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É diretora executiva do Ideias

Crise da dengue no ES é consequência da falta do saneamento

Falta de infraestrutura adequada na gestão de resíduos, no acesso à água e na coleta e tratamento de esgoto se soma a habitações e sistema de saúde precários para criar um ambiente fértil para a doença

  • Luana Romero É diretora executiva do Ideias
Publicado em 12/04/2024 às 12h46

O Espírito Santo decretou situação de emergência em saúde pública por conta da dengue e se vê diante de uma crise devido ao contínuo aumento nos casos. Embora a dengue apresente um comportamento endêmico desde a década de 80, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) registrou alarmantes 123.243 casos notificados e 17 óbitos em decorrência da doença, segundo dados divulgados no dia 4 de abril, no painel de monitoramento.

Fato é que a proliferação do mosquito Aedes aegypti encontra terreno fértil em ambientes com água parada,  limpa ou suja, podendo até mesmo se proliferar em caixas d’água sem a devida vedação.

A ausência de saneamento básico é vivida por milhões de brasileiros, sabe-se que a gestão inadequada de resíduos sólidos, a falta de acesso à água tratada de forma regular e a ausência de um sistema de coleta e tratamento de esgoto se somam a habitações precárias e a degradação ambiental para ampliar ainda mais o crescimento da doença.

Seguindo o Painel do Saneamento, divulgado pelo Instituto Trata Brasil, mais de 634 mil pessoas no Espírito Santo ainda vivem sem acesso à água tratada, e há também a parcela da população que conta com uma frequência insuficiente de recebimento de água, acarretando o uso de reservatórios por milhares de pessoas. Assim, o armazenamento do recurso hídrico de forma inadequada consolida um cenário preocupante para a expansão da doença.

Considerando que 40% da população do Estado vive sem a coleta de esgoto, pode-se afirmar que a ausência do saneamento potencializa os criadouros de mosquito, já que sem o correto destino do efluente, este acaba sendo lançado in natura ou nos corpos hídricos.

Embora a dengue não tenha endereço certo e acometa todas as parcelas da população, é notório que as comunidades mais vulneráveis arcam com o maior peso da doença. Devido à falta de saneamento, acesso à saúde, habitações precárias e disparidades socioeconômicas, elas estão mais expostas à doença e suas consequências.

Ainda que a dengue impere como um problema de saúde pública, também causa profundas consequências econômicas. Além do valor irreparável com a perda de vidas, altas cifras devem ser vinculadas ao tratamento e à sobrecarga do sistema de saúde, além das perdas de produtividade da população economicamente ativa.

Falta de saneamento básico, um problema que ainda persiste no Brasil
Falta de saneamento básico, um problema que ainda persiste no Brasil. Crédito: Carolina Monteiro/Agência Brasil

O afastamento das atividades laborais representa impactos profundos na subsistência das famílias como um todo, além da produtividade para as empresas. Portanto, investir em saneamento, na urbanização das áreas mais vulneráveis e no acesso a uma infraestrutura de qualidade é também sustentabilidade econômica, cabendo à sociedade como um todo um olhar apurado sobre o tema.

As quatro décadas em que esse tema é rememorado anualmente nos fazem indagar: até quando seguiremos vivendo a consequência da falta de políticas públicas que promovam a inclusão e a saúde da população, principalmente as mais vulneráveis?

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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