2023 com testes moleculares para o diagnóstico de casos de Norovírus e Rotavírus; e nos próximos dias, disponibilizaremos a detecção molecular de genes de resistência bacterianos.

Desde 2022, passamos a integrar a rede de vigilância genômica do Ministério da Saúde, em parceria com a Organização Pan-Americana (OPAS) e com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Desde então sequenciamos mais de 1000 amostras positivas de Covid-19, incluindo a detecção de novas linhagens da Ômicron, BA.5-like e BA.4-like, e linhagens recombinantes, como a BA.2.12.1, e subvariantes raras e com potencial emergente, como a BE.9, BF.12 e a BQ.1; bem como 20% de todos os óbitos com diagnóstico positivo Covid-19 por RT-PCR.

Além de identificar o surgimento e a circulação de novas variantes, o sequenciamento genético é crucial para o desenvolvimento de diagnósticos mais precisos e vacinas eficazes. O compartilhamento dos genomas sequenciados no Lacen-ES com pesquisadores nacionais e internacionais contribui de forma significativa para o desenvolvimento científico mundial.

Em saúde pública, precisão e velocidade são critérios basilares para o sucesso das ações de assistência e vigilância em tempo oportuno. Por meio de uma gestão responsável e comprometida, o governo do estado do Espírito Santo garantiu que o Lacen-ES tivesse as melhores condições disponíveis no mundo para enfrentar de forma rápida e eficaz os desafios da pandemia de Covid-19, bem como estar preparado para qualquer emergência em saúde pública ainda por vir.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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