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É jornalista e escritora

A cultura da violência e a necessidade de cultivar a paz

Governo e sociedade civil precisam colocar este tema da violência em pauta e pensar mudanças urgentes

  • Isa Colli É jornalista e escritora
Publicado em 28/11/2022 às 03h00
Moradores em Aracruz colocam velas em frente à escola alvo de ataques
Moradores em Aracruz fizeram homenagem em escola alvo de ataques. Crédito: Cristian Miranda

A fala do governador Renato Casagrande que inspira o título deste artigo, vai em direção ao meu sentimento em relação aos terríveis ataques às duas escolas em Coqueiral de Aracruz, Norte do Espírito Santo, que deixaram quatro mortos e 13 feridos. Sou capixaba, sofro com a dor dos familiares e me solidarizo à enorme perda. Lamentavelmente, é mais um atentado a entrar nas estatísticas, protagonizado por um jovem armado.

Levantamento feito pelo Instituto “Sou da Paz” revela que nosso país registrou 12 ataques em escolas nos últimos 20 anos. Destes, cinco ocorreram de 2019 para cá. Em todos, os assassinos eram alunos ou ex-alunos das instituições invadidas. A diretora-executiva da entidade, Carolina Ricardo, afirmou que a maior frequência de assassinatos desse tipo nos últimos anos pode estar relacionada ao aumento de armas nas mãos de civis com um baixíssimo controle. Na Bélgica, país onde vivo metade do ano, já que na outra metade estou no Brasil, uma reportagem da emissora RTL repercutiu a tragédia de Aracruz. A matéria levanta alguns fatores que precisam ser analisados, entre eles, a facilitação do uso de armas.

O governador Casagrande, durante entrevista coletiva, defendeu justamente uma reflexão sobre essa cultura da violência. Ele disse: “Estamos aqui de luto. Perdemos pessoas em um momento trágico. Infelizmente a cultura da violência está nos corações e almas de parte da sociedade. A polarização que temos hoje, a intolerância, o incentivo à violência, os sites de violência, os grupos que se especializam em incentivar a violência na internet, tudo isso nos remete a uma reflexão sobre a cultura da violência e a necessidade que temos de cultivar a paz”.

De fato, não há outro caminho. Governo e sociedade civil precisam colocar este tema da violência em pauta e pensar mudanças urgentes. Precisamos cuidar da saúde mental das nossas crianças.

Se tivermos um olhar mais atento ao atirador, de 16 anos, percebemos que ele já dava sinais de que tinha um perfil bélico e agressivo. Conforme indicam as investigações, o rapaz usou, nos ataques, uma arma da Polícia Militar, que pertencia ao pai, e outra particular. Após ser detido, confessou o crime e disse que o planejava havia dois anos. Especialistas apontaram que o jovem demonstrou facilidade e agilidade no manuseio do armamento.

Outro detalhe chama a atenção: na roupa camuflada que o garoto vestia durante o ataque, havia uma braçadeira com símbolo nazista. Os investigadores tentam identificar se havia relações do adolescente com grupos extremistas, mas não está descartada a hipótese de que o incentivo ao nazismo poderia vir de sua própria casa. Recentemente, o pai do atirador teria indicado a leitura, em uma rede social, do livro "Minha Luta", de Adolf Hitler, genocida que comandou o nazismo na Alemanha. Agora, quando questionado por jornalistas sobre a postagem, ele alegou que achou o livro péssimo. Há de se concordar, no entanto, que só o fato de ter postado livro com tal teor é um ato descabido.

O jovem assassino foi encaminhado a um instituto de atendimento socioeducativo e vai responder por ato infracional análogo aos crimes de tentativa de homicídio qualificada por motivo fútil, que gerou perigo comum e com impossibilidade de defesa das vítimas. Enquanto assistimos chocados ao desenrolar dos fatos, as famílias choram a dor da perda dos seus entes queridos. É preciso falar sobre o que aconteceu em Aracruz, levar o tema da violência escolar para as salas de aula de todo o país e envolver os alunos, educadores e familiares neste debate. Não há outra opção se quisermos evitar novas tragédias.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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