Publicado em 11 de abril de 2024 às 05:21
O plenário da Câmara decidiu manter a prisão preventiva do deputado federal Chiquinho Brazão, suspeito de mandar matar a vereadora Marielle Franco segundo investigação da Polícia Federal. >
Foram 277 votos a favor de manter a prisão e 129 contra. Houve 28 abstenções. O minímo necessário era de 257 votos.>
Mais cedo, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara já havia votado por manter a prisão. O placar foi de 39 a 25.>
No começo da semana, a defesa de Chiquinho, deputado federal pelo Rio de Janeiro e sem partido, apresentou à CCJ da Câmara um documento em que questionou a legalidade de sua detenção e a jurisdição do Supremo Tribunal Federal (STF) neste inquérito.>
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Cleber Lopes, o advogado de Chiquinho Brazão, fez referência ao artigo 53 da Constituição Federal, argumentando que os parlamentares, após a diplomação, estão protegidos de prisões, exceto em casos de flagrante delito inafiançável.>
Ao ordenar a prisão preventiva do deputado, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, mencionou acusações dos crimes de homicídio e organização criminosa. >
Contudo, o magistrado também fez menção a uma suposta obstrução da Justiça.>
Nesta quarta-feira (10), o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados também deu início ao processo que pode resultar na revogação do mandato parlamentar de Chiquinho Brazão. >
A solicitação para a abertura do processo disciplinar foi apresentada pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), visando investigar a alegada violação de decoro parlamentar.>
A Polícia Federal prendeu preventivamente no dia 24 de março os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, suspeitos de terem sido os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, em 14 de março de 2018.>
Também foi preso Rivaldo Barbosa, que havia assumido a chefia da Polícia Civil fluminense na véspera do crime - e agora é suspeito de ter atrapalhado as investigações.>
As prisões dos três ocorreram pouco após a homologação pelo STF da delação premiada de Ronnie Lessa, ex-PM que confessou ter executado o crime.>
Integrantes de um dos clãs que dominam a política fluminense há décadas, Domingos e Chiquinho Brazão são respectivamente conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) e deputado federal.>
Chiquinho Brazão chegou a ser secretário especial de Ação Comunitária da prefeitura do Rio de Janeiro.>
Ele deixou o cargo depois de o nome da sua família ter sido citado na delação de Elcio Queiroz, ex-PM preso sob acusação de ter dirigido o carro usado no dia do assassinato.>
Foi a menção a Chiquinho que teria levado o caso para o Supremo, Corte onde parlamentares federais têm prerrogativa de foro. Isso aconteceu depois que, por iniciativa do então ministro da Justiça, Flávio Dino, a Polícia Federal se juntou às investigações.>
Chiquinho negou envolvimento com o caso.>
Segundo Lessa, o assassinato de Marielle foi motivado por disputas de terras na zona oeste da capital fluminense.>
Segundo uma fonte da PF ouvida pela BBC News Brasil, a morte teria sido encomendada por conta da resistência feita por Marielle e pela bancada do PSOL, o partido da então vereadora, a um projeto de lei que regularizaria condomínios na zona oeste.>
A região é cheia de construções ilegais e de terrenos cuja propriedade é contestada, promovidas por quadrilhas de milicianos e traficantes. Além disso, tem sofrido ocupação acelerada e especulação imobiliária.>
Domingos Brazão já foi investigado por supostamente tentar atrapalhar as investigações do duplo homicídio, mas foi inocentado. Entretanto, ele segue investigado como mandante do crime. >
O nome de Chiquinho não tinha sido mencionado antes nas apurações, pelo menos publicamente.>
Ao longo dos anos, o caso teve várias idas e vindas, incluindo uma testemunha falsa que teria sido "plantada" para tentar incriminar um chefe de milícia no Rio, a remoção de um dos delegados encarregados pelo caso e o surgimento de diversos nomes de alguma forma implicados na questão.>
Marielle Franco, socióloga e vereadora pelo PSOL>
Marielle Francisco da Silva era vereadora desde 1 de janeiro de 2017. Cumpria seu primeiro mandato, eleita pelo PSOL em coligação com o PCB em 2016 com 46.502 votos. >
Recebeu três tiros na cabeça e um no pescoço, aos 38 anos, na rua Joaquim Palhares, no Estácio, região central do Rio de Janeiro, depois das 21h de 14 de março de 2018.>
O atirador estava em um Cobalt prata, que deixou o local do crime em alta velocidade e nunca foi encontrado. O veículo, segundo apurou a Polícia, foi enviado pelos criminosos para desmonte. >
Graduada em Ciências Sociais pela PUC do Rio, tinha mestrado em administração pública pela Universidade Federal Fluminense, com tese crítica às Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs).>
Negra e lésbica, nascida e criada no Complexo da Maré, um conjunto de favelas na zona norte carioca, militava contra a violência policial, pelos direitos humanos, em defesa da comunidade LGBTQIA+, pelo aborto legal e contra a discriminação racial. Foi, por dez anos, assessora do então deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), criador da CPI das Milícias, em 2007.>
Anderson Gomes, motorista>
Anderson Pedro Mathias Gomes tinha 39 anos e não era o motorista oficial de Marielle. Desempregado, na noite do crime que também o mataria ele fazia um bico ao volante do Agile que servia à vereadora.>
Havia um mês trabalhava para Marielle, substituindo o titular, que estava de licença médica. Ele era casado e pai de um menino, que tinha um ano e dez meses quando seu pai foi assassinado.>
Fernanda Chaves, assessora>
Era chefe de gabinete da vereadora e sobreviveu sem ferimentos graves. Estava no Agile conduzido por Anderson, sentada à esquerda de Marielle, no banco traseiro.>
Não foi atingida, porque os disparos foram dados na diagonal, concentrados na parlamentar, atingindo Anderson por estar na mesma linha reta.>
*Com informações da reportagem de Wilson Tosta>
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