Publicado em 21 de setembro de 2024 às 16:44
A legitimidade do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, permanece sendo questionada depois das eleições de 28 de julho, quando foi proclamado vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), alinhado ao governo.>
O chefe diplomático da União Europeia, Josep Borrell, qualificou recentemente o governo de Maduro como "autoritário" e "ditatorial". Já o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, voltou a reiterar o pedido para que as autoridades venezuelanas publiquem as atas de votação detalhadas, possibilitando verificar as apurações.>
Este pedido já foi apresentado repetidas vezes por grande parte da comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos, a União Europeia e dezenas de outros países da América Latina e do resto do mundo, incluindo o Brasil.>
Enquanto o CNE segue não cumprindo com este trâmite indispensável para confirmar os resultados, a oposição publicou mais de 80% das atas eleitorais. Segundo elas, seu candidato, Edmundo González Urrutia, venceu as eleições com ampla vantagem.>
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Apesar dos questionamentos, o líder venezuelano voltou a contar com o apoio de três países importantes no cenário internacional.>
A China, a Rússia e o Irã felicitaram Maduro pelo seu "triunfo" nas eleições venezuelanas, reafirmando o apoio ao seu governo, que foi submetido a sanções internacionais nos últimos anos.>
A Rússia e a China são grandes potências e membros permanentes (ou seja, com direito a veto) do Conselho de Segurança da ONU. Já o Irã é uma potência regional do Oriente Médio e um dos principais produtores de petróleo e gás do mundo.>
Ao contrário do Ocidente, os três governos vêm defendendo constantemente a legitimidade dos mandatos de Maduro. Eles estiveram entre os primeiros países a reconhecer o atual presidente como vencedor das eleições do dia 28 de julho.>
Maduro sempre enaltece os laços mantidos pelo seu governo com os três países, que considera parceiros estratégicos.>
"Temos o apoio de países com tecnologia de ponta em combate de drones e antidrones: nossa irmã Rússia, nossa irmã China e nosso irmão Irã", declarou ele, durante um desfile militar no último dia 5 de julho, em comemoração à independência da Venezuela. "Por isso, que ninguém se engane com a Venezuela. Somos uma nação de paz.">
A BBC News Mundo – o serviço em espanhol da BBC – tentou conversar com os porta-vozes do governo de Maduro, além das chancelarias e Embaixadas da China, Rússia e Irã na Venezuela. Mas não houve resposta até o momento da publicação desta reportagem.>
Qual a importância para Maduro do apoio destes países em uma década de governo? E o que a China, Rússia e Irã ganham apoiando o mandatário venezuelano?>
"Não fosse por estes três países, é muito provável que o governo de Maduro não tivesse suportado a pressão suprema das sanções", segundo Joseph Humire, diretor-executivo da organização Centro para uma Sociedade Livre e Segura, com sede em Washington.>
Humire afirma que a China, a Rússia e o Irã oferecem diferentes formas de apoio ao mandatário venezuelano. "Os três oferecem respaldo político, mas acredito que seu maior apoio é alimentar a economia informal da Venezuela", explica ele.>
"Isso é muito importante, pois, enquanto a economia formal se deteriorava, foi possível utilizar diversos esquemas para fazer com que o país conseguisse combustível, alimentos e outros produtos para suportar a crise econômica.">
Já o pesquisador Evan Ellis, especializado em América Latina da Escola de Guerra do Exército dos Estados Unidos, acredita que o apoio dos três países ajudou Maduro a contornar as sanções internacionais e as ondas de protestos internas.>
"Ao longo destes anos, a China, a Rússia e o Irã contribuíram para a sobrevivência do regime de formas diferentes e, às vezes, complementares", afirma Ellis.>
"Esta combinação do apoio da China no setor econômico, da Rússia na defesa e do Irã para solucionar problemas importantes contribuiu para que Maduro pudesse resistir. Eles ofereceram tanto a cobertura política quanto o apoio econômico.">
Um elemento central do apoio chinês se baseia no volume de crédito oferecido à Venezuela desde a chegada do chavismo.>
Pequim emprestou a Caracas cerca de US$ 59 bilhões (cerca de R$ 320 bilhões), muito mais do que para qualquer outro país de região. O valor representa quase o dobro dos US$ 32 bilhões (cerca de R$ 174 bilhões) emprestados ao Brasil, segundo dados de 2023, publicados pelo centro de estudos Diálogo Interamericano.>
O pagamento dos empréstimos para a Venezuela foi garantido pelas vendas de petróleo no mercado futuro.>
Ellis explica que os fundos foram fornecidos entre 2008 e 2015. A maior parte veio de um tipo de linha de crédito rotativo a três anos, com pagamentos por fornecimento de petróleo.>
"Estes créditos deixaram de fluir em 2012 e foram retomados pouco depois da transição de Hugo Chávez (1954-2013) para Maduro, mas terminaram em 2015", explica Ellis.>
"Desde então e até 2019, a China passou por um processo de consolidação e cobrança. Basicamente, o que ela fazia era receber o petróleo venezuelano, ao ponto de que resta [ao governo de Caracas] pagar apenas cerca de US$ 10 bilhões [cerca de R$ 54 bilhões].">
O especialista explica que, durante esses anos, a China não investiu grandes somas de dinheiro em seus projetos na Venezuela, no setor petrolífero ou de mineração.>
"É preciso destacar que, mesmo sem conceder novos créditos, a China continuou recebendo petróleo venezuelano e, provavelmente, forneceu ao governo venezuelano algum benefício pela continuidade destas atividades nos últimos anos", acrescenta Ellis.>
Quando os Estados Unidos aprovaram sanções contra a Venezuela em 2019, a China tomou medidas para reduzir os riscos a que suas empresas estavam expostas, especialmente companhias como a petrolífera CNPC, que opera globalmente e poderia ser prejudicada.>
"A China tentou então continuar comprando petróleo venezuelano, mas de forma dissimulada", explica Ellis. "Eles usavam empresas independentes que levavam o petróleo para o litoral da Malásia e ali o transferiam para outro navio, antes de transportá-lo para a China.">
Segundo a imprensa especializada em economia e especialmente a agência de notícias Reuters, depois do estabelecimento das sanções contra a Venezuela, houve empresas privadas e refinadores que se dedicaram a comprar o petróleo bruto venezuelano, misturá-lo e alterar sua certificação. Desta forma, ele passava como petróleo malaio no momento da exportação para a China.>
"Foi uma ajuda contínua", prossegue Ellis. "A compra de petróleo por parte da China forneceu um pouco de liquidez ao regime de Maduro, ajudando a garantir que ele tivesse algum dinheiro.">
A cooperação entre os dois países se estendeu para outras áreas. Durante a pandemia de covid-19, a China foi um aliado fundamental da Venezuela, fornecendo máscaras, medicamentos, trajes de biossegurança e purificadores de ar, entre outros insumos.>
A Venezuela também recebeu milhões de doses de vacinas chinesas contra a doença.>
Alguns especialistas destacam que a ajuda de Pequim também facilitou as medidas de controle social aplicadas pelo governo venezuelano, como a dura resposta aos protestos e à oposição.>
"A China vendeu parte do armamento que, agora, é utilizado pelas autoridades para a repressão, como equipamentos de choque e tanques", indica Joseph Humire.>
"Estes grandes veículos militares são fabricados na China", acrescenta Ellis. "E também os veículos com canhões de água, que lançam jatos d'água sobre os manifestantes.">
Os veículos militares mencionados por Ellis são blindados leves VN-4 para transporte de pessoal, fabricados na China.>
Segundo o banco de dados sobre transferência de armas do Instituto de Pesquisas para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês), calcula-se que Pequim tenha enviado cerca de 120 veículos deste tipo para a Guarda Nacional Bolivariana, da Venezuela.>
A China também forneceu tecnologia de vigilância e cibersegurança. Especialistas afirmam que o governo de Maduro utiliza esta tecnologia para controlar dissidentes e opositores.>
O sistema "carnê da pátria", usado pelo governo para oferecer diferentes tipos de apoio econômico para seus cidadãos, foi desenvolvido com o apoio da empresa chinesa ZTE.>
Investigações da imprensa venezuelana indicam que este sistema reúne informações procedentes de inúmeras instituições públicas, do Registro Eleitoral até a fiscalização de impostos. Também inclui dados sobre a titularidade das contas nos bancos estatais, contas nas redes sociais e afiliação política.>
Pequim também ofereceu importante cobertura política para Maduro ao longo dos anos.>
Em 29 de julho, poucas horas depois que o CNE declarou sua vitória nas eleições, a China felicitou o mandatário, ignorando as denúncias da oposição e o fato de que o próprio organismo eleitoral não forneceu o desdobramento dos resultados, que permitiriam auditar a apuração.>
Da mesma forma que em 2019, a China e a Rússia vetaram uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas convocando "eleições livres" na Venezuela, em vista dos questionamentos existentes sobre a reeleição de Maduro para seu novo mandato.>
Politicamente, a China e a Venezuela elevaram o nível das suas relações um ano atrás, estabelecendo uma "aliança estratégica" durante uma visita de Maduro a Pequim.>
Jinsong Chen, jornalista sênior da BBC News China>
A Venezuela é um dos maiores aliados da China na América Latina desde o ano 2000. E Nicolás Maduro correspondeu ao apoio chinês em todas as áreas.>
No dia 28 de junho de 2024, o presidente chinês Xi Jinping e o presidente Maduro trocaram mensagens, comemorando meio século do estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países.>
O presidente Xi declarou que a China e a Venezuela "apoiam-se mutuamente no panorama internacional em mutação, trabalhando juntos para defender a igualdade e a justiça internacional, bem como os legítimos direitos e interesses dos países em desenvolvimento, formando uma amizade 'férrea'".>
Por outro lado, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, declarou que seu país defenderá "consistentemente" o princípio de "Uma Só China", que reconhece Taiwan como parte inalienável da China, apoiando firmemente questões relacionadas à soberania e à integridade territorial chinesa.>
Em meados da década de 2000, a Venezuela se tornou o principal comprador de armamento russo na América Latina.>
O maior volume dessas compras ocorreu entre 2005 e 2013. Até aquele ano, já haviam sido firmados contratos militares no valor de US$ 11 bilhões (cerca de R$ 59,7 bilhões) e outros contratos estavam a ponto de serem concluídos no valor de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10,9 bilhões), segundo as informações publicadas pela empresa estatal russa Rostec.>
A partir de então, a economia venezuelana começou a sofrer forte redução, dificultando a aquisição de novos armamentos. Mas os governos do presidente russo Vladimir Putin e de Nicolás Maduro mantiveram suas relações próximas.>
Em 2014, enquanto a economia venezuelana se contraía, a companhia petrolífera russa Rosneft concedeu à estatal venezuelana de petróleo Pdvsa créditos e empréstimos no valor de cerca de R$ 6,5 bilhões (cerca de R$ 35,3 bilhões). E, dois anos mais tarde, foi entregue mais US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 8,1 bilhões).>
Como garantia, a Venezuela ofereceu 49,9% da empresa refinadora de petróleo Citgo, de propriedade da Venezuela nos Estados Unidos.>
A Rosneft era sócia da Pdvsa em desenvolvimentos petrolíferos conjuntos na Venezuela. E, após as sanções impostas pelos Estados Unidos sobre o governo de Maduro em 2019, a empresa russa passou a ser um dos principais canais de comercialização do petróleo venezuelano objeto de sanções – até 30%, segundo noticiado pela agência Reuters.>
Estas operações fizeram com que uma sucursal da Rosneft sofresse sanções nos Estados Unidos em março de 2020. Para evitar problemas, a empresa transferiu suas operações na Venezuela para outra empresa russa.>
Mas esta decisão não significou distanciamento entre Moscou e Caracas, pelo contrário. Nos últimos cinco anos, o governo de Putin ofereceu inúmeras demonstrações de apoio a Maduro.>
Por fim, o Irã enviou técnicos e peças de reposição para reparar diversas refinarias de petróleo da Venezuela e, com isso, ajudar a aumentar a produção local de gasolina.>
"Isso permitiu a Maduro resolver um problema crítico", explica Ellis: "a falta de combustível em um momento em que o seu país não tinha gasolina sequer para transportar bens essenciais de um lugar para outro.">
O Irã também forneceu alimentos e outros produtos básicos para a Venezuela.>
Em julho de 2020, foi aberto em Caracas o supermercado Megasis. Ele pertence a uma rede que possui mais de 700 unidades no Irã e é chefiada pelo empresário Issa Rezaei – que, na época, era também vice-ministro da Indústria do país.>
Nos últimos anos, Teerã também ajudou Caracas no setor militar, fornecendo armas modernas como drones armados, lanchas rápidas, o lança-mísseis Zolfaqar e mísseis antinavios Nasir-1.>
Joseph Humire relembra que o Irã também ajudou o governo venezuelano a controlar a oposição e os dissidentes com o Basij, uma unidade de voluntários da Guarda Revolucionária Iraniana, "especializada em agir rapidamente para reprimir levantes e mobilizações".>
"Eles levaram este conhecimento para a Venezuela nos anos 2008-2009 e, desde então, continuaram a alimentar estas táticas. O Irã enfrenta levantes constantes no seu país e tem muita experiência em como reprimi-los. Eles levaram este conhecimento para a Venezuela", segundo o especialista.>
Em 2015, Humire abordou este tema em um testemunho perante o subcomitê do Hemisfério Ocidental da Câmara de Representantes dos Estados Unidos.>
Em 2009, ele declarou que o general iraniano Mohammad Reza Naqdi participou de uma reunião de alto nível na Venezuela, com Chávez e Maduro (que, na época, era ministro das Relações Exteriores) para assessorar o treinamento dos chamados "coletivos" – grupos de civis armados, frequentemente encapuzados, que assumiram a missão de "defender a revolução bolivariana" durante o chavismo.>
"Anos se passaram e os resultados deste assessoramento são evidentes nas ruas da Venezuela", destacou Humire. Ele indica que os coletivos haviam melhorado sua capacidade de ação.>
Naqdi se tornaria chefe do Basij posteriormente.>
Ilya Barabanov, jornalista sênior da BBC News Rússia>
A Rússia mantém estreitos vínculos com a Venezuela, desde a época de Hugo Chávez. Naquela época, o país sul-americano foi um dos poucos a reconhecer a Abecásia e a Ossétia do Sul como Estados independentes, o que era conveniente para Putin.>
Durante os últimos 20 anos, a empresa russa Rosneft desenvolveu ativamente a indústria petrolífera venezuelana. E a empresa russa Gazprom extrai petróleo da Venezuela.>
Cuba pode ter sido o principal aliado de Moscou na região durante a era soviética, mas, agora, é a vez de Caracas. Antes da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a companhia militar privada Wagner também iniciou projetos de segurança na Venezuela.>
Em resposta ao apoio, o país nunca vota a favor das resoluções da ONU condenando a agressão russa na Ucrânia.>
Irã e Venezuela mantêm relações formais desde 1960, por serem fundadores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Mas, nos governos de Mahmoud Ahmadinejad e Hugo Chávez, os vínculos entre os dois países cresceram exponencialmente.>
Nos anos 2000, Caracas e Teerã estabeleceram uma aliança estratégica. Foram mais de 180 acordos bilaterais em diversas áreas, com valor total de mais de US$ 17 bilhões (cerca de R$ 102 bilhões).>
Muitos destes acordos ficaram só no papel, enquanto outros foram cumpridos parcialmente e, depois, abandonados.>
As relações entre os dois países perderam impulso após a morte de Chávez e a posterior assinatura, por parte do Irã, de um acordo nuclear com os Estados Unidos e outras potências ocidentais.>
Mas, durante a presidência de Donald Trump nos Estados Unidos, que abandonou o acordo nuclear com o Irã e impulsionou sanções ao petróleo venezuelano, as relações entre Caracas e Teerã recuperaram parte do seu dinamismo. O Irã passou a desempenhar papel importante, apoiando Nicolás Maduro.>
"A ajuda prática mais concreta para a sobrevivência do governo de Maduro nos últimos anos foi oferecida pelo Irã", relembra Evan Ellis.>
Quando Maduro precisou enfrentar as sanções de 2019-2020, o Irã retomou suas relações com a Venezuela.>
Ellis destaca que, inicialmente, houve um acordo para que o Irã enviasse componentes químicos necessários para a produção de gasolina no país sul-americano, em troca de "ouro ilícito" venezuelano.>
Depois que os Estados Unidos impuseram sanções sobre o petróleo venezuelano, o governo de Maduro recorreu ao ouro como meio de pagamento internacional – tanto o ouro das reservas internacionais do país quanto o metal extraído das minas venezuelanas.>
O ouro foi usado em operações que não foram divulgadas ao público – em parte, devido às próprias sanções. Segundo a agência de notícias Bloomberg, os países de destino dos pagamentos ou remessas de ouro teriam sido o Irã, Rússia, Turquia e os Emirados Árabes Unidos.>
O Irã e a Venezuela também trocaram petróleo bruto pesado venezuelano por petróleo iraniano mais leve, para auxiliar a produção de combustível na Venezuela.>
Por fim, o Irã enviou técnicos e peças de reposição para reparar diversas refinarias de petróleo da Venezuela e, com isso, ajudar a aumentar a produção local de gasolina.>
"Isso permitiu a Maduro resolver um problema crítico", explica Ellis: "a falta de combustível em um momento em que o seu país não tinha gasolina sequer para transportar bens essenciais de um lugar para outro.">
O Irã também forneceu alimentos e outros produtos básicos para a Venezuela.>
Em julho de 2020, foi aberto em Caracas o supermercado Megasis. Ele pertence a uma rede que possui mais de 700 unidades no Irã e é chefiada pelo empresário Issa Rezaei – que, na época, era também vice-ministro da Indústria do país.>
Nos últimos anos, Teerã também ajudou Caracas no setor militar, fornecendo armas modernas como drones armados, lanchas rápidas, o lança-mísseis Zolfaqar e mísseis antinavios Nasir-1.>
Joseph Humire relembra que o Irã também ajudou o governo venezuelano a controlar a oposição e os dissidentes com o Basij, uma unidade de voluntários da Guarda Revolucionária Iraniana, "especializada em agir rapidamente para reprimir levantes e mobilizações".>
"Eles levaram este conhecimento para a Venezuela nos anos 2008-2009 e, desde então, continuaram a alimentar estas táticas. O Irã enfrenta levantes constantes no seu país e tem muita experiência em como reprimi-los. Eles levaram este conhecimento para a Venezuela", segundo o especialista.>
Em 2015, Humire abordou este tema em um testemunho perante o subcomitê do Hemisfério Ocidental da Câmara de Representantes dos Estados Unidos.>
Em 2009, ele declarou que o general iraniano Mohammad Reza Naqdi participou de uma reunião de alto nível na Venezuela, com Chávez e Maduro (que, na época, era ministro das Relações Exteriores) para assessorar o treinamento dos chamados "coletivos" – grupos de civis armados, frequentemente encapuzados, que assumiram a missão de "defender a revolução bolivariana" durante o chavismo.>
"Anos se passaram e os resultados deste assessoramento são evidentes nas ruas da Venezuela", destacou Humire. Ele indica que os coletivos haviam melhorado sua capacidade de ação.>
Naqdi se tornaria chefe do Basij posteriormente.>
Farshad Bayan, editor da BBC News Persa>
A pressão global liderada pelo Ocidente sobre o Irã, devido ao seu programa nuclear, trouxe a aproximação entre os dois governos.>
A presidência de Mahmoud Ahmadinejad em 2005 e sua forte postura antiocidental consolidaram esta relação e promoveram a estreita amizade pessoal entre Hugo Chávez e o líder iraniano. Estas fortes relações prosseguiram depois da morte de Chávez e sua sucessão por Nicolás Maduro.>
Mas, depois do acordo nuclear entre o Irã e as potências globais, lideradas pelos Estados Unidos, houve uma sensível redução do interesse iraniano por buscar vínculos estreitos com a Venezuela. Isso demonstra o argumento de que a cordialidade das suas relações é consequência da sua hostilidade aos Estados Unidos e da sua intensa percepção daquele país como ameaça existencial.>
Com a retirada dos Estados Unidos do acordo nuclear e a reimposição do embargo petrolífero americano e de outras sanções em maio de 2018, Teerã voltou a recorrer à Venezuela.>
À medida que as sanções afetavam cada vez mais os dois países, seus governos tentaram neutralizar suas consequências econômicas. E o governo iraniano, que tinha mais experiência em evitar as sanções americanas, tentou estender sua mão à Venezuela.>
Em junho de 2022, Maduro visitou Teerã pela primeira vez em seis anos. Ele havia chegado à conclusão de que o poder e a influência dos Estados Unidos e da Europa ocidental estavam em declínio.>
Esta era a mesma música que os líderes iranianos vinham tocando há algum tempo.>
Maduro declarou que, durante a reunião com o então presidente iraniano Ebrahim Raisi (1960-2024), foi discutido um documento de cooperação estratégica de 20 anos. O Irã iria ajudar a Venezuela a diversificar seu setor energético.>
Os detalhes dos documentos de cooperação estratégica foram anunciados durante a visita de Raisi à Venezuela, em junho de 2023.>
A parte mais realista da discussão girou em torno da ajuda iraniana ao desenvolvimento da indústria petrolífera venezuelana, que dependia, em grande parte, dos investimentos e da tecnologia estrangeira, especialmente dos Estados Unidos.>
Considerando que o próprio setor energético iraniano trabalha com tecnologia petrolífera obsoleta, se os projetos realmente seguirem adiante, poderão ser considerados apenas medidas temporárias, até que a Venezuela volte a estar aberta para fazer negócios com o Ocidente.>
No âmbito internacional, os dois países coordenaram suas posições. E, neste particular, a Venezuela fez a maior contribuição.>
Ante as críticas cada vez maiores contra Teerã pelo seu desempenho em termos de direitos humanos, Caracas se mostrou firme na sua defesa e votou contra qualquer crítica contra o país aliado.>
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