As escritoras Carla Guerson, Natasha Siviero  e  Lívia Corbellari
As escritoras Carla Guerson, Natasha Siviero e Lívia Corbellari. Crédito: Divulgação

A escrita de mulheres faz a gente ver que pode dizer cada vez mais coisas

"Eu acho engraçado e bonito ver o que elas escrevem, porque as mulheres que elas narram são muitas e fortes, mas nenhuma sou eu e todas sou eu"

Tempo de leitura: 3min
Publicado em 02/05/2024 às 14h17
  • Aline Dias

    É escritora e jornalista. Publicou "Vermelho" (novela, 2012), "Além das Pernas" (contos, 2015), "A única coisa que fere é manhã pós-amor" (prosa poética, 2017) e "E se o mundo descostura?" (infantil, 2023), todos pela editora Maré

Uma vez ouvi que tinha muito sangue na “Carne Viva” da Lívia Corbellari, e reparei que tinha mesmo, sangue, carne, corpo. Eu sempre escrevi sobre corpo, mas gosto de ver que o meu corpo é diferente do corpo da Lívia – e que nós duas temos corpos que escrevem.

Esses dias estou lendo a Carla Guerson e todos os tapas d”O Som do Tapa”. Ela traz muitas mulheres, corpos, dores. Na Lívia tem um sangue e uma dor e na Carla uns peitos inchados. O que eu mais amo é que as mulheres delas, as 'eus-líricas' delas, todas desejam e existem humaníssimas.

A primeira mulher que eu vi escrevendo super desejante foi a Natasha Siviero – que também fala de peitos cheios, filhos, dores e raivas. Era um poema curtinho sobre sujeira, que ela disse que não achava bom porque era muito feminino. A gente tinha 18 anos, éramos colegas, eu nunca mais li aquele poema e a Natasha já publicou dois livros cheios de voz de mulher: o “Desmantelo” e o “Baliza de Navio”.

Eu acho engraçado e bonito ver o que elas escrevem, porque as mulheres que elas narram são muitas e fortes, mas nenhuma sou eu e todas sou eu. A Carla tem uma que bota a criança no lixo, a Natasha tem uma que não queria que a água da bolsa caísse no chão, e a Lívia tem uma que morreu mil vezes.

Aline Dias

Autora do artigo

"Eu gosto dessas narrativas que me desobringam de experimentar todas as mulheres do mundo em mim pra poder ser mulher no mundo. Antes não tinha muita coisa, me lembro. Na escola, por exemplo, todos os escritores eram homens. (Menos a Clarice Lispector, mas ela chegou só perto do vestibular)"

E agora, não. Agora cada vez mais eu vejo e leio mais mulheres, como a Carla, a Natasha, a Lívia, com seus projetos novos, com seus sonhos velhos, com seus sangues, leites, raivas, desejos, histórias, poemas.

E eu fico feliz. E eu quero que mais gente fique feliz. Porque quando eu posso de casa, num livro ou num e-reader, ouvir outra mulher, conhecer outras histórias, eu fico menos só, eu fico mais forte, eu fico mais mundo. Cada vez menos aquela menina que acreditava que o discurso feminino demais tinha que ser calado.

Tem que ter sangue, tapa, desmantelo: Lívia, Carla, Natasha. E essa alegria de olho e ouvido que vem quando a gente lê.

Em tempo, a Carla e a Lívia estão para lançar novos projetos. Em maio a Lívia lança uma segunda edição ilustrada de seu "Carne Viva", com poemas e desenhos de Savya Alana (tem uma exposição, também, na Casa Flor, e uns úteros e flores lindos). No mesmo mês, Carla vai estrear na categoria romance com ”Todo mundo tem mãe, Catarina”, a história de uma adolescente criada pela avó servente em um condomínio de classe média que busca respostas sobre a própria vida enquanto convive com prostituição, religião e conflito de classes.

SERVIÇO

"Carne Viva": Lançamento da segunda edição ilustrada do livro de Lívia Corbellari.

  • Quando: nesta quinta-feira (2), às 19h
  • Onde: Casa Flor,  Rua Gama Rosa, 231, Centro de Vitória

”Todo mundo tem mãe, Catarina”:  a pré-venda do livro de Carla Guerson está sendo feita aqui.

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