Publicado em 4 de novembro de 2024 às 05:39
"Conseguir um emprego, me apaixonar e ter minha própria casa.">
Estas foram as ambições de vida listadas por Ellie Lane, depois que o diagnóstico de câncer da mãe desencadeou uma conversa séria sobre seu futuro.>
Existe um receio sobre o que vai acontecer com milhares de adultos com deficiências graves de aprendizagem quando seus pais morrerem.>
Acredita-se que 75% destes adultos nunca saíram de casa, tendo vivido sempre com a família, de acordo com a instituição beneficente Mencap.>
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Mas um grupo de jovens amigos com deficiência está tentando "mudar o sistema" —e construir sua própria casa compartilhada para morar com cuidadores.>
Na casa da mãe, na Península de Gower, no País de Gales, Ellie faz questão de mostrar seu quarto.>
A decoração é toda inspirada na saga Harry Potter.>
O personagem favorito da jovem de 24 anos, Draco Malfoy, aparece em lençóis, pôsteres e em recortes de papelão em tamanho real.>
Ellie espera levar, em breve, esta coleção para sua própria casa.>
Não faz muito tempo, a mãe dela, Jane, foi diagnosticada com câncer.>
Foi o tipo de problema de saúde que motivou uma conversa séria, cujo assunto era: o que Ellie queria exatamente para sua vida?>
A resposta foi simples, como Jane explicou: >
"Ela tinha três ambições. A primeira delas era se apaixonar. A segunda era conseguir um trabalho que fosse remunerado. E a terceira era sair de casa.">
O uniforme de trabalho impecável de Ellie e as fotos sorridentes com o namorado mostram que ela foi bem-sucedida nas duas primeiras ambições.>
A última, porém, como para tanta gente, provou ser muito mais difícil.>
Ellie tem síndrome de Down e diabetes tipo 1, por isso vai precisar de apoio aonde quer que vá.>
Embora os adultos com deficiência de aprendizagem possam solicitar moradia às autoridades locais, as opções são limitadas, segundo Jane, uma enfermeira recém-aposentada.>
Ellie não teria poder de decisão sobre para onde ir ou com quem iria morar.>
De acordo com a Mencap, cerca de três quartos dos adultos com deficiências graves de aprendizagem ainda vivem na casa da família — e os pais deles muitas vezes dizem à instituição que esperam viver mais do que os filhos, por medo de onde eles possam acabar.>
O diagnóstico de câncer deu a Jane um novo "foco", e ela encontrou um grupo de famílias semelhantes nas proximidades (muitas delas de ex-colegas de escola de Ellie), que estavam querendo iniciar algo chamado cooperativa habitacional.>
É um tipo de moradia que existe desde os anos 1800, e inclui casas compartilhadas entre grupos de pessoas com os mesmos interesses — como aquelas que querem viver de forma autossustentável.>
Cada morador tem uma parte igual da casa, e pode opinar sobre como ela é mantida e quem mais mora lá.>
Depois de quase sete anos, o grupo acredita que está a apenas alguns meses de se tornar legalmente uma cooperativa habitacional, o que permitirá a eles ter acesso a subsídios habitacionais para construir sua casa, sem que as famílias tenham que investir dinheiro.>
O grupo, formado por oito famílias, quer que o modelo ofereça a seus filhos uma família substituta, além de um local seguro para viverem depois que seus pais tiverem partido.>
Para Ellie e os amigos, os planos são mais imediatos.>
Eles estão procurando um lugar próximo ao centro da cidade de Swansea, no País de Gales, ideal para sair à noite com os amigos.>
Eles gostariam de ter seu próprio quarto e banheiro, mas compartilhar a cozinha e a sala de estar, com espaço para cuidadores residentes.>
"Eu só quero meu próprio espaço, e viver os melhores momentos da minha vida", diz Ellie.>
"Poderíamos fazer uma reunião só para mulheres — ou uma noitada só para mulheres.">
"Só quero ser mais independente.">
Elin, de 26 anos, planeja morar com Ellie.>
A mãe dela, Alison, também acelerou a busca por um lar de longo prazo para a filha, depois de ficar gravemente doente.>
"Uma das coisas que Elin sempre me perguntou é: 'Quem vai cuidar de mim quando você partir?'", explica Alison, de 59 anos.>
"Ela adora Lego, e adora Disney. Ela aproveita a vida, mas nós somos 30 anos mais velhos que ela. Não é o ideal para uma mulher de 26 anos passar todo seu tempo social com os pais.">
A expectativa é de que os jovens estejam em seu novo lar em 2026.>
Atualmente, o grupo se reúne uma vez por mês para praticar culinária, além de conversar sobre decoração.>
Alison disse que os pais haviam considerado a possibilidade de tentar financiar o projeto por conta própria, mas perceberam que corriam o risco de continuar vinculados à vida dos filhos muito tempo depois de terem a capacidade de ajudá-los.>
"Queremos que esta seja uma nova maneira de fazer as coisas, uma maneira que mude o sistema", diz Alison.>
No País de Gales, existem cerca de 16 mil adultos com deficiências graves de aprendizagem, mas apenas 4 mil deles vivem em acomodações com suporte.>
Acredita-se que os 12 mil restantes (75% do total) ainda vivem com as suas famílias.>
"O que sempre nos surpreende é quando as famílias dizem: 'Espero que morram antes de mim'", explica Wayne Crocker, da Mencap.>
"Ter que pensar nisso é algo terrível para um pai.">
Crocker afirma que a questão da moradia para pessoas com deficiências graves de aprendizagem é "complexa".>
"Muitas pessoas moram com os pais até que, infelizmente, eles falecem", diz ele.>
"Para muitos, isso significa que além do choque e da tristeza de perder a mãe ou o pai, de repente, eles também precisam encontrar acomodações de emergência.">
O governo do País de Gales afirmou estar "comprometido em melhorar a acessibilidade a habitações sociais" — e que tem investido na construção de novas moradias para este fim.>
Acrescentou ainda que fornecia subsídios a autoridades locais e associações habitacionais para adaptar as casas.>
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