Publicado em 16 de novembro de 2025 às 08:03
O governo da Coreia do Sul finalizou um acordo para construir submarinos de propulsão nuclear em parceria com os Estados Unidos.>
Os EUA aprovaram os "submarinos de ataque" e concordaram em cooperar no fornecimento de combustível, de acordo com um documento divulgado pela Casa Branca na quinta-feira (13/11).>
O acordo representa um passo significativo nas relações da Coreia do Sul com os EUA e surge em meio a um período de crescentes tensões na península coreana envolvendo a Coreia do Norte, que possui armas nucleares, e a China, que tem uma política expansionista.>
Segundo especialistas, a estratégia de Washington é colocar pressão tanto sobre a Coreia do Norte quanto sobre a China.>
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O acordo sobre submarinos entre os EUA e a Coreia do Sul surge após os líderes de ambos os países terem firmado um amplo tratado comercial no início do mês passado, que prevê a redução das tarifas recíprocas de 25% para 15%.>
O presidente dos EUA, Donald Trump, havia imposto uma tarifa de 25% sobre Seul no início deste ano, tarifa que o presidente sul-coreano, Lee Jae Myung, conseguiu negociar para 15%, depois que Seul anunciou que investiria US$ 350 bilhões nos EUA, incluindo US$ 200 bilhões em investimentos em dinheiro e US$ 150 bilhões em construção naval.>
Em um comunicado divulgado pela Casa Branca na quinta-feira, os EUA afirmaram ter "dado aprovação para que a República da Coreia construa submarinos de ataque movidos a energia nuclear... [e que] trabalharão em estreita colaboração para avançar com os requisitos deste projeto, incluindo as formas de obtenção de combustível".>
Em uma publicação anterior em sua plataforma de mídia social Truth Social, Trump havia dito que os navios seriam construídos em um estaleiro na Filadélfia administrado pelo conglomerado sul-coreano Hanwha.>
Apenas seis países possuem atualmente submarinos estratégicos movidos a energia nuclear: os EUA, a China, a Rússia, o Reino Unido, a França e a Índia. O Brasil está desenvolvendo seu primeiro submarino nuclear — o Álvaro Alberto — com data de conclusão prevista para 2029.>
A Coreia do Sul já possui cerca de 20 submarinos, mas todos são movidos a diesel e, portanto, precisam emergir com muito mais frequência. Os submarinos nucleares são capazes de operar distâncias maiores e com maior velocidade.>
"Dei autorização para construir um submarino de propulsão nuclear, em vez dos submarinos a diesel antiquados e muito menos ágeis que eles têm agora", escreveu Trump no Truth Social.>
A Coreia do Sul é uma potência em energia nuclear civil. O país teve um programa de armas nucleares na década de 1970, mas o abandonou após pressão dos EUA.>
Assim, sua capacidade de enriquecer ou reprocessar urânio é limitada pelos EUA, já que a Coreia do Sul depende inteiramente de importações.>
A nova cooperação tem como objetivo reagir à Coreia do Norte, que revelou recentemente estar desenvolvendo seu próprio programa de submarinos nucleares.>
Lee havia dito a Trump em uma cúpula de líderes no mês passado que a Coreia do Sul precisava de submarinos nucleares.>
Em uma entrevista na televisão na semana passada, Ahn Gyu-back, Ministro da Defesa da Coreia do Sul, disse que os submarinos nucleares seriam uma "motivo de orgulho" para a Coreia do Sul e um grande passo no fortalecimento da defesa do país contra o Norte.>
A capacidade bélica dos submarinos nucleares manteria o líder norte-coreano Kim Jong Un "acordado à noite", disse o ministro.>
A Coreia do Norte também tem investido em um programa de submarinos nucleares – possivelmente com a ajuda da Rússia, de acordo com autoridades sul-coreanas.>
Em março de 2025, a Coreia do Norte divulgou imagens do que alegava ser um submarino de propulsão nuclear em construção, mostrando Kim visitando o estaleiro.>
Acredita-se que a Coreia do Norte terá os submarinos nos próximos anos.>
Estima-se que a Coreia do Norte também possua um arsenal de aproximadamente 50 armas nucleares, como parte de seu programa nuclear mais amplo.>
Jo Bee-yun, pesquisadora do Instituto Sejong, sugeriu que a aquisição de submarinos nucleares por Seul ajudará o país a se manter competitivo na crescente corrida armamentista do Leste Asiático.>
"O fato de a Coreia do Norte possuir armas nucleares é comprovado", disse ela à BBC. "A aquisição de submarinos nucleares pela Coreia do Sul é apenas um passo em uma tendência maior de aumento da tensão.">
Não está claro o quanto os submarinos de propulsão nuclear contribuirão para as capacidades de defesa da Coreia do Sul – e, embora sejam muito caros, eles não alteram significativamente o equilíbrio de poder na península coreana, segundo alguns especialistas.>
Yang Uk, pesquisador do Instituto Asan de Estudos Políticos, disse à BBC que o principal objetivo dos submarinos nucleares é assegurar aos eleitores sul-coreanos que seu governo está respondendo à ameaça nuclear da Coreia do Norte.>
"A Coreia do Sul não pode desenvolver suas próprias armas nucleares para se contrapor às da Coreia do Norte", disse Yang. "O que eles podem fazer? Colocar submarinos nucleares em operação.">
Yang acredita que a Coreia do Norte poderá se beneficiar com a mudança, pois ela reforça sua justificativa para manter armas nucleares — o que significa que se tornará mais difícil exigir que Pyongyang abandone seu arsenal nuclear.>
Jo, no entanto, enfatizou a vantagem estratégica que a Coreia do Sul pode obter com o novo acordo de submarinos, descrevendo-o como uma "grande mudança" que "significa que a Coreia do Sul agora é um ator regional".>
"A melhor característica de um submarino nuclear é a sua velocidade", disse ela. "Agora ele pode ir rápido e longe, e a Coreia do Sul pode operar em conjunto com mais países.">
Para Washington, o apoio ao programa de submarinos nucleares da Coreia do Sul provavelmente visa pressionar tanto a Coreia do Norte quanto a China.>
"Trump transferiu o ônus dos gastos com defesa para a Coreia do Sul", explicou Yang. "A Coreia do Sul expandirá consideravelmente seu orçamento de defesa. Ela atuará como representante dos EUA, pressionando a China e a Coreia do Norte.">
Os EUA e a China há muito competem por influência estratégica na Coreia do Sul, deixando Seul numa situação geopolítica delicada. Mais recentemente, a China tem intensificado sua atividade naval perto da fronteira marítima da Coreia do Sul – uma ação semelhante às observadas no Mar da China Meridional.>
Pequim deve estar "furiosa" com o acordo de submarinos nucleares da Coreia do Sul com os EUA, disse Yang.>
Após o anúncio do acordo, o embaixador chinês na Coreia do Sul, Dai Bing, disse esperar que a Coreia do Sul "lidasse com essa questão de forma prudente, levando em consideração as preocupações de todos os lados".>
E acrescentou ainda que Pequim estava dialogando com Seul sobre o assunto por meio de canais diplomáticos, enfatizando que "a situação (de segurança) na Península Coreana e na região ainda é complexa e delicada".>
Embora o presidente Trump tenha afirmado que os submarinos seriam construídos na Filadélfia e trariam empregos para os EUA, as autoridades sul-coreanas têm insistido que eles devem ser construídos localmente, onde as instalações existentes podem entregá-los em um prazo muito mais curto.>
Segundo relatos, o próprio primeiro-ministro da Coreia do Sul, Kim Min-seok, afirmou durante uma audiência parlamentar que o estaleiro de propriedade sul-coreana na Filadélfia "não tinha capacidade" para construir tais embarcações.>
A Hanwha, proprietária do estaleiro, ainda não se pronunciou sobre o assunto.>
Mas agora que um acordo foi alcançado, o próximo passo é ajustar o acordo nuclear entre os dois países, permitindo que os EUA forneçam combustível nuclear e estabeleçam limites para seu uso militar.>
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