Publicado em 29 de março de 2025 às 11:44
A Itália decidiu mudar as regras e restringir os critérios sobre quem tem direito à cidadania do país.>
As alterações foram aprovadas pelo Conselho de Ministros italianos e já entraram em vigor.>
Na prática, agora apenas pessoas com pelo menos um dos pais ou um dos avós nascidos na Itália poderão se tornar cidadãos deste país.>
Anteriormente, não havia esse limite geracional: caso a pessoa interessada em obter essa documentação conseguisse comprovar um vínculo com alguém nascido na Itália após março de 1861 (quando o Reino da Itália foi criado), ele tinha direito à cidadania.>
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Segundo o governo italiano, a decisão tem como objetivo estabelecer limites mais precisos e "evitar abusos", como a "comercialização de passaportes". >
"A cidadania deve ser algo sério", afirmou Antonio Tajani, ministro das Relações Exteriores da Itália.>
As novas regras não mudam nada para quem já possui a cidadania italiana.>
Entenda a seguir todos os detalhes da lei e como ela impacta o Brasil e a América do Sul.>
As medidas aprovadas foram propostas pelo Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional.>
Segundo o órgão do governo, o objetivo é "valorizar o vínculo efetivo entre a Itália e o cidadão residente no exterior". >
Segundo o ministro Tajani, o princípio ius sanguinis — ou "direito de sangue", usado por muitos países como critério para definir quem tem direito à cidadania — não deixará de existir.>
As mudanças serão adotadas em duas fases.>
A primeira delas — que já entrou em vigor — prevê que os descendentes de italianos que nasceram no exterior serão considerados automaticamente cidadãos por apenas duas gerações.>
Ou seja, a partir de agora, somente os indivíduos com pelo menos um dos pais ou um dos avós italianos terão direito à cidadania.>
Na segunda fase do projeto, que já ganhou o sinal verde do governo italiano, serão implementadas medidas para que "cidadãos nascidos e residentes no exterior mantenham vínculos reais com a Itália ao longo do tempo".>
Essas pessoas precisarão "exercer os direitos e os deveres de cidadão pelo menos uma vez a cada 25 anos". >
Ainda não está claro como isso será feito na prática ou a partir de quando essa segunda fase entra em vigor. >
O governo da Itália também prometeu revisar "os procedimentos para o reconhecimento da cidadania". >
A principal alteração aqui é que os interessados em obter documentos italianos não vão mais se dirigir aos consulados. Haverá um "escritório especial centralizado" no Ministério das Relações Exteriores do país, localizado em Roma.>
A perspectiva é que esse processo de transição até a criação do tal escritório leve um ano. >
"Os consulados se concentrarão na prestação de serviços àqueles que já são cidadãos, e não mais na 'criação' de novos cidadãos", pontua um comunicado publicado no site do Consulado Geral da Itália em São Paulo. >
Os consulados italianos espalhados pelo Brasil também informaram que suspenderam todos os agendamentos para o depósito da documentação necessária no requerimento de cidadania, além da marcação de novos pedidos. >
"Novas atualizações serão fornecidas assim que estiverem disponíveis", diz o comunicado.>
A medida pode ter um impacto significativo na América do Sul, especialmente em Brasil e Argentina, países que receberam grandes ondas de imigração italiana na virada dos séculos 19 e 20.>
Dados do Ministério das Relações Exteriores da Itália apontam um "forte aumento nos reconhecimentos de cidadania" nesses locais.>
"Desde final de 2014 até final de 2024, o número de cidadãos italianos residentes no exterior aumentou de aproximadamente 4,6 milhões para 6,4 milhões, representando um crescimento de 40% em 10 anos. Atualmente, há mais de 60 mil processos judiciais pendentes para o reconhecimento da cidadania.">
Ainda segundo o ministério, na Argentina o número de reconhecimentos passou de cerca de 20 mil em 2023 para 30 mil no ano seguinte. >
No Brasil, o total aumentou de mais de 14 mil em 2022 para 20 mil no ano passado. >
"Estima-se que, potencialmente, o número de descendentes de italianos em todo o mundo que poderiam solicitar o reconhecimento da cidadania, com base na legislação vigente, esteja entre 60 e 80 milhões.">
O governo italiano argumenta que a reforma "alinha os critérios para o reconhecimento da cidadania italiana" aos de outros países europeus e vai "liberar recursos para tornar os serviços consulares mais eficientes, permitindo que se concentrem exclusivamente em quem realmente precisa, devido ao seu vínculo concreto com a Itália". >
"O sistema atual compromete a eficiência dos escritórios administrativos e judiciais italianos, que sofrem pressão de pessoas que viajam à Itália apenas para acelerar o processo de reconhecimento da cidadania, o que também favorece fraudes e práticas irregulares", conclui o ministério.>
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