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Quarentena: que tal 'fazer nada' hoje?

Quarentena: que tal 'fazer nada' hoje?

Precisamos falar sobre cobrança por produtividade durante o confinamento e a desvalorização do ócio. Veja as dicas da especialista para tornar o momento mais leve e se permitir viver momentos ‘relax’ durante o confinamento

Publicado em 26 de março de 2020 às 16:39

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Aproveite para assistir
Aproveite para assistir "aquela" série ou fazer uma chamada de vídeo com os amigos. (Shutterstock)

A orientação é se manter em casa, o que muda toda a rotina de muita gente. E no meio disso tudo, surge a necessidade de repensar e reinventar nossas formas de produção. Entramos no Instagram e vemos várias lives sobre produzir daqui, consumir conteúdo de lá. Abrimos revistas online e nos deparamos com títulos do tipo “reproduza este treino em casa”, e essas informações nos bombardeiam a todo momento. A dica do dia é: calma, tá tudo bem não fazer nada no tempo livre da quarentena.

A cobrança por produtividade está mais presente que nunca, principalmente no âmbito virtual. O fato de estarmos em casa, nos traz a falsa ideia de que desaceleramos, quando ,na verdade, estamos a todo momento buscando atividades que nos façam nos sentir úteis. Mas que tal relaxar um pouco? Assistir um filme, fazer carinho no seu pet, dormir ou até mesmo "fazer nada" sem culpa, grandes ideias podem surgir durante o chamado 'ócio criativo'.

A universitária e redatora Larissa Tallon conta que, para ela, essa cobrança por produtividade acontece porque no cotidiano são acumuladas muitas tarefas no decorrer dos dias. E quando isso é pausado compulsoriamente, como agora, acaba gerando um sentimento de culpa por não ocuparmos tanto o nosso tempo com atividades ditas produtivas. “Quando fazemos menos coisas, a sensação é de que não estamos fazendo nada, mas nós fazemos sim, trabalhamos em home office, arrumamos a casa”, diz.

A estudante complementa dizendo que acha interessante a possibilidade de serem realizadas atividades remotas, como cursos online, mas que elas devem ser feitas se o indivíduo se sentir à vontade. “Podemos aproveitar esse momento para refletir sobre tudo o que fazemos nos nossos dias, do que sentimos mais e menos falta, o que nos estressa em nossa rotina comum e se fazer tudo é realmente necessário ou só fazemos tanto para corresponder à essa pressão”, sugere.

O desafio do ‘home office’

Em tempos de isolamento social, várias funções que podem ser desempenhadas de forma remota estão atuando na modalidade “home office”. Nessa forma de trabalho, a sensação da maioria das pessoas é de que precisam produzir mais para comprovar para a própria equipe e/ou empresa que estão “rendendo”, mesmo estando em casa.

Para Larissa, o principal desafio do home office é o fato de não ter uma divisão espacial de cada lugar, para ser tão produtiva quanto no escritório é preciso vencer a todas as tentações do conforto que a própria casa oferece. “Quando estamos em casa, é mais difícil determinar quais são os momentos de trabalhar e os que não são, porque está tudo no mesmo ambiente, não existe aquela sensação de “saí da empresa, é hora de descansar”, isso torna tudo mais confuso”, explica.

"O que te fará bem? É descansar e assistir? Se for, faça isso"

“Não é um problema que alguém seja produtivo, mesmo na quarentena, o problema é quando essa produtividade acarreta prejuízos para nossa saúde, e quando a não produtividade desperta em nós sentimento de culpa”, explica a psicóloga Iara Sanara.

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Quando o assunto é ser produtivo, podemos também considerar, que todos aqueles que podem e estão se mantendo em casa já estão produzindo saúde, para si e para os outros

Iara Sanara
Psicóloga
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O próprio estado de confinamento já é desafiador e, segundo a profissional, isso acontece porque o momento é de mudanças drásticas na rotina, preocupação com a nossa saúde e também de amigos e familiares.  "Alguns ainda precisam lidar com a realidade de terem pessoas que amam mantendo suas atividades externas por necessidade. Tudo isso traz como possíveis consequências sentimentos de tristeza, ansiedade, insegurança", explica Iara.

"Vale lembrar que saúde mental não se refere a ausência de doenças mentais, mas a comportamentos e sentimentos funcionais, que não acarretam prejuízos a vida do sujeito", complementa. A psicóloga deu algumas dicas para 'segurar a barra' e não se render à pressão da produtividade durante o período de quarentena:

  • 01

    Precisamos entender que cada um de nós é um sujeito único

    Somos seres subjetivos com história de vida e característica genética singular. Se somos únicos, porque nos cobrarmos um enfrentamento igual ao do outro? Compreendendo isso, compreendemos também que podemos ter o nosso próprio modo de enfrentamento que pode ser diferente do modo do outro.

  • 02

    Não use aquilo que o outro está fazendo como parâmetro, mas olhe para a situação a partir de você mesmo

    O que te fará bem? É descansar e assistir? Se for, faça isso, o importante não é produzir resultados na sua carreira e vida acadêmica, mas passar por este momento priorizando sua saúde.

  • 03

    Esteja atento à sua saúde mental e previna-se

    É equivocado de nossa parte esperarmos só sentimentos agradáveis neste momento, podem surgir sentimentos ruins, porém o problema se dá quando estes trazem prejuízos para a nossa saúde. E a isso devemos ficar atentos, com alguns comportamentos de prevenção. E se identificarmos esses prejuízos, buscarmos ajuda profissional.

“Quando o assunto é ser produtivo, podemos também olhar por outra perspectiva e considerar, que todos aqueles que podem e estão se mantendo em casa já estão produzindo saúde, para si e para os outros”, completa a profissional.

Rotina e planejamento

O segredo do social media e estudante André Rangel para manter a produtividade no isolamento de forma saudável é manter o horário de atender às demandas do trabalho através de um planejamento. “Mesmo em quarentena, mantive o despertador no mesmo horário dos outros dias. Quando as demandas surgem, eu coloco em uma checklist e vou cumprindo durante meu horário de trabalho, além disso, também respeito meu tempo de descanso e lazer”, conta.

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Precisamos aceitar e lidar com esse momento de acordo com as nossas possibilidades

André Rangel
Universitário e Soacial Media
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Ele conta ainda que está tentando fazer o exercício de internalizar que esta fase vai passar e, enquanto isso é importante se atentar ao fazer o possível. “Eu não posso ficar me cobrando superpoderes para fazer desse o melhor período da vida, porque não é. Precisamos aceitar e lidar de acordo com as nossas possibilidades”, diz.

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