Publicado em 10 de março de 2024 às 17:04
Talvez seja a sensação mais enlouquecedora que existe. Se você espetar o seu dedo, pode simplesmente ignorar a dor. Mas tente ignorar uma coceira voraz. Impossível!>
Por que isso acontece?>
Até recentemente, os pesquisadores tinham apenas raspado a superfície, com o perdão da expressão, da ciência da coceira. Mas isso está começando a mudar.>
Agora, os cientistas sabem que a sensação de coceira é transmitida por uma série de processos e neurônios específicos, o que abre o caminho para toda uma nova série de tratamentos.>
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Mas, para início de conversa, por que nós nos coçamos?>
Acredita-se que os mamíferos tenham evoluído originalmente a sensação de coceira como uma espécie de reflexo, que nos ajuda a expulsar patógenos invasores e evitar substâncias nocivas no ambiente.>
Mas, claramente, existe também um aspecto psicológico da coceira que ainda não entendemos totalmente.>
Um exemplo é o fenômeno da coceira contagiosa, que ocorre quando as pessoas veem alguém se coçando e começam subitamente a sentir coceira.>
Em 2011, o professor de dermatologia e médico cientista Gil Yosipovitch, da Escola de Medicina Miller da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, realizou um experimento.>
Ele pediu a testemunhas saudáveis e pessoas com dermatite atópica – um distúrbio que causa coceira crônica – que assistissem a vídeos curtos de pessoas se coçando ou sentadas imóveis. Os participantes receberam injeção de histamina (uma substância que causa coceira) ou uma solução salina inerte.>
Os dois grupos relataram aumento da coceira, mas o fenômeno foi mais pronunciado entre os pacientes com dermatite atópica – 82% deles relataram aumento da sensação de coceira depois de assistir aos vídeos das pessoas se coçando.>
E este fenômeno não se restringe apenas aos seres humanos.>
Em 2013, Yosipovitch demonstrou que, quando macacos Rhesus adultos assistiam a um vídeo mostrando outros macacos se coçando, eles também começavam a se coçar espontaneamente. Isso indica que eles também sofrem de coceira contagiosa, como os humanos.>
Existem até evidências que sugerem que nós e outros mamíferos somos programados para evitar pessoas com coceira. Talvez isso ocorra porque o ato de coçar pode ser interpretado como sinal de infestação ou infecção por um parasita ou doença.>
O médico e neuroimunologista Brian Kim, da Escola de Medicina Icahn em Mount Sinai, nos Estados Unidos, observou, durante um experimento de laboratório, que camundongos tendem a se afastar quando observam outro camundongo se coçando.>
Mas, quando um camundongo observa outro camundongo com dor, eles tentam lamber e cuidar do companheiro. Em outras palavras, parece que eles se aproximam de outros camundongos com dor, mas se afastam dos que têm coceira.>
Do ponto de vista evolutivo, faz sentido. Cientistas acreditam que a coceira tenha evoluído como forma de retirar parasitas, piolhos e ácaros do nosso corpo, evitando infestações.>
Existem evidências de que coçar fornece alguma proteção contra as infecções. Em casas de repouso, por exemplo, onde as pessoas ficam imóveis e não conseguem se coçar, são comuns as epidemias de sarna.>
Em outras palavras, as pessoas que se coçam muito podem inadvertidamente enviar um sinal aos demais de que têm uma infecção transmissível.>
"Acho que, instintivamente, é sobrevivência", afirma Kim. "Moro em Nova York e, se vou ao metrô e vejo alguém se coçando, minha tendência é instintivamente me afastar.">
"Acho que está programado no sistema nervoso de uma pessoa que, se alguém estiver se coçando, ele pode estar infestado com algo que é contagioso. Mas, se alguém estiver com dor, o instinto humano é se aproximar daquela pessoa, é a sobrevivência do instinto tribal.">
Talvez por esta razão, as pessoas que sofrem de coceira crônica relatam sentimentos de vergonha, constrangimento e estigmatização associados à sua condição.>
Muitos deles sofrem de ansiedade e depressão, além de baixa autoestima. Mas, infelizmente, o estresse pode exacerbar a coceira, gerando um ciclo de coceira e ansiedade que nunca termina.>
Mas Yosipovitch afirma que a última coisa que o médico deve fazer é dizer aos pacientes de coceira crônica que parem de se coçar. "É como dizer a alguém que pare de bocejar – você não consegue, é um reflexo", explica ele.>
Mas por que se coçar é algo tão irresistível?>
Uma teoria afirma que, quando nos coçamos, geramos sinais de dor que são enviados para o cérebro. Estes sinais agem como distração, reduzindo a sensação de coceira, mesmo que seja por um segundo.>
Coçar também libera o neurotransmissor serotonina, que pode ser responsável pela sensação agradável. Mas as verdadeiras razões que nos levam a nos sentir tão bem coçando são complicadas e não são totalmente conhecidas.>
"Parece haver algo na forma em que a pele sente ou transmite as informações para o cérebro que a impede de lidar com muitas coisas em um lugar ao mesmo tempo", afirma a professora de dermatologia Marlys Fassett, da Universidade da Califórnia em São Francisco, nos Estados Unidos.>
"O que acontece nas pessoas com coceira crônica é que elas sentem prazer com o ato de se coçar", explica a professora.>
"Os neurocientistas estão interessados pelos neurônios sensoriais do prazer que estimulam a pele, pois interromper aquela coceira prazerosa e o vício de coçar é uma questão terapêutica muito importante.">
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