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É psiquiatra e diretor clínico da Aube - Cuidados da Mente

Depressão resistente pode ser tratada com medicamento promissor

Para pessoas que não reagem aos tratamentos convencionais, cetamina mostrou eficácia em 70% dos casos. A indicação ou não de qualquer medicamento deve ser feita sempre pelo psiquiatra

  • Fábio Olmo É psiquiatra e diretor clínico da Aube - Cuidados da Mente
Publicado em 30/09/2021 às 02h00
As embalagens devem ser fechadas corretamente para proteger o medicamento.
As embalagens devem ser fechadas corretamente para proteger os medicamentos. Crédito: Reprodução/Freepik

Falar sobre transtornos mentais, apesar de essencial para o bem-estar psíquico de todos nós, ainda é difícil para muitas pessoas. Este ano, depois de tantos meses de pandemia, vimos diversas iniciativas e pesquisas apontarem o aumento expressivo no número de casos de depressão, ansiedade, ideação suicida e compulsões. No consultório, esse aumento foi confirmado, e falar sobre o assunto é fundamental. Mas precisamos também falar sobre as variadas possibilidades de tratamento.

Enquanto médico psiquiatra, atendo pacientes de diferentes idades e situações, buscando tratar o que estão sentindo com consequente melhoria na qualidade de vida. Com este artigo, gostaria de chamar atenção para o que chamamos de depressão refratária ou depressão resistente. Ela é caracterizada pela permanência dos sintomas mesmo após o tratamento com diferentes remédios, em dose e tempo adequados.

Pacientes que passam por isso podem perder a esperança, abandonar o tratamento e, em alguns casos, apresentar ideação suicida. Mas venho lembrar que a medicina evolui todos os dias e novos tratamentos surgem para vencer esses desafios.

Um medicamento usado para cuidar de pacientes com depressão resistente, apresentando bons resultados, é a cetamina (ou ketamina). Ele não é novo – foi originalmente desenvolvido para anestesia – e hoje é tido como essencial pela Organização Mundial de Saúde, utilizado de maneira ampla e segura como anestésico. O seu uso na psiquiatria é estudado há mais de uma década e é cada vez mais promissor.

Estudos mostram que o uso resulta, em muitos casos, numa rápida redução dos sintomas em pacientes com depressão que apresentam ou não ideação ou comportamento suicida. Com a continuidade do tratamento, vemos uma redução contínua dos sintomas, além de prevenir a recaída em pacientes já estáveis.

A partir dos estudos de cetamina, foi desenvolvido uma nova medicação: a escetamina (ou esketamina). No Brasil, o uso psiquiátrico da escetamina teve a aprovação regulada pela Anvisa, para uso via absorção nasal. Vale ressaltar que os estudos que embasaram essa aprovação incluíram mais de 2000 pacientes. Esse, certamente, é um passo importantíssimo para a área de saúde mental e bem-estar em nosso país. A substância atua nos receptores de glutamato, diferente dos tratamentos convencionais, que atuam mais especificamente nas monoaminas (serotonina, noradrenalina, dopamina).

Para pessoas que não reagem aos tratamentos convencionais, ela mostrou eficácia em 70% dos casos. Os avanços da medicina, é claro, vêm com protocolos a serem seguidos a fim de vermos resultados mais eficazes e seguros. A indicação ou não de qualquer medicamento deve ser feita sempre pelo psiquiatra.

Falar sobre saúde mental é fundamental para que pessoas em sofrimento psíquico peçam ajuda e compreendam que existem diferentes possibilidades de tratamento. Não desista do seu bem-estar. Ame e cuide de sua mente!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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