Publicado em 21 de janeiro de 2025 às 06:44
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que planeja acabar com a "cidadania por direito de nascença" — a cidadania americana automática concedida a qualquer pessoa nascida nos EUA.>
Na segunda-feira, minutos após sua posse como presidente, ele assinou uma ordem executiva abordando a definição de cidadania por direito de nascença, embora os detalhes até agora não estejam claros.>
A cidadania por direito de nascença está prevista na 14ª Emenda da Constituição dos EUA, que afirma que "todas as pessoas nascidas" nos Estados Unidos "são cidadãos dos Estados Unidos".>
Embora Trump tenha prometido acabar com a prática, as tentativas enfrentariam obstáculos legais significativos. A entidade ativista American Civil Liberties Union e outros grupos processaram imediatamente o governo Trump por causa da ordem executiva.>
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A primeira frase da 14ª Emenda à Constituição dos EUA estabelece o princípio da "cidadania por direito de nascença":>
"Todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos, e sujeitas à sua jurisdição, são cidadãos dos Estados Unidos e do Estado em que residem.">
Os críticos da imigração argumentam que a política é um "grande ímã para imigração ilegal", e que encoraja mulheres grávidas sem documentos a cruzar a fronteira para dar à luz, um ato que tem sido pejorativamente chamado de "turismo de parto" ou "ter um bebê âncora".>
A 14ª Emenda foi adotada em 1868, após o fim da Guerra Civil. A 13ª Emenda aboliu a escravidão em 1865. Já a 14ª resolveu a questão da cidadania de ex-escravos libertos nascidos nos Estados Unidos.>
Decisões anteriores da Suprema Corte, como Dred Scott vs Sandford em 1857, decidiram que os afro-americanos nunca poderiam ser cidadãos dos EUA. A 14ª Emenda anulou isso.>
Em 1898, a Suprema Corte dos EUA afirmou que a cidadania por direito de nascença se aplica aos filhos de imigrantes no caso de Wong Kim Ark vs Estados Unidos.>
Wong, de 24 anos, era filho de imigrantes chineses que nasceu nos EUA, mas teve a entrada negada no país quando retornou de uma visita à China. Wong argumentou com sucesso que, por ter nascido nos EUA, o status de imigração de seus pais não afetou a aplicação da 14ª Emenda.>
"Wong Kim Ark vs Estados Unidos afirmou que, independentemente da raça ou do status de imigração dos pais, todas as pessoas nascidas nos Estados Unidos tinham direito a todos os direitos que a cidadania oferecia", escreve Erika Lee, diretora do Immigration History Research Center da Universidade de Minnesota. "O tribunal não reexaminou essa questão desde então.">
A maioria dos estudiosos de direito concorda que o presidente Trump não pode acabar com a cidadania por direito de nascença com uma ordem executiva.>
"Ele está fazendo algo que vai incomodar muitas pessoas, mas, no final das contas, isso será decidido pelos tribunais", disse Saikrishna Prakash, especialista constitucional e professor da Faculdade de Direito da Universidade da Virgínia. "Isso não é algo que ele pode decidir sozinho.">
Prakash disse que, embora o presidente possa ordenar que funcionários de agências federais interpretem a cidadania de forma mais restrita — agentes do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA, por exemplo — isso desencadearia contestações legais de qualquer pessoa cuja cidadania seja negada.>
Isso poderia levar a uma longa batalha judicial que acabaria na Suprema Corte dos EUA.>
Uma emenda constitucional poderia acabar com a cidadania por direito de nascença, mas isso exigiria uma votação de dois terços na Câmara dos Representantes e no Senado e a aprovação de três quartos dos Estados dos EUA.>
De acordo com a Pew Research, cerca de 250 mil bebês nasceram de pais imigrantes não autorizados nos Estados Unidos em 2016, o que representa uma redução de 36% em relação ao pico de 2007. Em 2022, o último ano em que os dados estão disponíveis, há 1,2 milhão de cidadãos americanos nascidos de pais imigrantes não autorizados, descobriu a Pew.>
Mas como essas crianças também têm filhos, o efeito cumulativo do fim da cidadania por direito de nascença aumentaria o número de imigrantes não autorizados no país para 4,7 milhões em 2050, afirma o think tank Migration Policy Institute.>
Em uma entrevista para a rede NBC, Trump disse que achava que os filhos de imigrantes não autorizados deveriam ser deportados junto com seus pais — mesmo que tivessem nascido nos EUA.>
"Não quero separar famílias", disse Trump em dezembro passado. "Então, a única maneira de não separar a família é mantê-los juntos e mandá-los todos de volta.">
Mais de 30 países — incluindo Canadá, México, Malásia e Lesoto — praticam o "jus soli" automático, ou "direito do solo" sem restrições.>
É o caso do Brasil, que pratica o "jus soli" na maioria dos casos, apesar de algumas exceções.>
Outros países, como o Reino Unido e a Austrália, permitem uma versão modificada em que a cidadania é automaticamente concedida se um dos pais for cidadão ou residente permanente.>
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