Publicado em 23 de novembro de 2023 às 07:03
Changpeng Zhao ficou conhecido no final de 2022, quando estourou um dos maiores escândalos do mundo das criptomoedas.>
O fundador da Binance, maior plataforma de moedas digitais do mundo, anunciou que considerava comprar sua rival FTX, que estava desmoronando.>
Zhao logo mudou de ideia e deixou seu concorrente sangrar, arrastando o restante das criptomoedas para um declínio vertiginoso.>
Finalmente, a FTX faliu e o seu fundador, Sam Bankman-Fried, foi processado e condenado pelo sistema judicial dos Estados Unidos por fraude e lavagem de dinheiro.>
>
Foi assim que, após o colapso da FTX, Zhao se tornou o novo "rei das criptomoedas".>
Mas não por muito tempo.>
Nesta terça-feira (21/11), Zhao anunciou sua renúncia ao cargo de CEO da Binance, após se declarar culpado por lavagem de dinheiro.>
"Cometi erros e devo assumir a responsabilidade. Isso é o que é melhor para nossa comunidade, para a Binance e para mim", disse ele em mensagem publicada no X, antigo Twitter.>
O Departamento de Justiça anunciou que exigia que a Binance pagasse US$ 4,3 bilhões (R$ 16,6 bilhões) em multas e confiscos e que ajudasse usuários de todo o mundo a escapar das sanções de Washington.>
“A Binance permitiu quase US$ 900 milhões (R$ 4,4 bilhões) em transações entre usuários dos Estados Unidos e do Irã e facilitou milhões de dólares em transações entre usuários dos EUA e usuários na Síria e nas regiões ucranianas ocupadas pela Rússia na Crimeia, Donetsk e Luhansk”, disse um porta-voz.>
O Departamento de Justiça também disse que a plataforma facilitou a movimentação de dinheiro por criminosos e terroristas.>
“Entre agosto de 2017 e abril de 2022, houve transferências diretas de aproximadamente US$ 106 milhões (R$ 520 milhões) em bitcoins para carteiras Binance.com da Hydra. >
A Hydra era um mercado russo na darkweb, frequentemente usado por criminosos, que facilitava a venda de bens e serviços ilegais”, disse o departamento.>
A Binance agora deve relatar atividades suspeitas às autoridades federais.>
“Isso impulsionará nossas investigações criminais sobre atividades cibernéticas maliciosas e captação de recursos terroristas, incluindo o uso de bolsas de criptomoedas para apoiar grupos como o Hamas”, acrescentou o Departamento de Justiça.>
Binance e Zhao estão sob o radar das autoridades desde 2018, mas foi só em junho deste ano que as autoridades americanas apresentaram as primeiras acusações contra eles.>
Richard Teng, chefe de mercados regionais da Binance, foi nomeado o novo diretor-executivo.>
Em uma publicação no X, Zhao disse que “não foi fácil separar-se emocionalmente” da empresa.>
E, como parte do acordo com as autoridades, ele terá que pagar uma multa de US$ 50 milhões (R$ 245 milhões) e ficará impedido de ter qualquer tipo de participação no negócio.>
Mas como Zhao se tornou uma das figuras mais influentes no mundo das criptomoedas?>
Conhecido na indústria como Changpeng “CZ” Zhao, o empresário nasceu na Província chinesa de Jiangsu, em 1977.>
Filho de pais professores, Zhao contou em uma publicação no blog da Binance os problemas que a família dele enfrentou na China na década de 1980 e como ele fugiu do país aos 12 anos, após o massacre da Praça Tiananmen.>
"No dia 6 de agosto de 1989, minha mãe e eu deixamos a China e migramos milhares de quilômetros para o Canadá. Para quem conhece a história chinesa, isso ocorre dois meses depois dos acontecimentos de 4 de junho de 1989", escreveu Zhao.>
"Lembro que a fila do lado de fora da embaixada canadense durou três dias", comentou no blog. "Isso mudou minha vida para sempre e abriu possibilidades infinitas para mim.">
Zhao passou a adolescência em Vancouver, onde trabalhou em vários empregos, inclusive no McDonald's, vendendo hambúrgueres.>
Mais tarde, estudou ciência da computação na Universidade McGill em Montreal e depois estagiou na Bolsa de Valores de Tóquio antes de trabalhar para a Bloomberg Tradebook em Nova York.>
Alguns anos depois, Zhao voltou à China para trabalhar em diversas empresas de tecnologia e em 2017 fundou a Binance.>
Porém, o governo chinês proibiu a operação de plataformas de criptomoedas no país e Zhao migrou novamente, consolidando seus negócios em outras latitudes.>
A Binance entrou nas grandes ligas e rapidamente se tornou a maior plataforma de compra e venda de criptomoedas do mundo.>
No entanto, os problemas ao longo do caminho não demoraram a aparecer. As autoridades britânicas proibiram as operações da Binance em 2022, enquanto nos Estados Unidos foi aberta a primeira investigação legal contra ela por supostas operações ilegais no país.>
Em março, os reguladores americanos tentaram proibir a Binance, alegando que a empresa operava ilegalmente no país.>
O processo da Comissão de Comércio de Futuros de Commodities (CFTC) afirma que a empresa fazia negócios nos Estados Unidos sem registrar-se adequadamente junto às autoridades.>
Acusou a Binance de violar inúmeras leis financeiras dos EUA, incluindo regras destinadas a prevenir a lavagem de dinheiro.>
Na época, a Binance defendeu suas práticas.>
Afirmou ter feito “investimentos significativos” para garantir que os usuários dos EUA não estivessem ativos na plataforma, incluindo o bloqueio daqueles identificados como cidadãos ou residentes dos EUA, ou que tivessem um número de celular nos EUA.>
Depois veio o processo em junho passado, quando a empresa foi acusada de formar uma "extensa rede de enganação" pela Securities and Exchange Commission. A agência disse que a plataforma de negociação e Zhao, seu fundador, ignoraram regras destinadas a proteger os investidores para continuarem operando nos Estados Unidos.>
Na época, a Binance disse que se defenderia "de forma enérgica". Essa defesa terminou nesta terça-feira com a aceitação da culpa por Zhao.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta